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27 de mar. de 2012

O Natural das Coisas / O Poeta e a Cega - Parte 24


Frio, estava absolutamente frio. Anna puchava o edredon, mas parecia estar sem, se revirava na cama e ainda sim estava frio.
Ela se levantou de uma vez e se sentiu meio tonta. Procurou por Milla, mas ela não estava no berço.
- Por Deus, como está frio. - Ela reclamava em voz alta. Passou em frente a janela do seu quarto e voltou. Estava nevando, era a primeira vez que ela via neve. Era lindo, era tão magico.
Não sabia se tinha roupa de frio, mas checou o guarda-roupa e pegou uma calça, uma bota e uma jaqueta bem quente, até se sentia pensada.
Descendo as escadas sentiu um cheiro maRavilhoso de chocolate quente, só percebeu que estava com fome quando sentiu seu estomago fazendo barulho.
- Que cheiro bom. Eu já vou dizendo que eu quero um copo grande de chocolate quen... - Quando Anna chegou na sala se deparou com um "comitê de recepção" Mathew estava nervoso olhando pra pessoa do lado que era Peter que segurava Milla que olhava para Victor. Ela quase voltou correndo para o quarto, mas estava com muita fome.
- Olá a todos. Pai, a Milla já comeu?
- Sim, filha. - Ele disse sem tirar os olhos de Milla.
- Anna... Por favor - Disse Peter se levantando com Milla no colo. - Precisamos conversar.
- Peter... Por favor, não me faça perder a fome. - Disse ela se virando. - Ah, e me de ela aqui. - Pegou Milla do colo de Peter que ficou sem reação.
- Não seja criança, Anna. Precisamos resolver essa situação, eu... - Ele respirou fundo e tocou a mão de Anna que congelou logo em seguida. Não era o frio do tempo, era o frio de dentro dela, o frio que trazia o medo e até certa magoa de volta. Que trazia de volta o que ela sentia por Peter, só que com um cheiro diferente. Não havia mais rosas ou alecrins... O cheiro que ela sentia agora, era um cheiro mais forte, mas que não a deixava tão tonta, era o cheiro da realidade. - Quero ser um pai presente. Quero dar o que for preciso para Milla, para... Você. Me desculpe por ontém... Olha, eu agi sem pensar. - Anna riu com sarcasmo:
- E quando você agiu pensando? Faça-me o favor, Peter.
- Meu Deus, Anna. O que eu te fiz que te deixou com tanta magoa de mim? - É verdade. O que ele havia feito que havia a deixado tão chateada? Só a briga de ontém. Fora isso não havia outro motivo solido, só o fato de que ignorando Peter ela não magoaria Mathew, e que talvez era isso que ela pretendia, alias, foi Mathew que a ajudou durante todo esse tempo. Mas estava errada em impedir Peter de assumir Milla como sua filha.
- Está certo. - Ela respirou fundo, já se arrependendo do que acabara de começar a fazer - Me desculpe, você pode visitar Milla quando quiser, mas eu não preciso de nada. Muito menos Milla.
- Tudo bem, isso me basta.
- Que bom então. Agora eu vou comer alguma coisa. -Ela disse dando as costas para Peter.
- Antes disso... - Ele falou e Anna se virou novamente.
Peter tirou do bolso do casaco uma rosa e entregou para Anna: "Que jogo sujo" ela pensou. E já não teve controle do seu corpo. Estava soando o nariz como antigamente e batendo freneticamente os pés. Ao berceber isso Peter riu e estendeu os braços para pegar Milla que devolveu o sorrriso para o pai.
Peter se aproximou de Anna que não teve o que fazer, tentou andar para traz mas estava encostada na pia, sentiu tanto medo, fechou os olhos com tanta força, e então de repente acabou, ele dera um beijo em seu rosto e saiu. Anna passou os dedos sobre seu rosto, onde estava úmido e sorriu, e ao se virar Mathew a observava, triste, como se tivesse acabado de ver a pior cena do mundo e saiu. Ela não foi atraz dele, sabia que não adiantaria, e sentiu uma enorme dor em seu coração.

Continua...

