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31 de ago. de 2011

Abra os seus olhos. / O Poeta e a Cega - Parte 13


A manhã foi fria na Europa. Era certo que o inverno havia chegado.
-Eu estou tão ansiosa, Mathew. Eu não acredito que estou indo fazer uma cirurgia. Todos os medicos disseram que eu tinha chance de voltar a enxergar. - Anna estava euforica, pulava, sorria, dançava o tempo todo. Mas Mathew estava calado. Algumas vezes concordava com o que Anna dizia, mas sem prestar muita atenção.
- Anna... Vai ser uma transfusão. De uma pessoa que não precisa mais dos olhos. Não quero que você fique chateada caso algo dê errado. - Ele disse.
- Não vou ficar chateada. Quer dizer... Vou, mais vai passar. Não quero ter pensamentos negativos agora Mathew... Está tudo indo tão bem, por favor, não me tire isso. - "Ela tem razão." Ele pensou. Não sabia porque havia acordado com todo aquele mal humor. Fora ele que encorajou Anna a ter fé de que voltaria a enxergar a qualquer circunstancia.
- Você está certa. Me desculpe. - Ele tentou a beija-la, mais assim que ela sentiu a aproximação dele, ela desviou o rosto. Tentou sorrir como desculpas e segurou Mathew pela mão direita.
- Vamos. - Ela disse. E ele apertou a mão dela como "Sim" e "Boa sorte."
Eles entraram no carro e no caminho receberam a ligação de Victor. Ele já estava no aeroporto esperando pelos dois. Iriam comprar algumas roupas para Anna ali mesmo e viajariam.
Foi o que fizeram. Marrie os acompanhou até o fim das compras de Anna e depois voltou para casa. A viajem foi bastante longa. Anna dormiu por um longo tempo. Quem não conseguia dormir nem por um minuto era Mathew.
Ele revirava seus pensamentos. Pensou melhor sobre o casamento. Pensou melhor sobre assumir uma criança que não era sua e pensou muito sobre essa paixão repentina por Anna. Se condenou milhares de vezes. Sabia que era arriscado. Ele já ouvira Anna contando para Marrie alguns dias que passara ao lado de Peter e  quão perfeito fora esses dias. Pensou em Peter, em como ele seria. E por um instante pode jurar sentir ódio dele. "Ou seria inveja." Ele pensou. "De qualquer jeito... Eu não me importo." "Não me importo. Não me importo. E não me importo." Ele pensava, insistia que não se importava até olhar para o lado e ver Anna dormindo. Como se a vida não tivesse problemas. Como se ela mesma não tivesse que se importar com nada. Como se uma criança não fosse muito a se pensar. Sua cirurgia... E se não fosse bem sucedida? Mais nada daquilo importava. Ela simplesmente não ligava.
"Se ela soubesse..." Ele pensou. "Quão sincero é o mundo que ela enxerga. Jamais pensaria em ver outra vez."
Ele se aconchegou na cadeira ao lado de Anna para poder assistir enquanto ela dormia e acabou adormecendo também. Assim o dia se fora e chegaram no Brasil a noite. Se hospedaram num dos melhores hoteis de São Paulo e mais tarde sairam para jantar. Victor anunciou que eles passariam um ano no Brasil. Anna teria professores particulares para aprender a ler e escrever e algumas outras coisas. Aprenderia a se portar á mesa, a se vestir e coisas em geral.
A cirurgia estava marcada para a manhã seguinte. E assim que terminaram de jantar cada um foi para o seu quarto.Victor não deixou que Anna e Mathew dormissem no mesmo quarto. Aliás... O casamento era uma mentira. Então não tinha motivo.
Antes de dormir Anna pensou em Peter. Pensou em sua filha. E caso voltasse a enxergar, pensou em como seria. A criança estaria com seis meses quando voltassem para a Europa. E como estaria Peter durante esse tempo? Teria ele conseguido realizar os seus sonhos? Estaria ainda batalhando? Seria errado perguntar para ao seu pai? Pensou em milhares de coisas e das milhares de coisas desistiu.
Como havia dormido muito na viagem, ficou acordava até tarde ouvindo o som da televisão e imaginando o que deveria estar mostrando ali. Algumas vezes ria. Era inacreditavel. Amanhã ela teria a chance de voltar a enxergar outra vez. Se lembrou de Rain. "Rain. Rain. Que falta eu sinto de você... Como você deve ser linda." Ela brincou com os pensamentos até que dormisse.
Eram dez horas da manhã quando seu pai foi ate seu quarto para acorda-la.
- Hora do café da manhã. - Ele disse. - Tome um banho rápido e em cerca de trinta minutos eu volto para buscar você. - Ela assentiu e tomou um banho. Marrie havia comprado muitos vestidos de cores claras, que serviriam para qualquer ocasião, então não importava qual ela pegava. Secou seus cabelos com a toalha, os penteou e logo seu pai voltou para busca-la.
- Você está lindissima. - Ela riu. Era como se fosse brincadeira quando alguém a elogiava. Victor entendeu que o sorriso fora uma forma de agradecimento e a guiou até o restaurante do hotel. Mathew foi dizendo tudo que havia ali. E no prato foi algumas frutas com mel, panquecas e suco. Depois sentiu uma vontade gigantesca de comer uma torta de chocolate, e então Mathew foi buscar.
- Você não tem fundo? - Ele perguntou rindo.
- O que você quer dizer com isso? - Anna estava com a boca toda suja de bolo e isso o divertia bastante. Victor os observava com cautela mais não dizia nada.
- Que você comeu dois mamões com mel. Comeu também banana e uma tigela de salada de fruta. Comeu quatro panquecas com calda de caramelo e um pedaço grande de torta e chocolate.  Sem contar com o suco... Que foi quase um litro.
- E aonde está o problema? - Ela perguntou.
- Não sei... Acho que você comeu ele também. - Os dois riam muito. Anna mostrava lingua para Mathew, e eles agiam feito criança.
No almoço foram para um restaurante japonês, Anna odiou a comida. Quis vomitar, então foram para outro restaurante. De comida indiana e adorou. Amanhã havia sido ótima. Todos riram muito.
- Hora de irmos. - Disse Victor olhando o relógio. Anna sentiu o peito arder e o coração gelar. Pode sentir a ponta do nariz começando a soar e as mãos ficarem frias. Mathew se aproximou e a segurou pela mão.
- Vai ficar tudo bem. - Ele disse. E ela sentiu o coração se aliviando.
Seguiram rumo ao hospital. Anna foi atendida imediatamente. E já podia se dirigir para a sala de cirurgia.
- Anna... Fico por aqui. Infelizmente não posso te acompanhar, mais Mathew estará lá como medico, para te ajudar no que for preciso. - A voz de Victor parecia triste. Estaria com medo? Anna estendeu os braços e assim e Victor os tocou ela o puxou para um abraço apertado.
- Obrigada por tudo. - Ela sussurrou. Victor pousou as mãos sob os ombros dela e saiu.
- Ele está quase chorando. - Disse Mathew. - Não queria que você percebesse isso. Ele se preocupa muito com você.
- Eu estou com medo, Mathew. - Ela disse.
- Não precisa. Confia em mim, vai dar tudo certo. E quando você sair eu estarei te esperando para cuidarmos da nossa filha. - Ele disse sorrindo. Ela também sorriu. Mais a palavra "Nossa" não se encaixou na cabeça dela.
Logo o nome dela foi chamada e ela teve que entrar para a sala de cirurgia. Mathew a beijou na testa antes que ela deitasse na maca. Anna adormeceu. Sabia que estava sonhando porque estava flutuando sob o mar. De repente estava em um quarto escuro o chão estava molhado e o cheiro não era agradável. Ouvia alguém bater na porta mais não conseguia a encontrar. Tentava apalpar qualquer coisa, mais não encontrava nada e aquilo a assustou. Sentou naquele chão molhado e chorou e só parou quando viu uma luz entrar por uma janela. A luz lá fora era tão forte que ela teve que fechar os olhos por algum tempo. Assim que seus olhos se acostumaram com a luz ela os abriu e viu um jardim lindo. Seria seu jardim? Sim! Era seu jardim. Descobriu assim que viu a toalha no chão debaixo da arvore. A toalha estava cheia de folhas secas por cima e o lugar estava lindo, incrivel. Queria ficar ali o dia todo. Mais alguém bateu na porta outra vez e uma mão se estendeu. Não conseguiu ver o rosto. Mais a levou para uma casa grande. Cheia de escadas. Por algum motivo soube que devia esperar. Subiu as escadas e se deitou numa cama grande, num quarto cor de rosa. Logo sentiu alguém pulando na cama e acordou. Era uma garotinha, com pouco menos que cinco anos. Ela perguntava:
- Por que você está dormindo no meu quarto, mamãe? - Então Anna se levantou e sorriu. A garotinha tinha cabelos longos e escuros, tinha pele clara e olhos azuis.
- Filha. - Anna a chamou enquanto a pegava em seu colo. Mais logo as cores foram desaparecendo. Logo tudo foi sumindo. Ela estava acordando, e sentiu medo por isso.

