Páginas

2 de set. de 2011

Uma nova chance / O Poeta e a Cega - Parte 14




Anna tentou abrir seus olhos mais não conseguiu. Os tocou com cuidado e sentiu ataduras. Foi se sentando e respirou fundo, estava tão ansiosa que queria tirar aquelas ataduras e ver como ficou, saber se a operação foi bem sucedida ou não. Respirou fundo. E sentiu um certo pessimismo. Ao seu ver... As coisas ruins sempre foram mais faceis de acontecer que as coisas boas. Em com toda a sua experiência no azar, ela já estava acostumada.
Sentiu alguém apertando sua mão.
- Quem está ai? - Ela perguntou.
- Sou eu... Mathew. - Ele estava com uma voz tão chateada, que ela já soube o que esperar.
- Olá Mathew.
- Vou colocar uma bandeja aqui na sua frente com comida e algumas vitaminas pro bebê, tudo bem?
- Ok. - Mathew colocou a bandeja de comida na frente de Anna e foi lhe entregando as coisas mais faceis de comer, como gelatina, frutas, sucos. E depois ela tomou as vitaminas.
Os dois ficaram em silencio por um bom tempo. Ela não perguntou pra ele sobre a cirurgia porque pensou que se ele não havia dito nada até agora era porque alguma coisa havia dado errado.
- Quando vou poder tirar isso dos meus olhos? - Ela perguntou.
- Quando seus olhos estiverem melhor.
- E isso vai demorar quanto tempo?
- Alguns meses.
- Esperar alguns meses para continuar cega é ridiculo. - Ela o ouviu sorrindo e ficou nervosa. - Qual é a graça?
- Como assim "Esperar alguns meses para continuar cega?"
- Ué... Eu ainda não estou cega?
- Tecnicamente... Mais só porque as ataduras estão tampando os seus olhos.
- O que? Eu vou enxergar? A operação... Ela... Ela deu certo? - Ele gargalhou.
- Certissimo. - De repente ela sentiu o sangue ferver e uma vontade enorme de pular da cama e dançar.
- E por que você não disse nada? Achei que tinha dado algo errado... Eu não sei.
- Acabei de acordar. Quando eu vi você se mexendo fui buscar seu café da manhã.
- Eu não acredito! Meu Deus!
- Acho que amanhã você recebe alta. E voltaremos para o hotel.
- Ótimo, comida de hospital é horrivel. - Ele riu outra vez. Logo depois Victor bateu na porta e entrou para ver sua filha, então Mathew saiu.
- Que bom saber que está tudo bem com você, eu estava tão... Tão... Hã...
- Preocupado? - Ela sugeriu.
- Hum... Sim. Com medo, assustado... Preocupado!
- Eu também fiquei, pai!
- Pensei muito em você. Na minha netinha. - Ele disse e passou a mão sobre a barriga de Anna. Desde que ela havia contado a ele que estava gravida, fora a primeira vez que ele chamada sua neta, por neta. E não "Coisa", "Bebê", "Ela" e etc.
No dia seguinte Anna recebeu alta. Eles voltaram para o hotel e Anna recebia os mínimos cuidados. Sentia de desejo de comer as coisas mais absurdas. Sentiu até uma vontade louca de comer comida japonesa. Os tempos foram se passando. Toda semana Anna ia até o oftomologista para consultar. Saia de lá se sentindo muito bem. O medico dizia que a recuperação de Anna estava sendo rápida e muito boa. E cada vez mais rapido o tempo se passava.
Sentiu sua filha chutando sua barriga quando Mathew a tocou. Victor ficava maravilhado e dava a Anna varias opções para nomes, mais Anna ainda não tinha certeza de qual seria.
Passado dois meses e quatro dias, numa quinta-feira. Anna se dirigiu ao hospital para tirar as ataduras. As mãos suavam mais do que nunca. O coração parecia levar um minuto para cada batida. Sentia os pés gelados e a ponta do nariz que não parava de soar.