10 de jan. de 2012

Lidando com a realidade / O Poeta e a Cega - Parte 23


Anna foi saindo com toda pressa daquele lugar. “Como ele ousa dizer aquelas coisas?” Perdida em seus pensamentos, cega de raiva, nem viu que Mathew vinha e sua direção e esbarrou em seu ombro, Anna reprimiu o palavrão.
- Ei, sou eu. Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou. Anna nunca percebera o quanto era egoísta com Mathew. Estava sempre descontando suas frustrações nele, e ele nem siquer a destratava. Ela pensou em fazer o mesmo das outras vezes, pensou em dizer que estava nervosa sim, mas que isso não era da conta dele. Mas ao invés disso, ela suspirou e disse.
- Não, não aconteceu nada. – Fingiu estar bem e sorriu. – Obrigada por perguntar. – Ela foi saindo mais ele a seguiu e disse:
- Me deixe ficar um pouco com Mila, aqui fora. É um lindo dia. – Anna assentiu e entregou Mila a Mathew, depois beijou a testa de Mila e selou os lábios de Mathew e se foi.
Se conseguisse, ela tomaria um banho gelado, mas estava muito frio, então o banho seria no mínimo morno. Resolveu que ficaria ali até que os dedos ficassem enrugados. Então se sentou na banheira e deixou que ela enchesse.
Ela não costumava pensar na vida, nunca havia gostado daquela sensação de nostalgia. Mas dessa vez, era quase inevitável.
- O que poderia ter mudado tanto? O que é tão difícil de entender? – Ela se perguntava em voz baixa. Desde que chegara ali, ás coisas haviam simplesmente desandado. Ela passara grande parte do tempo nervosa, ansiosa. O que nunca fora antes, estava se tornando agora.
- Droga! Eu sempre fui tão inde... – Ela iria dizer independente, mas a verdade é que ela sempre fora dependente. Dependente de ajuda, mesmo que fossem simples, como para ir ao quarto ou encontrar o guarda-roupa. Ela precisava de ajuda para encontrar certas coisas, tudo bem que isso aconteceu quando ela ainda era cega, mas ela precisava se lembrar dessas coisas. De repente ela se sentia sem alma, sem nenhum motivo ou para estar ali.
Era cansativo tudo aquilo. Ela que sempre quis voltar a enxergar notara que não era lá grande coisa. Era mais fácil viver “De olhos fechados”. Agora ela ria e se lembrava de como as pessoas a avisaram sobre aquilo.
Depois que Anna conseguiu o que queria, seus dedos enrugados, ela saiu da banheira. Sem animo algum. Vestiu –se com uma jaqueta de couro e botas estilo ugg boots, fez um coque mal feito e pensou em deixar a maquiagem de lado, mais sua pele na Europa parecia mais pálida do que o normal, então não dispensou tudo.
Mathew estava sentado em sua cama fazendo cócegas em Mila que não dava tanta atenção. Ela olhava para sua mãe, quase hipnotizada, ela a amava muito. E era tão lindo poder ver de perto um amor tão sincero.
-Achei que você me contaria. – Ele disse depois de um longo período de silencio. Anna limpou a garganta e perguntou:
- Contar o que?
-Sobre o Peter. Olha, eu não...
- Math, eu não quero falar sobre isso.
-Você não quer falar, mas eu quero. – Ele respirou fundo antes de continuar. – Eu sei que você ficou com medo de voltar para cá. Não sei. Talvez fosse medo de me magoar, ou se magoar... As vezes até magoar o Peter. Sei que você ainda esta com medo, ainda mais depois do que Peter disse a você, eu...
- Você ouviu? – Ela o interrompeu.
- Sim, mas eu juro que foi sem querer. Eu havia perguntado a Annabelle sobre Mila e ela disse que você estava no jardim com um rapaz, e que ela acabara de deixar Mila com você. Eu quis ir, pegar Mila e voltar, mas cheguei quando ele estava gritando com você. E ouvi você dizer que me preferia como pai de Mila... Isso é verdade? – Anna sentiu seu rosto corar. Não se lembrava desde á ultima vez que sentiu vergonha.
-Peter agiu feito um louco, eu não sei o que deu nele. Ele gritou comigo. – Ela estava ficando nervosa novamente.
-Anna você não esta sendo julgada. Você não está errada, foi sincera o tempo todo.
-Mas não para ele.
-E qual é o nível de importância que você dá ao que ele pensa? – Na voz dele havia certa amargura. Então ela se sentiu mal, outra vez. Ela estava o magoando outra vez. Não sabia como evitar aquilo.
-Eu não queria que fosse assim, mas ele é o pai da minha filha.
- Eu não me importo se ele é o pai da sua filha, agora você está enxergando literalmente o mundo como ele é. Então se decida. – Mathew entregou Mila para Anna e foi saindo.
Ela se sentiu pequena naquele quarto gigante. Não queria ficar sozinha, muito menos sozinha sabendo que Peter e Mathew a odiavam. De certo modo ela entendia aquela reação de Mathew, entendia o porquê dele estar tão chateado com ela. E mesmo assim ela sabia que se ela o abraçasse, ele retribuiria, talvez com o dobro de afeto. Então antes dele sair, ela se lembrou que não havia respondido uma das perguntas que ele havia feito.
- Mathew. – Ela o chamou e ele se virou. – Eu prefiro você como o pai de Mila. – Ele sorriu, mais tentou não sorrir demais, para não parecer fácil aos encantos de Anna. Olhou para Mila que começara a adormecer nos braços da mãe e saiu.