Continua...



30 de ago. de 2011

Aprenda a respirar O2 / O Poeta e a Cega - Parte 12



- Isso é... - Ela iria dizer impossível, se realmente fosse. Se lembrou de tudo que acontecera com Peter... Aquele dia. Suas lembranças voltaram átona. A deixaram tão tonta que foi preciso beber agua.
- Isso é possível. - Foi o que ela disse. Meio chateada, meio assustada.
- Como?
- Antes de vir para a Europa eu tive um caso com... Com alguém, sabe. - A palavra alguém ficou martelando na cabeça dela. Desde quando Peter havia se tornado tão insignificante ao ponto de se tornar simplesmente "Alguém." - Eu não sabia que... Eu não esperava por isso. - Ela quis chorar. Mais se conteve.
- Você tem uma saída.
- Qual?
- Você pode... Tirar o bebê.- A cena do bebê sendo tirado do seu corpo antes de si quer ter se formado. Antes de ter mãozinhas, pezinhos, antes de si quer ter um coração a deixou terrivelmente assustada. Jamais, ela pensou.
- Não. Nunca farei isso. Seja o que for. É o meu filho, Mathew. Eu jamais faria isso com ele. - Mathew havia começado a soar. Estava nervoso, muito nervoso. Como explicariam tudo aquilo para Victor?
- Calma. Eu resolvo com o meu pai.
- Anna... Você não entende. Esse bebê vai complicar tudo. Pode ser que estrague tudo. - Anna sorriu sacarticamente.
- Então que se complique tudo e que estrague tudo. Porque veja só que engraçado... Não faz nem 10 minutos que eu descobri que eu estou grávida e já estou apaixonada pelo meu filho.
- É filha. - Anna sorriu. Depois gargalhou. - Filha? - Ela repetiu e colocou a mão sobre sua barriga. Sentiu que não conseguiria conter o choro e então chorou. Mais suas lágrimas nunca haviam caido por motivos bons. E aquilo trouxe a ela uma sensação de paz tremenda.
- Vamos para casa. - Ela disse. - Temos muito o que contar. - Mathew engoliu a seco e deu sinal para o motorista seguir em frente.
Quando chegaram em casa Anna procurou Victor mais não o encontrou. Perguntou para Marrie e soube que ele logo voltaria. Então decidiu tomar um banho. Pediu ajuda a Marrie que preparou tudo e logo Victor havia chegado para jantar. O sorriso de Anna ainda estava marcado em seu rosto. Aquilo até assustava Victor.
- O que houve? - Ele perguntou forçando um riso.
- Pai... Preciso que preste bastante atenção no que eu vou te contar. - Victor se ajeitou na cadeira e disse:
- Então conte.
- Se lembra de Peter? - Ela sabia que sim. Então não esperou que seu pai respondesse. - Antes de você voltar nós tivemos um caso. E agora... Digo... Hoje quando eu fui buscar os meus exames eu descobri que estou gravida.
- O que? - Victor se levantou de uma vez. Fazendo um som terrivel. Anna se assustou com o barulho, e com a reação do pai.
- Não pensei que você fosse reagir assim.
- Como não Anna? Por Deus. Diga que isso é uma brincadeira! Como pode me contar isso com tanta tranquilidade? - Victor estava indignado. Os empregados haviam saido de perto e somente Mathew estava na sala de jantar.
- Não é uma brincadeira. - Disse Anna entre dentes. - Eu estou grávida e você querendo ou não vai ser avô de uma linda menininha.
- Anna você não pode ser vista como mãe solteira e cega pela sociedade. Vamos ter que fazer um casamento arranjado... E rapido.
- Um casamento arranjado? - Perguntou Anna sendo cínica.
- Sim. Ser mãe solteira é vergonhoso, Anna.
- E ter um casamento arranjado não?
- Ninguém irá saber que é arranjado. Só precisa durar até a criança nascer. Eu te suplico. - Anna sentiu-se mal por ter deixado seu pai tão exaltado. A alguns dias atrás ouviu seus empregados comentando que Victor estivera muito doente. Que sua imunidade estava baixa e que poderia ter uma recaída. Não queria o prejudicar. Então concordou.
- Eu conheço um ótimo rapaz. Você irá gostar dele.
- Já que é um casamento arranjado, eu quero me casar com Mathew. - Disse Anna.
- Com Mathew? - Perguntou Victor.
- Comigo? - Perguntou Mathew engasgando.
- Sim. Não quero me casar com alguém que eu não conheço.
- Mais nós mal nos conhecemos.
- Se lembra do que você me disse quando eu cheguei aqui? Então... Eu mal te conheço... Mais gosto de você. - Ele sorriu. Victor suspirou e assentiu.
- Tudo bem. Mathew é um medico prestigiado. Formado e muito bom. Concordo com o casamento. Amanhã eu anunciarei.
- Já? Tão rápido.
- Se esperarmos mais... Nós só poderemos viajar para fazer sua operação depois que a criança nascer. O casamento vai ser muito bem arranjado. E vocês... Tratem de fingir bem. - E as coisas foram acontecendo. A noticia que foi espalhada fora que Anna e Mathew se conheceram no jantar no dia em que Anna chegou. Mathew achara Anna encantadora e que Anna ficara sobe os encantos de Mathew. Literalmente o conto de fadas que a sociedade queria ouvir.
Acharam lindo o fato de que Mathew iria pedir uma cega em casamento e por fim terem um bebê. Não ligaram muito por tudo ter acontecido tão rápido. Anna e Mathew se divertiam muito encenando tudo aquilo.
E no final de cada noite eles riam e brincavam com os fatos.
Acontece que nem sempre as coisas conseguem ser de brincadeira por muito tempo. No ultimo jantar cerimonial. Antes do casamento, na hora do beijo aconteceu algo além da brincadeira. Havia sido real. E aquilo havia mexido com os dois.
Não conversaram muito no dia do casamento. E a encenação foi muito mal ensaiada. O beijo foi sem graça e tiveram uma rápida viagem para uma cidade ao lado na suposição de uma lua de mel.
- Enfim... Marido e Mulher. - Ela sorriu e ele só percebeu que estava se apaixonando quando seu coração se acelerou ao vê-la ali linda como sempre e sendo sua esposa.
Ele se aproximou dela e a segurou pela cintura.
- Anna... Preciso te dizer uma coisa. - Ela sabia o que ele iria dizer, só não tinha certeza se queria ouvir. Então o puxou e o beijou. Sabia que o assunto morreria ali e quando voltasse a vida tentaria se desfazer outra vez.
Passaram o dia numa casa de praia e se encontraram com Victor no dia seguinte para irem de viagem ao Brasil a operação de Anna.

