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9 de ago. de 2011

Na verdade. / O Poeta e a Cega - Parte O6


Anna deixou os braços cair no mar, e foi parando o beijo lentamente. "Cuidar de mim? Eu preciso de cuidados?", ela pensou. Logo em seguida pensou em mais um milhão de coisas que não conseguiu separar e entender.
- Eu não preciso de cuidados Peter.
- Não é desse tipo de cuidado que eu estou falando, Anna. Sei que você pode se virar. Eu quero cuidar de você sentimentalmente... Sabe?
- Não, eu não sei. Peter nós somos primos.
- Anna não me venha com essa, você sabe que é de consideração. - Anna estava nervosa. Sentia o frio com mais intensidade e mesmo assim a ponta do nariz soava. Ela passava os dedos entre os cabelos para disfarçar o medo e a inquietação.
- Como você pretende ter um relacionamento comigo, Peter? Por Deus. Eu sou cega, eu não consigo ir muito longe sem que alguém pegue na minha mão, ou me leve até lá. Eu não quero que você viva preso a mim, tendo que cuidar de mim, porque eu sou incapaz de fazer muitas coisas sozinha. Você pode ter uma vida feliz, pode ter filhos lindos e uma ótimo esposa, que possa cuidar dos seus filhos e da sua casa quando você não estiver, mais eu não vou ser ela. Eu não posso.
- Você é cega, você não é um vegetal, nem nada disso. Você pode ter filhos e cuidar deles como você cuidou da sua mãe. Você pode ser feliz porque a cegueira não te roubou o sorriso, nem a vida. Roubou a sua visão. Mais se você quiser, se você me deixar... Eu posso enxergar por você. Eu posso ser os seus olhos. E jamais seria um fardo cuidar de você, Anna... Por favor... - Anna queria poder fugir dali, mais não sabia pra onde ir porque havia chegado ali carregada.
- Peter me leva embora. - Foi tudo que ela disse. Não deram uma só palavra em toda a volta. Poucos minutos depois que chegaram em casa uma ventania muito forte começou e trouxe com ela chuva e trovoadas.  Peter arriscou em fazer uma sopa de legumes. Anna jantou e logo voltou para o quarto. A chuva não cessou e no dia seguinte foi da mesma forma.
Anna resolveu sair do quarto sem muito entusiasmo, se sentou no chão da sala e ficou lá ouvindo o barulho da chuva. Ouvia algo bem baixinho, parecia um... Miado! Tinha um gato na chuva.
- Peter... Peter... Peter... Vem aqui, corre! - Ela o chamou desesperadamente. Peter apareceu na sala rapidamente de meias e quase escorregou.
- O que aconteceu? - Perguntou ele assustado.
- Tem um gato na chuva, ajuda ele.
- Como você sabe?
- Escuta só. - Peter ficou em silencio e depois de um tempo ouviu o gato miar.
- Esta chovendo, Anna. Deixa ele lá fora, deve estar fedendo. - Anna cruzou os braços e sem pedir outra vez disse:
- Então eu vou! - Peter riu e a puxou pelo braço.
- Não, deixa que eu vou. - Peter pegou a capa de chuva e saiu. Depois de quase dez minutos ele voltou.
- Esse seu gato é tão difícil quanto você! - Ele disse. Anna sorriu.
- Como ele é?
- Bem... Ele é preto e branco. E é ela. É femea.
- Que linda. Como vamos chamar-la?
- Anna II.
- Há! Engraçadinho... Que tal Rain?
- Rain? É... Gostei. Vou pegar um pano para secarmos ela.
- Tudo bem. - Peter saiu e logo estava de volta com um pano. Ele secava Rain com cuidado.
- Fique aqui a secando, vou pegar um pouco de leite para ela e procurar uma caixa para ela poder dormir. - Anna fez que sim com a cabeça e pegou Rain no colo, a secando carinhosamente.
Depois de seca, Rain tomou seu leite e dormiu em uma caixa improvisada por Peter. Anna havia amado a idéia de ter uma companhia. "Mais o Peter também é minha companhia" ela pensou. Mais sentiu raiva de si por ter pensado.
- Anna... - Peter chamou
- Hãm?
- Me desculpe por ontém... Não fique chateada comigo.
- Não estou chateada com você Peter... É que foi um susto pra mim.
- Ok, vamos esquecer isso.
- Esquecer? - Anna se sentiu mal. Por que ela iria querer esquecer? Ele não havia gostado? Anna pensou que Peter insistiria para que ela aceitasse o pedido dele, mais aconteceu o contrario, ele pediu desculpas e para esquecer?
- Sim, não quero que você fique chateada comigo.
- Mais...
- Quer pipoca?
- Hã... Sim. - O resto da semana foi sendo assim... Chuvoso e sem muito calor da parte de Peter. Se sentindo culpada demais, numa tarde quando Anna estava deitada no sofá ouviu Peter passando por ali.
- Peter fica aqui comigo. - Ela chamou. Peter se aproximou e Anna sentou no sofá para o dividi-lo, mais Peter sentou no chão.
Já nervosa, não acreditando que Peter era tão incapaz de ver que ela estava fazendo o possível para que ele podesse perceber que ela o queria. Ela se levantou.
- Você só pode estar brincando comigo. - Peter se levantou rindo e ao mesmo tempo assustado.
- Do que você está falando? - Ele perguntou reprimindo a gargalhada.
- Do quanto você é idiota. Você não percebe?
- O que eu deveria perceber?
- Que eu... - Anna tentou dizer "Que eu também quero você", mais era muito mais facil imaginar do que fazer. Então não conseguiu. - Argh! Esquece... Vou dormir. - Ela disse e saiu batendo os pés. Peter gargalhou quando pode a puxou pela blusa e disse:
- Eu também quero você. - E a beijou mais uma vez. Mais dessa vez sem pausas, sem a deixar escapar, sem deixar aparecer motivos para ela querer ir embora... Sem nenhum motivo além dos dois.