Continua...

9 de jan. de 2012

Eu não sou algo que você pode concertar / O Poeta e a Cega – Parte 22



Anna não viu Peter outra vez, e nem tinha certeza se queria aquilo. Ela não havia conseguido dormir pensando em como Peter era diferente de como ela imaginava. Não mais alto, nem mais baixo. Não conseguia definir, mas algo havia a desapontado por dentro. Talvez o fato dele ter simplesmente ido, de não ter insistido e ficado com ela. Ele se foi, não olhou para traz e nem sussurrou “Quero te ver outra vez.
-Talvez porque ele não quisesse me ver outra vez. – Ela disse em voz alta sem perceber.
Caminhou de um lado pro outro no quarto e ficou de frente a um espelho que ocupava grande parte da parede. “Talvez eu não seja o que eu imaginava também...” Ela pensou e passou os dedos sobre seus cabelos, quis fazer uma trança mais achou que aquilo seria só um modo de relembrar o passado, enquanto parte do passado voltava.
Fez um coque mal feito na nuca e desceu as escadas. Annabelle estava com Mila, Anna foi até elas e beijou Mila que ria sem parar.
- Darei um banho na Mila, Senhora. Logo estarei de volta e a deixo com você. – Anna assentiu e riu enquanto fazia careta para Mila rir.
Foi até a cozinha procurar algo para comer, mas assim que estava a caminho alguém bateu na porta. Esperou que algum dos empregados atendesse mais ninguém apareceu e ela mesma atendeu.
- Olá Anna.
- Peter! – Outra vez aquela sensação de derretimento, aquele frio inexplicável fazia seu peito arder e ela não sabia o que falar.
-Podemos conversar? – Ela pensou mesmo em correr para o quarto e só sair de lá quando soubesse o que queria, mais concordou com ele e eles foram para o jardim da casa. Ainda estava frio, não tão frio quanto quando chegaram, mas não dava para sair sem casaco. Eles andaram até chegar numa arvore sem folha alguma. Dali ela podia ver varias montanhas, era tudo tão verde e quieto.
 Peter esfregou as mãos uma na outra e começou a falar:
- Você chegou que dia?
- Ontem, assim que chegamos fomos nos arrumar para irmos prestar solidariedade a você. – Peter arqueou as sobrancelhas como se perguntasse “Solidariedade?” e continuou.
- Eu ouvi boatos sobre você. – Ele limpou a garganta, provavelmente tentando ganhar tempo para saber exatamente o que dizer e continuou. – Que você se casou com um medico e foi morar no Brasil.
Anna sentiu o rosto arder. Ele sabia. É claro que ele sabia. Não havia como não saber. Ela concordou com a cabeça.
-Sim, é verdade. E eu preciso te contar uma coisa.