Continua...

Aprenda a respirar O1 / O Poeta e a Cega - Parte 11



Foram três dias de viagem. Anna se sentia fraca e desde ontém não conseguia se alimentar bem. Anna e Victor só conversarão o necessário. Mais não era isso que ele queria. Ele havia contratado um medico particular para cuidar de sua filha e acompanha-la aonde quer que ela fosse. Contratou um motorista e cozinheiros. Não queria que nada lhe faltasse. Ter a deixado quando ela mais precisou foi um dos seus piores erros. Ele se condenava por isso. Mais a vida o havia lhe ensinado a ser frio e guardar os seus sentimentos. A ser cauculista e acreditar que o dinheiro compraria vidas.
Faltando pouco tempo para chegarem em casa ele sorriu e disse.
- Fico feliz que você tenha vindo comigo.
- Não fique tão feliz assim... Voltei pelo bem de Peter. - Meio chateado ele concordou.
- Do que você vai sentir falta? - "Peter" ela pensou. Mais não foi o que ela disse.
- Do meu jardim. Vou sentir falta do cheiro das rosas... Do doce das laranjas e do alecrim. - Ela sorriu e a nostalgia a deixou meio tonta.
- Anna... - Ele foi falando baixo. - Espero que você não se sinta ofendida... Mas contratei um medico para ajudar na recuperação da sua visão.
- Como? Todos os medicos da minha cidade já tentaram me ajudar. - Ela tentou sorrir sem muito sucesso. - E como se pode ver... Não conseguiram. - Victor estava chateado. As palavras de Anna vinham como um agua fria. "Ela nunca entenderia."  Ele pensou. Também pensou em desistir de tentou a faze-la feliz, mais continuou.
- Por favor Anna. Nós iremos morar juntos. Preciso que você confie em mim. Me dê uma segunda chance.
- Eu não me lembro de ter lhe dado a primeira.- Respondeu Anna com toda frieza possível.
- Anna... Entendo todo o rancor que você sente por mim. Mais aceite que eu sou seu pai. Vamos morar por um tempo indeterminado juntos. Preciso que você confie em mim. Me dê uma unica chance... Para lhe provar que não te quero mal. Uma chance Anna... Não estou lhe pedindo demais. Quero lhe ajudar, lhe fazer feliz. Lhe dar o tempo que eu te fiz perder. Eu quero fazer o que for preciso para lhe trazer de volta a visão. Nem que tenhamos que ir para o Brasil. Entenda... Eu amo você.
- Me... Me ama?
- Com todas as minhas forças... Anna. Eu sinto muitissimo por ter lhe deixado. Por favor... Aceite os meus cuidados? - Ela não sabia se o que ele estava falando era verdade. Não sabia o que ele queria e muito menos as suas intenções. Mais ele havia pedido uma chance e mesmo que parecesse bobo da parte dela dar uma chance a ele, mesmo que depois ela fosse se culpar caso algo acontecesse. Ela lhe deu uma chance. E o pacto de paz foi selado com um beijo na testa.
Haviam chegado em casa. Anna procurou Rain pelo carro mais ela estava nos braços de seu pai. "Pai... Pai.. Victor. Vic. Hum... Pai é melhor." Ela pensou no melhor para o chamar. Foram recebidos pelos empregados que estavam divididos em duas fileiras, mulheres do lado direito e homem do lado esquerdo. Victor fez as apresentações. Anna não conseguiu gravar o nome de todos, mais logo o medico estava do seu lado descrevendo o que acontecia em sua volta. Ele também descreveu a casa e o andar de cima no qual encontrava seu quarto.
- Seu quarto... Ele foi pintado de branco para representar sua pureza.
- Acredite... Eu não sou pura.
- A pureza não está no corpo, Senhorita Anna. E sim no coração.
- E o que te leva a acreditar que o meu coração é puro?
- É como gostar de alguém que você não conhece, ou mal conhece. Eu não sei... Eu só... Sinto. - Anna ficou paralisada com a resposta. Havia sido tão ágil. Até parecia as respostas de... Peter. Ela o deixava escapar por entre os seus pensamentos. Queria evitar, mais ainda não sabia como.
Ouviu alguém bater na porta. Era uma das empregadas, seu nome era Marrie , na verdade Marrie era quase uma governanta. Ela anunciou que Victor esperava Anna para um jantar. O jantar havia sido anunciado também a alta sociedade para conhecerem Anna.
Marrie preparou o banho de Anna com óleo perfumado e hidratantes. Lhe penteou o cabelo, secou e escolheu sua roupa.
No jantar todos ofereceram ajuda a Anna. Caso ela precisasse. Os jovens rapazes haviam ficado fascinados em Anna, a acharam linda, radiante. Anna tentou fazer parte daquela sociedade desprezível e ignorante, mais caso seu pai perguntasse "Havia sido um ótimo jantar."
Os tempos foram passando. E as visitas aos oftalmologistas eram constantes. "Há Chances." Ela os ouvia dizer e sentia medo de se empolgar demais. Se passaram um mês... Dois meses. Teria que ir pra fora do país para fazer a operação. Antes disso teria que ir ao medico. Fazer exames. E foi o que fez.
No dia de ir buscar os exames o seu medico que agora intimos conversavam melhor. O medico desceu do carro e foi até o balcão buscar os exames de Anna.
Esperou para abrir ao entrar no carro. Foi dizendo:
- Está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem. - Até que ele ficou em silencio. E aquilo a preocupou muito.
- Por Deus Mathew. O que tem ai? Eu vou morrer?
- Anna você...
- Eu?
- Você está gravida.
- O que?