O estomago estava embrulhado e a cabeça dela martelava. Não demorou muito. Ela se sentou em uma cadeira e o medico foi tirando as ataduras cuidadosamente.
- Pode ser que sua cabeça doa um pouco. Você pode ficar tonta e os olhos arderem, mais isso é normal. Até você se acostumar. Sugiro que não tome nenhum medicamento para dor de cabeça. Tome algum chá, é melhor. - Ele disse e tirou a ultima atadura...
Anna sentiu medo de abrir os olhos. Mais a euforia era tanta que ela não pode evitar. Os olhos estavam pesados e ela os abriu bem devagar, sentiu um pouco de dor. Mais considerou aquilo como recompensa. Ela viu uma maca, meio embaçada, mais pode ver. Piscou algumas vezes e cada vez mais sua visão foi melhorando. A maca estava um metro de distancia dela.
Ela estava sentada numa cadeira preta e atraz dela havia um espelho. Sentiu a dor de cabeça que o medico havia falado e sorriu. Se levantou. Sem precisar apalpar nada. Sem precisar da ajuda de ninguém. Lá estava ela. De pé, e enxergando outra vez.
Ela se virou para olhar no espelho. Os cabelos estavam grande, iam até sua cintura com grandes cachos nas  pontas. Vestia um vestido branco, que ia pouco acima do joelho com detalhes de rosa claro e sua barriga que agora era visível.
Viu o medico pelo espelho que estava sorrindo para ela. Então ela quis chorar. Assim que as lagrimas foram se acumulando em seus olhos ela os sentiu arder.
- Sr. Meus olhos ardem.
- Isso também é normal. Mais vai passar, espere um pouco, evite chorar... Se conseguir. - Ela sorriu e depois gargalhou. Estava tão feliz. Agradeceu a Deus mentalmente e perguntou ao medico:
- Eu já posso ir?
- Sim. Mais esteja aqui semana que vem.
- Tudo bem. Onde meu pai e Mathew estão?
- Na sala de espera. Te acompanharei até lá. - E seguiram até a sala de espera. Mathew parecia apreensivo. Ele era alto, um pouco mais alto que Victor. Era louro e forte. Anna sentiu seu coração bater mais forte e achou engraçado. Era como ela o imaginava, louro... Forte.
Victor vestia uma roupa social. O cabelo estava perfeitamente em ordem e andava de um lado para o outro. Ao verem Anna chegando os dois ficaram lado a lado.
- Olá. - Ela disse com um sorriso que ia praticamente de orelha a orelha.
- Filha... Você esta me vendo? - Anna gargalhou e correu até seu pai e o abraçou. Depois abraçou Mathew, que parecia ter sido um abraço mais longo. Depois comprimentou o medico e lhe agradeceu. O resto do dia foi maravilhoso. Anna devia descansar, mais não foi o que fez. Ela estava no Brasil, queria conhecer aquele lugar.
Foram ao zoológico. Mathew contava algumas historias sobre o que conhecia ali. Foram ao parque. Ao shopping e Anna comprou algumas coisas que gostara. Victor os seguia o tempo sem fazer nada. Anna se aproximou dele e lhe tirou a gravata, sentindo que não era o suficiente bagunçou o cabelo do seu pai. Que se assustou com a reação da filha.
- Anna, pare. - Disse ele tentando arrumar o cabelo.
- Não, pai. Deixe isso de lado, ninguém conhece você aqui. Vamos... Aquilo parece divertido. - Ela disse apontando para uma pista de gelo que tinha no shopping. Algumas pessoas patinavam ali.
- Anna... Para você dessa vez não. - Disse Mathew.
- Por que?
- Por causa da Aninha, ai dentro. - Ela riu do apelido fofo que sua filha havia ganhado e deixou de lado. No fim da tarde, quando se sentia literalmente cansada, tomou um banho e foi dormir, mais com um unico medo... De tudo aquilo ser um sonho.

Continua...