- Anna eu não acredito que você se casou. – Ele disse, já estava quase gritando.
- Shhhh. – Ela tentou fazer ele se calar mais ele estava muito nervoso.
- Shh? Não faz shh pra mim. Como você pode se casar?  Achei que você esperaria por mim.
- Peter eu... – Assim que Anna tentou se explicar Annabelle chegou e entregou Mila para ela.
- Aqui está sua filha, Senhora. Está bem limpinha. E... – Foi o que faltou para Peter explodir. Ele passava a mão entre seus cabelos e os deixava mais bagunçados ainda.
- Você tem uma filha? – Ele gritou. E Annabelle entendeu que devia sair. Assim que ela saiu Anna continuou.
- Nós temos uma filha. Nós. Era isso que eu estava tentando te dizer.
- Há há há. – Ele ria cheio de ironia, e isso foi fazendo Anna perder a paciência. – Quer que eu acredite nisso? Você foi rápida Anna Moore, mais do que eu imaginava. Como foi? Amor a primeira vista?- Ele ria amargurado. Ele estava nervoso, ela sabia. Mais não iria ficar ouvindo aquilo.
- O que você quer dizer com isso Peter?
- Quero dizer que bastou você voltar a enxergar pra se engraçar com aquele doutorzinho, não foi? “Vamos experimentar agora que eu posso enxergar.” Quer saber? Eu prefiro você cega! – Foi o que bastou Anna deu um tapa no rosto de Peter que ficou em silencio a observando cheio de ódio.
- Eu não preciso que você acredite que Mila seja sua filha. Eu não preciso que você a aceite porque você é só um garotinho e Mathew é um homem, ele com certeza será um pai melhor que você. Sabe por que Peter? Porque desde quando meu pai me trouxe pra cá eu estava grávida, e Mathew aceitou ser o meu marido, aceitou assumir uma filha que não era dele. E esteve do meu lado me ouvindo dizer o quanto eu sentia sua falta. Ele me ama, me ama ao ponto de aceitar todas as minhas idiotices, todos os meus erros. E sinceramente? Eu o amo também. – Isso havia sido pior que o tapa que ele ganhara. Havia sido pior que socos no estomago. Era pior que enxaquecas e noites mal dormidas, tudo junto.
-Se... Se ela for mesmo a minha filha, eu quero que ela vá morar comigo. – Ele disse com a voz tremula e parou parar olhar aquela garotinha que lembrava muito uma foto de Anna quando ela era só um bebê mais os olhos dela eram idênticos a os dele. A garotinha sorriu para ele e Peter acreditou nas palavras de Anna, mais era tarde demais.
- Ah, você quer? Começa virando homem. Porque uma criança não pode cuidar de outra. – Então ela saiu bufando de raiva. Ele nunca a vira daquela maneira, mas não se atreveu a tirar a razão dela.
Então ele se foi.