Continua...

19 de ago. de 2011

Sem que insista / O Poeta e a Cega - Parte 1O



- Anna, Anna, Anna. - Ela ouviu alguém insistir em chama-la. Não queria acordar, não queria ter que encarar aquela realidade. Qualquer outra realidade ela até encararia tranquilamente, mais aquilo? Parecia peça do destino.
Teve certeza de estar nos braços de alguém, pensou que seria Peter mais se enganou. "Eu nem sei o nome dele... Como posso o chamar de pai?" Ela pensou. E sentiu uma certa raiva. Afinal de contas... Tudo bem que ele era o pai dela, mais isso não o fez pensar antes de deixa-la, antes de deixar a sua mãe. Se ele tivesse ficado e ajudado a Judite talvez ela até estivesse viva.
Ele foi embora... Sem muitas delongas, sem mandar cartas pelo menos para dizer se estava bem ou não. Ele sempre fora ausente e de repente queria a levar embora. Ela não podia. É claro que não.
Anna resolveu acordar e resolver esse assunto. Resolveu que não iria embora e que seu pai ouviria umas poucas e boas. Se levantou lentamente, ainda estava um pouco tonta e se apoiou em Peter.
- Como você está bela, minha filha. - Disse seu pai.
- Por favor... Não me chame de minha filha. Eu nem siquer conheço você. - Ela disse cuspindo veneno. Victor sorriu e se aproximou de Anna.
- Isso não é tão difícil de resolver... Eu sou Victor, o seu pai. Vim busca-la para ir morar comigo na Europa e ter uma vida digna. Longe desse campo.
- Eu não quero ir... Quero dizer... Eu não vou!
- Você não decide. É menor de idade, então facilite as coisas para mim, Anna. Tenho certeza que você não é tão infantil quanto quer parecer ser.
- É claro que eu decido. Pelo que eu sei você deixou a mim e a minha mãe quando eu havia acabado de nascer. Nunca ligou para saber como eu estava e o que acontecia comigo. Muito menos com a minha mãe, que se você estivesse aqui talvez teria cuidado dela melhor do que eu... A propósito, eu sou cega. Você sabia?
- Eu sei de tudo que se passa por aqui Anna.
- Só não se importa.
- É claro que eu me importo... Veja só, convenci um grande amigo meu a encaminhar Peter para Los Angeles para publicar o seu livro. Peter será um grande poeta... Mais isso... Se você vier comigo. Se você não vier, claro, vou te levar a força e Peter não vai conseguir ser escritor nem de placa de banheiro.
- Anna... Não vá. - Peter pediu.
- Mais Peter você vai ter uma grande oportunidade, imagine. É o seu sonho.
- Anna, eu troco ele por você... Eu suplico... Não vá.
- Você é um poeta, Peter. E eu sou uma cega. Eu não tenho o que você quer.
- Você é o que eu quero. - Victor tomou a frente de Peter e tocou os ombros de Anna.
- Imagine só Anna. Peter teria tudo. Ele seria um prestigiado escritor. Um grande poeta. Ele realizaria o sonho dele. E aqui... Aqui não é lugar pra você. - Ele disse num tom meio enojado ao se referir do lugar.
- Você me promete? - Perguntou Anna para Victor.
- Anna por favor não... - Ele disse com a voz trêmula. Se não estava chorando, estava quase.
- Peter... Me desculpe. Não posso fazer isso com você. É o seu sonho. Entenda que também é importante para mim ver você bem.
- Então fica! Porque se você for eu não vou ficar bem. Longe disso. Eu adoeceria.
- Não posso... E por favor me entenda. - Anna estendeu os braços e Peter a seguro. Ela se aproximou dele e   o selou a boca. "Eu te amo." Ela sussurrou e ele sentiu seu corpo ficar gelado e seu coração palpitar. "Sempre amei... E sempre vou te amar." Ela sorriu e foi se afastando.
- Victor... Eu tenho uma gata... Eu quero leva-la.
- Uma gata sarnenta? Faça-me o favor Anna. Não a necessidade.
- Tem certeza? - Ela perguntou nervosa.
- Argh! Tudo bem...Pegue seu saco de pulgas. Não precisa fazer suas malas, você vai comprar roupas novas.
- Peter pode ir busca-la para mim?
- Claro. - Ele disse e se foi. Rain estava no quarto de Anna como sempre, ele a pegou e a colocou em seu colo.
- Rain... - As lágrimas se acumularam tão rapidamente em seus olhos que foi impossível conter. - Cuide dela por mim... Eu prometo que logo eu irei busca-la. Prometo ir buscar vocês. Cuide dela, ok? - Sem ter mais o que pedir a Rain ele desceu as escadas como quem carregava o dobro do peso do corpo, talvez até o triplo.
Ele entregou Rain para Anna que o abraçou forte e depois se foi. Victor a segurou pela mão e a levou até um carro preto.
Anna sorriu e acenou para Peter antes de entrar no carro e ele apenas acenou de volta. Não havia motivos para sorrir. Ele nem sabia se havia algum motivo.
Victor se aproximou de Peter e lhe entregou um cheque de novecentos mil dólares.
- Compre algumas roupas novas. Ajudarei no seu progresso o mais rápido possível. Obrigada por ter cuidado de Anna. - E assim ele se foi. Levando junto dele o que ele havia sido e o que ele tinha conquistado. Estava levando embora quem ele amava e isso doía demais.
Assim que Victor entrou no carro e bateu a porta Anna suspirou. Tão dolorosamente que não aguentou e chorou, chorou por um logo tempo que adormeceu. Rain estava aninhada em seu colo o tempo todo, ela era parte dele. Era parte de uma bela lembrança e aquilo seria para toda vida.

