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8 de ago. de 2011

Um adeus silencioso / O Poeta e a Cega - Parte O5


Havia se passado algumas semanas desde que Judite morrera. Os dias vinham se arrastando e eram pouco agradáveis.
Anna dificilmente saia de seu quarto... Algumas vezes descia para tomar chá e logo voltava. Peter se perguntava se ela voltava a dormir ou a pensar. Ela vivia... Se é que vivia, como quem estava muito doente. Mal comia, mal bebia... Por entre outros males.
O inverno se aproximava e a temperatura caia visivelmente. As seis da tarde o sol já havia se escondido e o frio chicoteava a pele de quem se arriscava a andar por ai sem casaco.
"Onde deve estar mais frio? Lá fora ou aqui dentro?" Pensou Anna pousando a mão no peito. "... Acho que aqui dentro... O frio que bate lá fora é o mesmo frio de todos os invernos... O que frio que está aqui dentro é o por..."
- Anna... - Chamou Peter em seguida três batidas na porta toc toc toc. Ainda com a mão no peito, Anna sentiu o ritimo do seu coração mudando... Ele estava... Acelerado.
- O que é isso? - Anna perguntou olhando para seu peito. - Como você se atreve a me trair desse jeito?
- Anna, está tudo bem? - Chamou Peter outra vez. Anna se levantou, ajeitou a roupa que estava e abriu a porta.
- Hã...  Oi. - Peter a observou da ponta dos pés até seu rosto.
- Anna...
- Peter? - Peter sacudiu a cabeça e voltou a falar.
- Como você está?
- Como quem perdeu a mãe a uma semana. - Peter respirou fundo.
- Sei que não é fácil Anna, mais entenda... Já se passaram uma semana, você não pode se trancar e viver a base de chá. As coisas não são fáceis, você mais do que ninguém sabe disso. Elas nunca foram e nunca vão ser... São coisas da vida... Eu ainda não entendi e vai por mim, eu tenho certeza que nem vale apena saber. - Anna ficou em silencio como resposta. Ela havia entendido, só não conseguia esquecer, e era isso que a torturava.
- Vou fazer o jantar, tudo bem? - Disse Peter. Anna sorriu... Quase gargalhou.
- Sei... E o que vamos ter para o jantar?
- Espaguete.
- Hum... Eu gosto de espaguete.
- É minha especialidade! Você vai lamber os dedos.
- Eu não como com os dedos.
- Ok. Os beiços. - Eles gargalharam e quando Peter ia saindo ele disse:
- Amanhã vamos a praia.
- Você ficou maluco? Está frio lá fora, vamos congelar, ficar doentes.
- Por Deus, Anna... Quando você vai se permitir viver? - Foi o suficiente para calar Anna. Peter sorriu ao perceber que tinha vencido e desceu para fazer o jantar.
Anna tomou um longo banho, até se sentiu mais leve. Quando terminou de se vestir sentiu o cheiro do espaguete e percebeu que estava com muita fome. Se vestiu e secou seus cabelos. Fez uma trança mal feita, e desceu para poder jantar.
- O cheiro está bom. - Ela disse.
- Não só o cheiro... Estou quase terminando.
- Tudo bem. - Anna desceu as escadas e procurou as cadeiras com as mãos e se sentou. Brincou com os talheres em cima da mesa.
- Pronto. Aqui está. - Disse ele e de repente Anna sentiu o vapor quente do macarrão em seu rosto. O cheiro era tão bom, que ela não pode evitar que seu estomago fizesse barulho.
Ela sabia que estava vermelha, então preferia ficar de cabeça baixa. Comeu tudo que conseguia, comeu tanto que sentia seu estomago dilatado.
- Ai... Fazia tempo que eu não comia tanto. - Peter riu.
- Verdade... Parecia que fazia anos que você não comia... Hã... Direito. - Anna gargalhou e mostrou lingua. Era absolutamente confortavel ficar com Peter e era da mesma forma para ele.
Eles foram para a sala e Anna deitou no ombro de Peter... Enquanto ele descrevia alguns filmes que ele dizia serem mal feitos, ou os comparava com os livros que havia lido, Anna ia adormecendo. Depois de algum tempo Anna dormiu. Bem ali, no ombro dele. Fazendo o coração dele derreter de calor, de medo, de proibição. Ele desligou a televisão somente para ouvir a respiração dela e a deixou dormir ali por algum tempo. Depois a levou para o quarto.
Peter dormiu como a tempos não dormia, calmo, sereno. No dia seguinte quando Anna acordou sentiu o cheiro de chá, ao descer escutou Peter cantarolando e riu. "Que boba eu estou. Rindo porque ouvi meu primo fazer barulho com a garganta" Pensou.
- Ei... Você. Tome seu café da manhã para irmos a praia.
- Então você falava sério?
- Sim. E te levo nem que seja nos braços, então trate de comer logo. Antes que fique ainda mais frio. - Anna obedeceu, a idéia parecia ser tão agradável agora.
Logo eles estavam prontos. Anna pegou uma saia longa que a tempos não usava, e qualquer blusa. Encontrou Peter na cozinha.
- Você está linda. - Disse ele.
- É até estranho você dizer isso. Soa até como brincadeira.
- Por que?
- Eu não enxergo, me visto de qualquer jeito e você diz que eu estou linda.
- Sim... Eu disse que você é linda, não as roupas que você usa.
Chegaram a praia, perto das montanhas, o vento que batia era frio e machucava. Anna se sentou na areia e soltou os cabelos que estava preso na nuca. Tentou fazer uma trança mais o vento não deixou.
- Está frio. - Ela disse.
- Você... É muito exagerada, e não vai sair daqui sem entrar no mar.
- Ah... Eu acho que vou sim!
- Quer ver como você não vai? - Ser dar tempo para que Anna pensasse, Peter a pegou no colo e andou até o mar, enquanto Anna se contorcia e pedia para Peter parar ele gargalhava.
- Peter por favor, para! A agua deve estar um gelo. Peeeeeter. - Entraram na agua. Na verdade ele se jogou, para que ela pudesse se molhar por completa, queria que ela pudesse sentir qualquer coisa que não fosse solidão. Eles voltaram átona. E com um ar desesperado Anna começou a estapear Peter.
- Como você... Eu quase... Eu. - Peter a segurou pelos ombros e lutando muito pra não fazer, ele fez. A beijou, tão intensamente e com tanta vontade que já não sentia frio. Anna não sabia muito bem o que estava acontecendo, mais estava se sentindo tão bem que se entregou ao momento. Pousou as mãos no rosto de Peter e o acompanhou. As mãos que estavam nos ombros desceram até a cintura de Anna a arrepiando.
As ondas batiam delicadamente em suas pernas e o vento trazia os cabelos de Anna para o rosto. Peter abraçou Anna sem parar o beijo e sibilou "Me deixa cuidar de você".

Continua...