Continua...

De volta / O Poeta e a Cega – Parte 21


Eles chegaram a Europa. O frio chicoteou o rosto de Anna que estava acostumada com o calor excessivo do Brasil.
Ela ficou fascinada com o lugar, era tudo tão lindo, tão quieto e silencioso... Ao contrario do Brasil. Se pegou rindo, e resolveu continuar andando. Ela ajeitou o casaco, que se recusava aquece-la e observou o lugar.
- Vamos.  – Disse Mathew que parecia um tanto desconfortável.  Ela assentiu e eles foram. Se ela pudesse iria a pé. Aquilo tudo ainda era novidade para ela. Então ela riu mais ainda, e de repente sentiu como se fosse um soco no estomago. Mila! Por Deus, ela havia a esquecido. Se sentiu uma péssima mãe. E Procurou desesperadamente sua filha ao seu lado, e a encontrou aninhada nos braços de Mathew.
Ele parecia tão triste e distante, pensou em perguntar se havia acontecido algo mas no final, ficou calada. Se sentiu cansada, quase exausta, decidiu parar e comprar um café, mas se arrependeu logo em seguida, o café era horrível. Era aguado e muito doce. “Ainda bem que tenho os bolinhos” Ela pensou.
Victor havia dito para o motorista ir o mais rápido que pudesse, então logo eles estavam em casa. A “Casa” na verdade estava mais para uma mansão. Exatamente como daqueles filmes. Todos já estavam dentro de casa, mais Anna ainda estava observando a casa do lado de fora toda abobada.
Assim que ela entrou foi todos os empregados a esperavam.  Uma mulher de cabelos castanhos preso firmemente na nuca a acompanhou até o seu quarto. Subiram vários degraus até chegarem finalmente. A mulher pediu permissão e depois saiu.
O quarto era simplesmente enorme. Havia uma janela com vista para toda a cidade. O quarto havia sido pintado de cores claras, a cama era king size e cheia de travesseiros fofos.
O quarda-roupa, era quase um closet. Anna quase gritou de alegria. Desde quando era tão materialista? Ela riu com o pensamento. As roupas eram super apropriadas. Havia muitas botas e jaquetas de lã, couro, e tudo que podia ter. Havia também cachecóis e lindos sapatos, do tipo peep toe.
Ela estava tão consumidoramente feliz, que mal percebeu que Mila estava em um berço cor de rosa, dormindo tranqüila. Seu pai chegou sério no quarto e pediu que ela se arrumasse logo que teriam que sair.
- Esteja social. – Ele disse e depois saiu.
Anna tomou um banho rápido. Vestiu um vestido preto justo que ia até os joelhos e um peep toe bege.  Mila estava vestida como uma princesa, o vestido que ela usava era branco e os sapatos cor de rosa. Seu pai e Mathew usavam ternos. Não disseram muita coisa durante a ida deles a tal lugar.
Ao chegarem, numa casa cheia e super movimentada. Anna não percebeu mais a mulher que havia a levado para seu quarto, a de cabelos castanhos, estava com eles. Vestida com um vestido longo e preto. 
- Anna, estamos aqui para prestarmos solidariedade ao Peter. – Anna sentiu o corpo gelar no mesmo instante. – Annabelle ficara com Mila. – Ele apontou com a cabeça para a mulher.
- Mas... – Anna tentou dizer alguma coisa, mais nada lhe passava na cabeça. Pode ver o rosto de Mathew enquanto eles entravam naquela casa primeiro. “Como eu sou estúpida!” Anna se xingou mentalmente. “Era por isso que ele estava triste o tempo todo. Como eu sou egoísta.
-Anna! – Seu pai a chamou. E ela foi.
O lugar estava cheio de pessoas bens vestidas. Estavam servindo drinques e prestando homenagens a Peter, que Anna não havia o encontrado até agora. Ela não sabia se agradecia a Deus por isso, ou se não te-lo visto até agora era alguma forma de tortura.
Seu pai agora era um daqueles que prestavam homenagem a Peter. Resolveu que não queria ficar ali, queria sua filha. Assim que se virou, algum desastrado tombou com ela e derramou bebida nos seus sapatos. Anna sentiu vontade de o esganar, mais depois o que mais sentiu foi medo. Ele estava ali, parado, imobilizado, assim como ela. Na verdade Anna não sabia como, mais ela havia o reconhecido.
Ele estava com o cabelo todo bagunçado, cheio de gel. Ela pode ver. Usava botas e colete. A camisa estava meio aberta, e usava jeans velho.
Não, não podia ser. Mil coisas passaram na cabeça dela. E o que se repetia era “Não pode ser.
- An...Anna? – Sim. Era ele. Ela teve certeza ao ouvir a voz dele.
- Peter? – Ele concordou com a cabeça. – Você... Você... – Ele não conseguiu dizer, e um homem de barba longa e branca o chamou. E ele simplesmente teve que ir.


Continua...