Continua...

17 de ago. de 2011

Falsos laços sentimentais / O Poeta e a Cega - Parte O9



Anna pensou em se levantar, mais se sentia muito mal. Estava fraca e meio tonta e podia sentir seu corpo ficando gelado.
- Anna o que está acontecendo? O que você comeu? - Perguntou Peter enquanto tirava os cabelos de Anna do rosto dela e os prendia na nuca. Ele pegava um pouco de agua e molhava a testa dela para limpar o suor que se acumulava rapidamente.
- Eu... Eu comi todo o bolo que você fez com calda de chocolate. Não me sinto bem. - Ela respondeu com a voz fraca, quase não dava pra ouvir.
- Você comeu todo bolo?
- Hã... Sim.
- Então é por isso que você esta passando mal. Venha... Saia dessa agua, ela já está fria. A quanto tempo você está ai? - Ele foi a questionando enquanto pegou uma toalha no armário do banheiro, a secou e a levou para cama.
Anna soltava alguns gemidos de dor e apertava sua barriga. Podia notar o quanto ela estava se sentindo mal. O contorno na sua boca estava ficando branco e ela soava frio sem parar.
- Peter... Eu... Ai! - Ela tentava falar em meio as pontadas que sentia na barriga. - Eu acho que...
- Psiu. Fique quieta! Tome, peguei uma roupa para você. - Ele a vestiu com cuidado, preparou um chá e logo ela dormiu. Peter não saiu nem por um minuto do lado de Anna. Ela parecia tão frágil... Tão fraca.
Quando ele observava Anna sempre sentia vontade de desistir de Los Angeles. "Ela nunca aceitaria" Ele pensou. "Se eu ficasse... Ela não aceitaria o fato e muito menos a mim." "E o que fazer quanto se deve escolher entre o seu amor e o seu sonho?" "Eu escolhi o meu amor e ele insiste para que eu vá sonhar..." "Eu jamais vou entender."
Ele pensou... Pensou tanto que sentiu a cabeça doer. Não queria ir para Los Angeles e era isso que ele faria. Não podia simplesmente deixar Anna ali. Ela não conseguiria se cuidar, e as pessoas eram muito más para ele confiar em alguém para cuidar de Anna enquanto ele estivesse fora. Mentiria para ela se fosse preciso. Ficaria fora por dois ou três dias e diria que ele poderia mandar seu trabalho por correio. A idéia era ótima, ele continuaria  planejando antes de dormir... Porque parecia que as idéias surgiam com mais facilidade.
- Peter... - Anna o chamou.
- Anna! Eu estou aqui. - Ele disse a segurando pela mão.
- Eu estou com fome. - Ele riu se sentindo aliviado por ela não estar mais se sentindo mal.
- Ok. Vou preparar algo para você comer, não saia da cama.
- Ok. Eu quero macarrão.
- Macarrão?
- Sim. Com muito molho.
- Você não gosta de muito molho.
- Mais eu quero muito molho.
- Tudo bem, volto já. - Peter foi para o segundo andar da casa e pegou os ingredientes para fazer o macarrão. A agua já estava fervendo e ele foi preparando tudo com muito carinho.
- O que falta? hã... Ah sim! O tempero. - Ele estava indo pegar o tempero quando alguém bateu na porta. Ele achou aquilo estranho. Ninguém ia ali, a não ser que fosse convidado ou algo assim. Esperou um pouco e bateram outra vez.
Ele não soube porque mais sentiu seu coração martelar, como se estivesse quase parando.
- Peter quem é? - Anna gritou do quarto de cima. Assim que ele abriu a porta ficou paralisado. Um homem que estava muito bem vestido. Com roupas finas e um sobretudo preto. Ele usava um chapéu que combinava com a cor da roupa e sorriu ao ver Peter.
- Olá Peter. Como você cresceu. - Disse o homem. Peter arqueou as sombrancelhas.
- Quem é você?
- Não se lembra de mim? - O sorriso do homem aumentou ainda mais. - Sou eu, Victor... O... O pai de Anna. - O silencio tomou conta do lugar. E Victor mantinha seu sorriso vivo e ardente. Peter não entendia o motivo dele estar ali. Ou então não queria entender.
- Não vai me convidar para entrar? - Perguntou Victor.
- Sim... Claro, en... Entre. - Victor entrou e observou a casa com cautela. E disse:
- Onde Anna está?
- O que você veio fazer aqui? Soube que a tia Judite morreu?
- Eu sei de tudo Peter. E se quer mesmo saber o que vim fazer aqui, vou te dizer... Vim buscar Anna, ela vai embora comigo para a Europa.
- Não, ela não vai.
- E quem é você para dizer o que ela vai e o que ela não vai fazer. - Peter ficou calado. E se fez a mesma pergunta, "Quem era ele para dizer o que Anna faria ou não?" Aquilo doeu. Tão profundamente que ficou sem reação.
Anna estava parada no primeiro andar e procurava o corrimão com a mão direita.
- O que está acontecendo? - Perguntou.
- Meu amor... Sou eu, seu pai.
- Pai? - Anna estava sem reação. Descia lentamente a escada e ao chegar onde seu pai estava ele a abraçou, Anna ficou tonta e então desmaiou.

Continua...

15 de ago. de 2011

O pior cego não é aquele que não enxerga é aquele que não quer ver. / O Poeta e a Cega - Parte O8



