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21 de jun. de 2011

O Poeta e a Cega / Parte 1





Anna e Peter eram primos, conviveram juntos desde os cinco anos. Quando Peter completava onze anos, Anna completava nove... Exatamente na mesma data. Peter era apaixonado por poemas... Musicas, por teatro. Anna ficava fascinada ao vê-lo tão empolgado, interpretando cenas de filmes que assistia. Ficava sentada o observando por muito tempo. 
Numa noite com insônia Anna se levantou para tomar um copo de leite morno e ouviu uma conversa de sua mãe com a sua tia, mãe de Peter.
- Não podemos mais ficar aqui, Judite... Temos que ir. - Disse sua tia.
- Espere Peter ficar mais velho, o suficiente para cuidar de você.
- Eu não posso, vou me virar enquanto isso... Amanhã de manhã partimos. - Anna ficou muito chateada mais engoliu o choro, ficou no quarto observando Peter dormir. Chorou, por dor... Por medo, por não saber o que fazer agora que Peter estava indo embora. E acabou dormindo. Quando acordou notou que estava na cama onde Peter dormia, o guarda-roupa estava vazio e não havia ninguém ali.
No criado mudo que estava ao lado da cama estava um pequeno livro de poemas e uma rosa.
"Ele se foi"... Ela pensou. Ficou tão chateada e correu até a cozinha para procurar sua mãe, se escorregou e bateu sua mão em uma panela de agua quente fazendo espirrar sobre seu rosto a deixando cega. 
Na época não havia muitas soluções... E tudo havia acontecido muito rápido. Judite a mãe de Anna ficou muito triste com tudo que havia acontecido. Sabia que sua filha e seu sobrinho eram bastante ligados... O que fazia Anna não se motivar em melhorar. 
O tempo se passou e Anna faria dezessete anos. Acostumada com o lugar onde vivia, poderia andar já sem se esbarrar, conseguia distinguir cheiros, e sentia quando alguém se aproximava... Desde que ficara cega o que ela podia fazer era sentir.
Judite estava doente, mesmo assim ajudava a filha quando podia. No aniversário de Anna achando que ninguém a visitaria, e que seria monótono como todos os outros aniversários. Ela se sentou na sala e ficou ouvindo musica, aquilo a tranquilizava. 
Ouviu um bater de botas no assoalho de madeira e se virou para direção de onde vinha o som.
- Quem está ai? - Ela perguntou.
- Não está se lembrando de mim?
- Talvez se eu pudesse te ver.
- Sou eu Anna... Peter. - Anna sentiu seu estomago embrulhar, seus dedos ficarem firmes e frios e sentiu também a ponta do nariz soar. Ela ficava daquela forma quando ficava nervosa.
- Pe... Peter? O que você esta fazendo aqui?
- Vim comemorar nosso aniversário. Se esqueceu? Vim também morar um tempo aqui. A tia Judite me convidou.
- Ela não me disse nada.
- Eu pedi. - Anna sentiu que Peter saia do lugar onde estava e se aproximava dela. - Eu quero te ajudar Anna. - Ele disse.
- Eu não preciso de ajuda. 
- É claro que precisa. Todos nós precisamos.
- Tudo bem, me inclua fora.
- Olha, eu prometo ficar num canto em silencio apenas escrevendo meus poemas.
- Poemas? Você...
- Sim... Eu sou um poeta.
- Eu queria poder ver... Escrever. No entanto eu sou posso sentir.
- É o que todos deveriam fazer.
- Escrever?
- Não... Sentir. Muito mais que ver e escrever... Deveriam sentir.

Continua...