20 de dez. de 2011

A mudança / O Poeta e a Cega - Parte 19

Chegando em casa Anna tentou descansar, mais se levantava o tempo todo para conferir se Milla estava bem. Ela não reparou, mais perdia a fome, comia muito mal. Chegava a tomar apenas um copo de leite no dia. Milla precisava de se amamentar, mais ficava cada vez mais dificil, Anna mal reproduzia leite e se recusava em deixar Milla beber o leite de uma mulher desconhecida.
- Anna, por favor, seja racional. Você não está em condições de amamentar a Milla. - Dizia seu pai enquanto Mathew a examinava.
- Não estou em condições de ouvir vocês, me deixem sozinha. - Ela dizia.
- Não. Já pedi para Alfred ir buscar algumas vitaminas para você. - Disse Mathew. Anna achou mais divertido revirar os olhos e tentar se lembrar quem era Alfred.
As vitaminas chegaram, e como Mathew era medico ele cuidava dela com toda atenção. Passou a comer reguladamente, de três em três horas e a caminhar nas horas vagas.
Se sentindo muito cansada em uma dessas caminhadas, Anna resolveu voltar para casa mais cedo. Chegou e foi direto tomar um banho. Percebeu que ninguém havia notado sua chegada ali, então foi trocar de roupa antes de descer para comer alguma coisa.
O quarto de seu pai estava todo desarrumado. Algumas roupas estavam dobradas encima da cama e outras espalhadas com gosto no chão.
Procurou pelo seu pai no andar de baixo e o encontrou no jardim falando ao telefone, ela não se aproximou muito, mais pode ouvir ele dizendo sobre Peter. Seu pai estava soando e ria sem graça, algo de bom com certeza não era. Anna se aproximou mais um pouco e congelou. A mãe de Peter, a tia Clara havia falecido hoje de manhã. Voltariam o mais rápido possivel, e isso já estava sendo organizado.
Anna sentiu falta de Mathew, na verdade sentiu falta de um abraço amigo, e ela tinha isso com Mathew. Então foi procurar por ele, e o encontrou no quarto de Milla.
Os dois estavam dormindo. Milla estava deitada no peito de Mathew, que estava com a cabeça encostada desconfortavelmente no berço.
Anna pegou Milla e a colocou no berço com cuidado. Depois sentou no colo de Mathew e o abraçou. Ele acordou assustado por não saber o que estava acontecendo, e se acalmou por completo ao ver que quem estava ali era Anna.
Ela não sentia o que ele sentia por ela. Isso era obvio. Mais eles eram tão compatíveis, quase como almas gemias. Mais as coisas não são faceis como parece. Quero dizer que... As coisas nunca são faceis. Pode ser que aconteça com você de ser completamente apaixonado por alguém que ama outra pessoa. Ou que apenas te considera como amigo. Essas coisas acontecem... E quando acontecer, espero que você esteja preparado. Espero que você seja forte. Porque amor não correspondido machuca muito, toma muito do seu tempo. Toma muito de quem você é.
 * No outro dia viajaram de volta a Europa. Mathew sentiu medo a viagem inteira, não pelo voo, ou pela altura. Sentiu medo de voltar e perder Anna. Sentiu um medo tão imenso e devastador que sentiu seu coração inchar. Sentiu sua boca ficar seca e suas mãos tremulas. Ele sentia medo de perde-la, mais ao mesmo tempo ele se perguntava:"Como posso perder algo que nunca me pertenceu?"
Fingiu estar bem o tempo todo. Fingiu ser apenas o medico contratado para cuidar da saúde de Anna, e antes fosse só isso. Antes fosse tudo isso um sonho. Mais não era, era o pior tipo de realidade... E ela precisava ser encarada.

Continua...