O mês foi chuvoso, os intervalos eram curtos e frios. Tudo estava bem entre Peter e Anna. Já não comentarão mais sobre a ida dele para Los Angeles, afinal de contas a decisão já havia sido tomada.
- Mais tarde eu vou na cidade. - Disse Peter sentado no chão enquanto observava Anna fazer uma trança em seus cabelos. Eram tão longos que no meio da trança Anna parava para descansar os braços. A alça do vestido dela estava caido deixando a mostra o seu ombro. Podia parecer bobeira, mais Peter conseguia ficar hipnotizado por Anna.
- Tudo bem. - Ela disse e isso o incomodou. O fato de parecer que Anna nunca se envolvia por completa ou de não se importar com quem e pra onde ele iria o incomodava. Ele suspirou fundo na intenção de chamar a atenção dela, mais não funcionou. Ela parecia estar... Cansada dele.
- Vou voltar tarde. - Ele tentou mais uma vez.
- Ok. - Ela respondeu friamente.
- Anna o que está acontecendo?
- Deveria estar acontecendo alguma coisa?
- Não sei, deveria?
- Peter... Olha só, eu não estou me sentindo bem. Não sei o que está acontecendo, estou morrendo de sono. Quando você chegar a gente conversa, pode ser? - "E tinha escolha?" Ele pensou. "Distúrbio de personalidade múltipla... Só pode ser", "Ainda bem que ela não lê pensamentos... Ou lê?" Ele a olhou pelo canto do olho como se houvesse mesmo a possibilidade dela ler pensamentos e saiu do quarto.
Não quis bater a porta para não parecer dramático demais e achou que o melhor seria esquecer. Fez um sanduiche de geleia e creme de amendoin e comeu, mais continuou sentindo fome e fez outro.
A chuva estava cessando vagarosamente e sem piedade assim que a chuva parava o frio vinha com toda a sua força.
Peter calçou suas botas e se agasalhou, saiu de casa sem se despedir de Anna, e pra ser sincero consigo mesmo... Ele até havia se esquecido. Ao ouvir a porta no andar de baixo batendo Anna sentiu vontade de chorar. Nos últimos dias ela andava abalada sentimentalmente. Com um certo tipo de medo ou até mesmo arrependimento.
- Eu mesmo não me entendo... - Disse para Rain. A gata estava deitada sob sua barriga e ronronava como resposta. - As vezes eu me sinto tão bem com ele, outras eu sei lá... Fico enjoada. Como se você passasse o dia todo comendo doce. - Anna suspirou. - E falando em doce... - Ela se levantou deixando a gata no chão e foi apalpando a parede até chegar na porta. Desceu as escadas direto para a cozinha.
- Eu sei que o Peter fez um bolo de chocolate ontém. - Ela disse para se mesma. - Deve estar na geladeira. Assim como a calda de chocolate. - Apalpou tudo na geladeira até encontrar o que queria. Primeiro deixou o bolo na mesa e depois a calda. Procurou alguma cadeira com as mãos e assim que encontrou se sentou.
Comeu, comeu todo o bolo, e depois que bebeu agua perecia ainda sentir fome mais não comeu. Continuou sentada ali na sala e de repente sentiu uma vontade imensa de chorar. Colocou as mãos na testa, como se sentisse que sua cabeça fosse explodir e chorou. Não sabia e nem imaginava o porquê, mais algo incomodava. De repente o choro virou raiva. Começou a despejar a calda de chocolate na boca mais parou assim que sentiu a saliva voltar quente da sua garganta para a boca. Ela queria vomitar.
- Peter. - Ela o gritou, mais não havia nada ali do que ela e o silencio. Ela tapou a boca tentando evitar que aquilo acontecesse ali e procurou num ato de desespero a escada.
Subiu rapidamente tropeçando algumas vezes e entrou no banheiro. "Aquela calda deve estar estragada. Estava mesmo com o gosto ruim." Pensou. Sentia o gosto ruim na lingua, se sentia incomodada e resolveu tomar um banho.
Fraca. Ela se sentia fraca. Se deitou na banheira como se seu corpo suplicasse por aquilo, suplicasse para que ele ficasse quieto. Colocou os braços sobre a beirada da banheira e ficou ali.
"Ondas..." Ela pensou. Pelo movimento em que a agua fazia na banheira fez com que ela se lembrasse da primeira vez que beijou Peter. Então Anna sorriu e adormeceu.
Anna estava com uma venda nos olhos. - O que é isso? - Ela perguntou. - Uma surpresa. - Pela voz, ela logo reconheceu que era Peter. Então ela sorriu, sem nenhum motivo, só pelo fato dele estar ali. 
Ele a segurava delicadamente pela mão e a levou para algum lugar com um cheiro bom. Cheiro de bolo de laranja. Um cheiro doce e agradável. 
- Preparada? - Ele perguntou. 
- Sim. - Ela sorriu e ele foi tirando a venda que lhe tampava os olhos. Um espelho. Espera. Ela estava enxergando. Perfeitamente. Estava vestida com vestido longo e azul claro. O cabelo esta cheio de cachos e os seus olhos tinham a cor de mel. Ela sorriu tão impressionada e maravilhada que queria gritar. 
De repente notou que estava no vale e o espelho já havia desaparecido. Peter estava atrás dela com um sorriso cheio de ternura. "Ele é lindo" Ela pensou. Estava vestido com roupa de gala e seus olhos eram de um azul celeste incrível. Anna se lembrou das historias sobre anjos que sua mãe contava para ela. 
- Obrigada. - Ela agradeceu sem mesmo saber se havia voltado a enxergar por causa dele.
- Eu não fiz nada. - Ele disse a beijou. Ela devolveu o beijo com a mesma intensidade, com o mesmo carinho e desejo. Assim que parou o beijo e dedicou um tempo para o observar ainda mais, notou que quem estava ali já não era Peter. Era outra pessoa. Alguém que ela não conhecia. Um homem louro dos olhos escuros. Sem expressão de sentimento. Sem nada.
- Aonde está Peter?
- Ele não faz mais parte da sua vida. - O homem louro respondeu.
- É claro que faz. Ele estava aqui... A pouco tempo. - Ela estava ficando desesperada.
- Foram apenas lembranças.
- Traga Peter agora mesmo.
- Não posso.
- É claro que pode. Traga Peter agora mesmo.
- Você pode escolher... Viver com Peter e ser cega. Ou poder enxergar e viver sem ele. 
- O que?
- Eu sei que você já escolheu. - O homem louro foi desaparecendo. Aliás... Tudo foi desaparecendo. A escuridão estava tomando conta do espaço e tudo que ela podia era ouvir alguém chamando seu nome. "Anna, Anna... Acorde por favor. Anna!" - Anna foi abrindo seus olhos devagar. A luz fez sua cabeça doer. Peter... Era Peter que estava chamando por ela. Ela podia o sentir, bem ali... Na sua frente.
Queria poder o abraçar, mais antes disso sentiu vontade de vomitar outra vez.

Continua...

