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9 de jan. de 2012

Eu não sou algo que você pode concertar / O Poeta e a Cega – Parte 22



Anna não viu Peter outra vez, e nem tinha certeza se queria aquilo. Ela não havia conseguido dormir pensando em como Peter era diferente de como ela imaginava. Não mais alto, nem mais baixo. Não conseguia definir, mas algo havia a desapontado por dentro. Talvez o fato dele ter simplesmente ido, de não ter insistido e ficado com ela. Ele se foi, não olhou para traz e nem sussurrou “Quero te ver outra vez.
-Talvez porque ele não quisesse me ver outra vez. – Ela disse em voz alta sem perceber.
Caminhou de um lado pro outro no quarto e ficou de frente a um espelho que ocupava grande parte da parede. “Talvez eu não seja o que eu imaginava também...” Ela pensou e passou os dedos sobre seus cabelos, quis fazer uma trança mais achou que aquilo seria só um modo de relembrar o passado, enquanto parte do passado voltava.
Fez um coque mal feito na nuca e desceu as escadas. Annabelle estava com Mila, Anna foi até elas e beijou Mila que ria sem parar.
- Darei um banho na Mila, Senhora. Logo estarei de volta e a deixo com você. – Anna assentiu e riu enquanto fazia careta para Mila rir.
Foi até a cozinha procurar algo para comer, mas assim que estava a caminho alguém bateu na porta. Esperou que algum dos empregados atendesse mais ninguém apareceu e ela mesma atendeu.
- Olá Anna.
- Peter! – Outra vez aquela sensação de derretimento, aquele frio inexplicável fazia seu peito arder e ela não sabia o que falar.
-Podemos conversar? – Ela pensou mesmo em correr para o quarto e só sair de lá quando soubesse o que queria, mais concordou com ele e eles foram para o jardim da casa. Ainda estava frio, não tão frio quanto quando chegaram, mas não dava para sair sem casaco. Eles andaram até chegar numa arvore sem folha alguma. Dali ela podia ver varias montanhas, era tudo tão verde e quieto.
 Peter esfregou as mãos uma na outra e começou a falar:
- Você chegou que dia?
- Ontem, assim que chegamos fomos nos arrumar para irmos prestar solidariedade a você. – Peter arqueou as sobrancelhas como se perguntasse “Solidariedade?” e continuou.
- Eu ouvi boatos sobre você. – Ele limpou a garganta, provavelmente tentando ganhar tempo para saber exatamente o que dizer e continuou. – Que você se casou com um medico e foi morar no Brasil.
Anna sentiu o rosto arder. Ele sabia. É claro que ele sabia. Não havia como não saber. Ela concordou com a cabeça.
-Sim, é verdade. E eu preciso te contar uma coisa.
- Anna eu não acredito que você se casou. – Ele disse, já estava quase gritando.
- Shhhh. – Ela tentou fazer ele se calar mais ele estava muito nervoso.
- Shh? Não faz shh pra mim. Como você pode se casar?  Achei que você esperaria por mim.
- Peter eu... – Assim que Anna tentou se explicar Annabelle chegou e entregou Mila para ela.
- Aqui está sua filha, Senhora. Está bem limpinha. E... – Foi o que faltou para Peter explodir. Ele passava a mão entre seus cabelos e os deixava mais bagunçados ainda.
- Você tem uma filha? – Ele gritou. E Annabelle entendeu que devia sair. Assim que ela saiu Anna continuou.
- Nós temos uma filha. Nós. Era isso que eu estava tentando te dizer.
- Há há há. – Ele ria cheio de ironia, e isso foi fazendo Anna perder a paciência. – Quer que eu acredite nisso? Você foi rápida Anna Moore, mais do que eu imaginava. Como foi? Amor a primeira vista?- Ele ria amargurado. Ele estava nervoso, ela sabia. Mais não iria ficar ouvindo aquilo.
- O que você quer dizer com isso Peter?
- Quero dizer que bastou você voltar a enxergar pra se engraçar com aquele doutorzinho, não foi? “Vamos experimentar agora que eu posso enxergar.” Quer saber? Eu prefiro você cega! – Foi o que bastou Anna deu um tapa no rosto de Peter que ficou em silencio a observando cheio de ódio.
- Eu não preciso que você acredite que Mila seja sua filha. Eu não preciso que você a aceite porque você é só um garotinho e Mathew é um homem, ele com certeza será um pai melhor que você. Sabe por que Peter? Porque desde quando meu pai me trouxe pra cá eu estava grávida, e Mathew aceitou ser o meu marido, aceitou assumir uma filha que não era dele. E esteve do meu lado me ouvindo dizer o quanto eu sentia sua falta. Ele me ama, me ama ao ponto de aceitar todas as minhas idiotices, todos os meus erros. E sinceramente? Eu o amo também. – Isso havia sido pior que o tapa que ele ganhara. Havia sido pior que socos no estomago. Era pior que enxaquecas e noites mal dormidas, tudo junto.
-Se... Se ela for mesmo a minha filha, eu quero que ela vá morar comigo. – Ele disse com a voz tremula e parou parar olhar aquela garotinha que lembrava muito uma foto de Anna quando ela era só um bebê mais os olhos dela eram idênticos a os dele. A garotinha sorriu para ele e Peter acreditou nas palavras de Anna, mais era tarde demais.
- Ah, você quer? Começa virando homem. Porque uma criança não pode cuidar de outra. – Então ela saiu bufando de raiva. Ele nunca a vira daquela maneira, mas não se atreveu a tirar a razão dela.
Então ele se foi.