13 de out. de 2011

Anjo / O Poeta e a Cega - Parte 18



Já eram quase três da tarde e Anna ainda estava deitada. Estava meio chateada por ninguém tê-la procurado, mais isso também não a tirava da cama.
Ela havia terminado o terceiro livro daquela semana.
-Final feliz... Sei. Pura ilusão. Pura tendência. -Arfou. Decidiu que ficar ali deitada só a deixaria mais nervosa. Sua filha a chutava e Anna quase não aguentava algumas vezes.
Se sentou na sacada do hotel com o laptop de Mathew e começou a fazer algumas pesquisar bobas. Decidiu procurar por livros novos em algum site interessante. Acabou dando de cara com uma propaganda ótima.
"Será o amor mais puro aquele que não enxerga?"
Aquilo tomou sua atenção, então ela continuou.
"Quando se deve escolher entre seu amor e o seu sonho. Quando a sua escolha já foi tomada, mais o seu amor  decide que não pode ser assim.
O que fazer? Ir atrás do seu sonho e deixar seu amor, ou ir atrás de seu amor e abdicar do seu sonho?"
Sentiu seu coração rasgar. Quis parar de ler naquele exato momento, mais desceu a pagina e acabou lendo o que não queria.
"O Poeta e a Cega de Peter Wright."
- Droga! - Ela xingou. - Será possível que isso não vai acabar? Sempre que eu tento esquecer... Eu acabo me lembrando. - Afastou o laptop do colo e se levantou. Frustrada, nervosa e com fome. Procurou na gaveta do seu quarto o telefone de alguma comida chinesa mais não encontrou.
Mila chutava com força e Anna passava a mão com delicadeza tentando acalmar sua filha, mais nada a parava. Anna começou a soar e a ficar fria. Tentou ir se deitar, mais a cada passo que dava parecia que algo a rasgava por dentro.
Procurou o telefone com as mãos tremulas e tentou digitar o numero de seu pai, mais caiu na caixa de recados. Depois tentou Mathew, chamou, chamou e ninguém atendeu.
Sentiu seu corpo ficando mole. Sentia o chão indo e vindo. E antes de cair viu sangue no chão.
[...]
- Anna... Por favor, acorde. - Ela ouvia. Não conseguia abrir os olhos. Mais ainda podia ouvir as vozes.
- Fique comigo Anna.
- Anna.
- Por favor, mantenha a calma senhor. Precisamos que saiam agora. - E as vozes pararam. Mais agora ouvia respirações ofegantes. Ouvia alguns sussurros. Ouvia bipes. Até que ouviu um choro.
Aquele choro fez ela se arrepiar. Mesmo não conseguindo se mexer, podia sentir seu corpo todo arrepiado.  O choro continuava. E o bipe entrou em alerta. E então ele não acompanhava mais o sons do coração... Porque não havia nenhum som. Apenas o barulho dos medicos dizendo "Vamos! Temos que reaviva-la." "Não desista Anna. Fique conosco." Depois disso só havia escuridão.
Sentia um calor horrivel. E aquele lençol incomodava, aquele mormaço incomodava. Deus! O Brasil era tão quente.
Se virou de todos os lados. Tentou tirar o lençol, mais nada a deixava confortavel. Então decidiu acordar.
Os olhos estavam pesados. E o corpo meio dolorido, mais não havia mais barriga. Olhou para os lados e não encontrou ninguém. Arfou. Havia tempo que ela não se sentia tão entediada.
- Anna! Que bom te ver acordava. - Disse uma enfermeira.
- Quanto tempo eu dormi?
- Uns dois dias. - Ela sorriu. Tentou não ser inconveniente. E não desagradar, como acontecia com a maioria, quando um ou outro tentava demonstrar falsa preocupação.
"Talvez seja parte do trabalho dela, Anna. Não seja tão cauculista." Ela mesma pensou. Então sorriu de volta para mulher, que ajeitou seu travesseiro.
- Está com fome? - Ela perguntou.
- Sim. Muita.
- Ok. Vou pedir para que preparem um almoço caprichado para você e anunciarei ao seu pai e ao seu marido que você acordou.
- Obrigada. - Anna disse a mulher saiu.
Não demorou muito e Seu pai e Mathew estavam em seu quarto com sorrisos que iam de orelha a orelha. Não se importou muito. Queria mesmo era ver sua filha.
- Onde Mila está? - Anna perguntou.
- A enfermeira foi busca-la.
- Que dia eu recebo alta? - Os dois riram da pressa que ela tinha de sair dali.
- Hoje mesmo. - Disse Mathew.
Logo em seguida o almoço de Anna chegou. A comida era sem sal, muito bem cozida, porém... Sem sal. A fome era tanta, que por mais que Anna detestasse coisas do tipo "Mais ou menos" comeu tudo. E logo em seguida sua filha apareceu.
Mila estava enrolada em uma manta cor de rosa. Sua pele era branca e as bochechas perfeitamente rosadas. Tinha o cabelo preto e os olhos bem grandes e acinzentados.
Anna sentiu seu peito queimar, quase como se fosse explodir. Mais só chorou.

Continua...