10 de ago. de 2011

Em Você / O Poeta e a Cega - Parte O7


Os beijos foram se tornando algo mais intenso. As mãos de Peter dançavam embaixo da blusa da Anna. Ela pensou em se afastar mais logo mudou de idéia.
Peter se atrevia, puxava a blusa de Anna na intenção de tira-la, rasga-la, o que fosse. E Anna apenas o seguia.
O cabelo de Anna havia se soltado, grudava no corpo dela junto com o suor, junto com o desejo. A respiração descompassada de Anna arrancava alguns risos de Peter.
- Vamos subir? - Ele perguntou.
- Não Peter, acho melhor pararmos, isso já foi longe demais.
- Não... - Ele disse e a pegou no colo. - Não foi não. - Ele a levou para o quarto e a beijou. Tirou sua blusa e em seguida a de Anna.
O mundo lá fora já não importava, já não existia. Eles ficaram ali o dia todo. Dormiram juntos e fizeram tudo que podiam juntos. Anna não se sentia sozinha, sempre que Peter saia ela se divertia com Rain.
Peter havia deixado amostras de seu trabalho em muitas editoras e sempre antes de dormir ele recitava algum de seus poemas para Anna. "Você me inspira, Anna" Ele dizia. E sempre que ela se lembrava das palavras bem formuladas dele ela sorria.
Teve um dia que Anna estava tomando banho e Peter havia saido, assim que ela saiu do banho e se secou Peter chegou e a fez tomar banho outra vez com ele. Eles se davam bem, brigavam por besteira mais logo reconheciam isso e pediam desculpas. Enquanto estavam deitados na cama, no quarto de Anna, Peter disse:
- Uma editora resolveu publicar o meu livro de poemas.
- Isso é ótimo, Peter!
- É... Hum...
- O que foi? Você não parece ter gostado, não era tudo que você queria? - Ele sorriu.
- Digamos que meus planos mudaram.
- Por favor, Peter... Diga coisas desse tipo. Não se desiste de um sonho.
- Anna... Eles querem que eu vá para Los Angeles. - Anna engoliu a seco.
- Los... Mais... Por que?
- Querem publicar meu livro lá... Mais eu não vou.
- Não posso te pedir pra ficar, Peter.
- Nem me obrigar a ir. - Anna se virou e ficou deitada de costas para Peter. Ele tentou a abraçar, mais ela se afastava, sabia que se continuasse tentando ela sairia dali.
Os dois acabaram dormindo. Não conversaram até o jantar.
- Anna eu já disse que eu não vou.
- Você não está pensando no futuro.
- Eu estou pensando em você, Anna. Que droga! Isso não basta?- Peter havia perdido a paciência. Era tanta coisa pra pensar, era tanta coisa a fazer e ele não podia simplesmente a deixar sozinha. Mesmo que ela quisesse, mesmo que ele quisesse. Ele já estava tão envolvido com Anna, que doía pensar em deixa-la, era inevitável.
- Não, não basta. Você tem que viver, Peter. Vai se trancar aqui e viver cuidando de mim? Eu também não quero isso.
- As vezes parece que você não me quer com você.
- Eu te quero comigo, Peter. A tempos não me sinto tão feliz. Mais você não pode perder essa oportunidade. Por favor, diga que vai aceitar.
- Tudo bem, Anna. - Ele concordou não muito feliz, mais Anna também não ficou, depois de ter conseguido que Peter aceitasse ir para LA agora ela devia se preparar para o adeus. E muito mais doloroso que um adeus inesperado, é um adeus esperado. Porque ela acreditava que a dor do adeus inesperado ela sentiria depois.
- Vem cá. - Ele disse e a puxou para um beijo. - Você acha que é cedo para dizer que eu te amo?
- Acho.
- Ainda bem que eu não me importo. Anna, eu amo você.
- Psiiiu. - Ela sibilou e o beijou. Na verdade o que ela queria mesmo era fugir do assunto. Era certo que ela o amava, mais se ela dissesse talvez o fizesse desistir de Los Angeles. Então ela ficou em silencio.
"Eu também amo você, Peter. Inconseqüentemente" Ela pensou e o abraçou... Antes que ele pudesse ir.

Continua...

9 de ago. de 2011

Na verdade. / O Poeta e a Cega - Parte O6


Anna deixou os braços cair no mar, e foi parando o beijo lentamente. "Cuidar de mim? Eu preciso de cuidados?", ela pensou. Logo em seguida pensou em mais um milhão de coisas que não conseguiu separar e entender.
- Eu não preciso de cuidados Peter.
- Não é desse tipo de cuidado que eu estou falando, Anna. Sei que você pode se virar. Eu quero cuidar de você sentimentalmente... Sabe?
- Não, eu não sei. Peter nós somos primos.
- Anna não me venha com essa, você sabe que é de consideração. - Anna estava nervosa. Sentia o frio com mais intensidade e mesmo assim a ponta do nariz soava. Ela passava os dedos entre os cabelos para disfarçar o medo e a inquietação.
- Como você pretende ter um relacionamento comigo, Peter? Por Deus. Eu sou cega, eu não consigo ir muito longe sem que alguém pegue na minha mão, ou me leve até lá. Eu não quero que você viva preso a mim, tendo que cuidar de mim, porque eu sou incapaz de fazer muitas coisas sozinha. Você pode ter uma vida feliz, pode ter filhos lindos e uma ótimo esposa, que possa cuidar dos seus filhos e da sua casa quando você não estiver, mais eu não vou ser ela. Eu não posso.
- Você é cega, você não é um vegetal, nem nada disso. Você pode ter filhos e cuidar deles como você cuidou da sua mãe. Você pode ser feliz porque a cegueira não te roubou o sorriso, nem a vida. Roubou a sua visão. Mais se você quiser, se você me deixar... Eu posso enxergar por você. Eu posso ser os seus olhos. E jamais seria um fardo cuidar de você, Anna... Por favor... - Anna queria poder fugir dali, mais não sabia pra onde ir porque havia chegado ali carregada.
- Peter me leva embora. - Foi tudo que ela disse. Não deram uma só palavra em toda a volta. Poucos minutos depois que chegaram em casa uma ventania muito forte começou e trouxe com ela chuva e trovoadas.  Peter arriscou em fazer uma sopa de legumes. Anna jantou e logo voltou para o quarto. A chuva não cessou e no dia seguinte foi da mesma forma.
Anna resolveu sair do quarto sem muito entusiasmo, se sentou no chão da sala e ficou lá ouvindo o barulho da chuva. Ouvia algo bem baixinho, parecia um... Miado! Tinha um gato na chuva.
- Peter... Peter... Peter... Vem aqui, corre! - Ela o chamou desesperadamente. Peter apareceu na sala rapidamente de meias e quase escorregou.
- O que aconteceu? - Perguntou ele assustado.
- Tem um gato na chuva, ajuda ele.
- Como você sabe?
- Escuta só. - Peter ficou em silencio e depois de um tempo ouviu o gato miar.
- Esta chovendo, Anna. Deixa ele lá fora, deve estar fedendo. - Anna cruzou os braços e sem pedir outra vez disse:
- Então eu vou! - Peter riu e a puxou pelo braço.
- Não, deixa que eu vou. - Peter pegou a capa de chuva e saiu. Depois de quase dez minutos ele voltou.
- Esse seu gato é tão difícil quanto você! - Ele disse. Anna sorriu.
- Como ele é?
- Bem... Ele é preto e branco. E é ela. É femea.
- Que linda. Como vamos chamar-la?
- Anna II.
- Há! Engraçadinho... Que tal Rain?
- Rain? É... Gostei. Vou pegar um pano para secarmos ela.
- Tudo bem. - Peter saiu e logo estava de volta com um pano. Ele secava Rain com cuidado.
- Fique aqui a secando, vou pegar um pouco de leite para ela e procurar uma caixa para ela poder dormir. - Anna fez que sim com a cabeça e pegou Rain no colo, a secando carinhosamente.
Depois de seca, Rain tomou seu leite e dormiu em uma caixa improvisada por Peter. Anna havia amado a idéia de ter uma companhia. "Mais o Peter também é minha companhia" ela pensou. Mais sentiu raiva de si por ter pensado.
- Anna... - Peter chamou
- Hãm?
- Me desculpe por ontém... Não fique chateada comigo.
- Não estou chateada com você Peter... É que foi um susto pra mim.
- Ok, vamos esquecer isso.
- Esquecer? - Anna se sentiu mal. Por que ela iria querer esquecer? Ele não havia gostado? Anna pensou que Peter insistiria para que ela aceitasse o pedido dele, mais aconteceu o contrario, ele pediu desculpas e para esquecer?
- Sim, não quero que você fique chateada comigo.
- Mais...
- Quer pipoca?
- Hã... Sim. - O resto da semana foi sendo assim... Chuvoso e sem muito calor da parte de Peter. Se sentindo culpada demais, numa tarde quando Anna estava deitada no sofá ouviu Peter passando por ali.
- Peter fica aqui comigo. - Ela chamou. Peter se aproximou e Anna sentou no sofá para o dividi-lo, mais Peter sentou no chão.
Já nervosa, não acreditando que Peter era tão incapaz de ver que ela estava fazendo o possível para que ele podesse perceber que ela o queria. Ela se levantou.
- Você só pode estar brincando comigo. - Peter se levantou rindo e ao mesmo tempo assustado.
- Do que você está falando? - Ele perguntou reprimindo a gargalhada.
- Do quanto você é idiota. Você não percebe?
- O que eu deveria perceber?
- Que eu... - Anna tentou dizer "Que eu também quero você", mais era muito mais facil imaginar do que fazer. Então não conseguiu. - Argh! Esquece... Vou dormir. - Ela disse e saiu batendo os pés. Peter gargalhou quando pode a puxou pela blusa e disse:
- Eu também quero você. - E a beijou mais uma vez. Mais dessa vez sem pausas, sem a deixar escapar, sem deixar aparecer motivos para ela querer ir embora... Sem nenhum motivo além dos dois.