Continua...

De volta / O Poeta e a Cega – Parte 21


Eles chegaram a Europa. O frio chicoteou o rosto de Anna que estava acostumada com o calor excessivo do Brasil.
Ela ficou fascinada com o lugar, era tudo tão lindo, tão quieto e silencioso... Ao contrario do Brasil. Se pegou rindo, e resolveu continuar andando. Ela ajeitou o casaco, que se recusava aquece-la e observou o lugar.
- Vamos.  – Disse Mathew que parecia um tanto desconfortável.  Ela assentiu e eles foram. Se ela pudesse iria a pé. Aquilo tudo ainda era novidade para ela. Então ela riu mais ainda, e de repente sentiu como se fosse um soco no estomago. Mila! Por Deus, ela havia a esquecido. Se sentiu uma péssima mãe. E Procurou desesperadamente sua filha ao seu lado, e a encontrou aninhada nos braços de Mathew.
Ele parecia tão triste e distante, pensou em perguntar se havia acontecido algo mas no final, ficou calada. Se sentiu cansada, quase exausta, decidiu parar e comprar um café, mas se arrependeu logo em seguida, o café era horrível. Era aguado e muito doce. “Ainda bem que tenho os bolinhos” Ela pensou.
Victor havia dito para o motorista ir o mais rápido que pudesse, então logo eles estavam em casa. A “Casa” na verdade estava mais para uma mansão. Exatamente como daqueles filmes. Todos já estavam dentro de casa, mais Anna ainda estava observando a casa do lado de fora toda abobada.
Assim que ela entrou foi todos os empregados a esperavam.  Uma mulher de cabelos castanhos preso firmemente na nuca a acompanhou até o seu quarto. Subiram vários degraus até chegarem finalmente. A mulher pediu permissão e depois saiu.
O quarto era simplesmente enorme. Havia uma janela com vista para toda a cidade. O quarto havia sido pintado de cores claras, a cama era king size e cheia de travesseiros fofos.
O quarda-roupa, era quase um closet. Anna quase gritou de alegria. Desde quando era tão materialista? Ela riu com o pensamento. As roupas eram super apropriadas. Havia muitas botas e jaquetas de lã, couro, e tudo que podia ter. Havia também cachecóis e lindos sapatos, do tipo peep toe.
Ela estava tão consumidoramente feliz, que mal percebeu que Mila estava em um berço cor de rosa, dormindo tranqüila. Seu pai chegou sério no quarto e pediu que ela se arrumasse logo que teriam que sair.
- Esteja social. – Ele disse e depois saiu.
Anna tomou um banho rápido. Vestiu um vestido preto justo que ia até os joelhos e um peep toe bege.  Mila estava vestida como uma princesa, o vestido que ela usava era branco e os sapatos cor de rosa. Seu pai e Mathew usavam ternos. Não disseram muita coisa durante a ida deles a tal lugar.
Ao chegarem, numa casa cheia e super movimentada. Anna não percebeu mais a mulher que havia a levado para seu quarto, a de cabelos castanhos, estava com eles. Vestida com um vestido longo e preto. 
- Anna, estamos aqui para prestarmos solidariedade ao Peter. – Anna sentiu o corpo gelar no mesmo instante. – Annabelle ficara com Mila. – Ele apontou com a cabeça para a mulher.
- Mas... – Anna tentou dizer alguma coisa, mais nada lhe passava na cabeça. Pode ver o rosto de Mathew enquanto eles entravam naquela casa primeiro. “Como eu sou estúpida!” Anna se xingou mentalmente. “Era por isso que ele estava triste o tempo todo. Como eu sou egoísta.
-Anna! – Seu pai a chamou. E ela foi.
O lugar estava cheio de pessoas bens vestidas. Estavam servindo drinques e prestando homenagens a Peter, que Anna não havia o encontrado até agora. Ela não sabia se agradecia a Deus por isso, ou se não te-lo visto até agora era alguma forma de tortura.
Seu pai agora era um daqueles que prestavam homenagem a Peter. Resolveu que não queria ficar ali, queria sua filha. Assim que se virou, algum desastrado tombou com ela e derramou bebida nos seus sapatos. Anna sentiu vontade de o esganar, mais depois o que mais sentiu foi medo. Ele estava ali, parado, imobilizado, assim como ela. Na verdade Anna não sabia como, mais ela havia o reconhecido.
Ele estava com o cabelo todo bagunçado, cheio de gel. Ela pode ver. Usava botas e colete. A camisa estava meio aberta, e usava jeans velho.
Não, não podia ser. Mil coisas passaram na cabeça dela. E o que se repetia era “Não pode ser.
- An...Anna? – Sim. Era ele. Ela teve certeza ao ouvir a voz dele.
- Peter? – Ele concordou com a cabeça. – Você... Você... – Ele não conseguiu dizer, e um homem de barba longa e branca o chamou. E ele simplesmente teve que ir.


Continua...