19 de set. de 2011

Que seja simples / O Poeta e a Cega - Parte 17



Anna se revirou na cama. Ela tentou esticar os braços mais eles estavam doloridos, então ela riu. Mathew dormia de forma escandalosa. Um braço para um lado, as pernas para outro. Sua sorte era que ele não roncava.
Ela se levantou e puxou o lençol para cobrir seu corpo. O cabelo estava horrivel. Todo bagunçado. Mais ela se sentia bem. Soltou o lençol e deu uma olhada no corpo. A barriga dela estava tão grande. Parecia já não ter mais para onde crescer. Os cabelos também... Eles cobriam seus seios e chegaram a bater na cintura. No seu braço direito havia uma mancha roxa. Ela se virou para poder ver direito. Era exatamente a forma de um dedo.   Ela riu. E decidiu tomar um banho. Lavou seus cabelos com delicadeza e logo se sentia nova em folha.
Escolheu um vestido azul claro que era longo. Secou seus cabelos e fez uma longa trança. Perfeita. Intacta. Assim como sua mãe a ensinava quando era pequena. Colocou brincos e aneis e de repente, encarnou o papel que seu pai tanto queria. A querida da sociedade.
É claro que ela sabia se vestir. Depois de tantas aulas de moda que ela teve. Podia com certeza acertar algumas combinações.
Se lembrou do kit de maquiagem completissimo que seu pai havia lhe dado e resolveu "tentar" usar. Sempre quis usar aquelas maquiagens perfeitas, embora soubesse passar e tudo mais. Sentia receio de "manchar" a pele.
Usou um brilho básico nos olhos. Contornou os olhos com lapis marrom e chamou atenção para os cilhos que ficaram perfeitos. Na boca foi apenas um gloss. E completou o novo look, ou melhor, a nova Anna, com um perfume comprado ali mesmo no Brasil.
Quando ela terminou Mathew estava encostado na porta. Também com o cabelo bagunçado, mais molhado. Nem havia percebido que ele tinha saido.
- Uau. Você esta linda.
- Obrigada. E desde quando você aderiu a moda rock n roll?
- Camufladamente... Ela sempre esteve aqui. - Mathew usava calça jeans surrada. Uma camiseta do Led Zeppelin e o cabelo loira bagunçado.
- É sexy! - Ela disse.
- Obrigada. - Ele se aproximou dela e o cheiro de colonia pós-barba a atraiu.
- Te ver sem a pose de bom moço chega a ser assustador.
- Quer que eu a assuma de volta?
- Não... Eu gosto assim. - Ele sorriu e a beijou. Pegaram o elevador e se encontraram com Victor num restaurante. Ele estava lendo um jornal. Assim que ele ouviu passos se aproximando, ele abaixou o jornal lentamente e deu uma olhada por cima.
Assim que os viram chegando de mãos dadas, ele dobrou o jornal e pôs sobre a mesa. Anna riu.
- O que houve pai?
- O que significa isso? - Ele perguntou apontando com a cabeça para as mãos entrelaçada dos dois.
- Somos casados. - Ela disse.
- De mentirinha. - Por algum motivo ele sussurrou e os dois riram.
- ... Talvez. - Ela respondeu com outro sussurro. Victor não pareceu ter gostado de ver Anna e Mathew juntos. Mais não falou nada depois disso.
Elogiou sua filha e perguntou qual era a do estilo "garoto de rua" de Mathew. Depois disso todos eles foram ao cinema.
Anna comprou um celular e algumas roupinhas para sua filha.
- Mila. - Ela disse por fim.
- Mila? - Exclamou Victor.
- Mais Mila? - Insistiu Mathew. Anna riu. Por Deus. O nome era tão lindo.
- Siiiiim. Mila. Minha Mila. E aceite de vez pai e a aceite de vez Mathew. Esse é o nome da nova mulher da vida de vocês. - Com um suspiro os dois cederam.
Anna tomou três taças de sorvete enquanto Victor e Mathew faziam aposta sobre o quanto ela comeria.
Victor fora embora mais cedo. E já a noite Anna e Mathew decidiram ir embora.
- Mais antes... - Ele disse. - E tirou de dentro no bolso uma caixinha. E dentro dela havia um colar escrito em ouro "Anna" e um pequeno coração vermelho. Ele era lindo. Ele era tão lindo.
- Mathew... Eu... Eu... Eu não sei o que dizer. - Ele sorriu e tirou o colar da caixa e com delicadeza colocou em Anna.
- Não precisa dizer nada. - Então ele a  beijou. - Eu te amo, Anna. Eu te amo tanto. E ontém foi o melhor dia da minha vida. - Cansada dos circulos que fazia na sua vida. Já havia algum tempo que ela já estava com  Mathew. Ele fazia bem e ela e ela... Ela o amava. Da forma que fosse. Meio maluca, meio torta, assim mesmo... Mais o que importava era que ela o amava.
- Eu também te amo. - Ela disse. - Muito.

Continua...