8 de ago. de 2011

Um adeus silencioso / O Poeta e a Cega - Parte O5


Havia se passado algumas semanas desde que Judite morrera. Os dias vinham se arrastando e eram pouco agradáveis.
Anna dificilmente saia de seu quarto... Algumas vezes descia para tomar chá e logo voltava. Peter se perguntava se ela voltava a dormir ou a pensar. Ela vivia... Se é que vivia, como quem estava muito doente. Mal comia, mal bebia... Por entre outros males.
O inverno se aproximava e a temperatura caia visivelmente. As seis da tarde o sol já havia se escondido e o frio chicoteava a pele de quem se arriscava a andar por ai sem casaco.
"Onde deve estar mais frio? Lá fora ou aqui dentro?" Pensou Anna pousando a mão no peito. "... Acho que aqui dentro... O frio que bate lá fora é o mesmo frio de todos os invernos... O que frio que está aqui dentro é o por..."
- Anna... - Chamou Peter em seguida três batidas na porta toc toc toc. Ainda com a mão no peito, Anna sentiu o ritimo do seu coração mudando... Ele estava... Acelerado.
- O que é isso? - Anna perguntou olhando para seu peito. - Como você se atreve a me trair desse jeito?
- Anna, está tudo bem? - Chamou Peter outra vez. Anna se levantou, ajeitou a roupa que estava e abriu a porta.
- Hã...  Oi. - Peter a observou da ponta dos pés até seu rosto.
- Anna...
- Peter? - Peter sacudiu a cabeça e voltou a falar.
- Como você está?
- Como quem perdeu a mãe a uma semana. - Peter respirou fundo.
- Sei que não é fácil Anna, mais entenda... Já se passaram uma semana, você não pode se trancar e viver a base de chá. As coisas não são fáceis, você mais do que ninguém sabe disso. Elas nunca foram e nunca vão ser... São coisas da vida... Eu ainda não entendi e vai por mim, eu tenho certeza que nem vale apena saber. - Anna ficou em silencio como resposta. Ela havia entendido, só não conseguia esquecer, e era isso que a torturava.
- Vou fazer o jantar, tudo bem? - Disse Peter. Anna sorriu... Quase gargalhou.
- Sei... E o que vamos ter para o jantar?
- Espaguete.
- Hum... Eu gosto de espaguete.
- É minha especialidade! Você vai lamber os dedos.
- Eu não como com os dedos.
- Ok. Os beiços. - Eles gargalharam e quando Peter ia saindo ele disse:
- Amanhã vamos a praia.
- Você ficou maluco? Está frio lá fora, vamos congelar, ficar doentes.
- Por Deus, Anna... Quando você vai se permitir viver? - Foi o suficiente para calar Anna. Peter sorriu ao perceber que tinha vencido e desceu para fazer o jantar.
Anna tomou um longo banho, até se sentiu mais leve. Quando terminou de se vestir sentiu o cheiro do espaguete e percebeu que estava com muita fome. Se vestiu e secou seus cabelos. Fez uma trança mal feita, e desceu para poder jantar.
- O cheiro está bom. - Ela disse.
- Não só o cheiro... Estou quase terminando.
- Tudo bem. - Anna desceu as escadas e procurou as cadeiras com as mãos e se sentou. Brincou com os talheres em cima da mesa.
- Pronto. Aqui está. - Disse ele e de repente Anna sentiu o vapor quente do macarrão em seu rosto. O cheiro era tão bom, que ela não pode evitar que seu estomago fizesse barulho.
Ela sabia que estava vermelha, então preferia ficar de cabeça baixa. Comeu tudo que conseguia, comeu tanto que sentia seu estomago dilatado.
- Ai... Fazia tempo que eu não comia tanto. - Peter riu.
- Verdade... Parecia que fazia anos que você não comia... Hã... Direito. - Anna gargalhou e mostrou lingua. Era absolutamente confortavel ficar com Peter e era da mesma forma para ele.
Eles foram para a sala e Anna deitou no ombro de Peter... Enquanto ele descrevia alguns filmes que ele dizia serem mal feitos, ou os comparava com os livros que havia lido, Anna ia adormecendo. Depois de algum tempo Anna dormiu. Bem ali, no ombro dele. Fazendo o coração dele derreter de calor, de medo, de proibição. Ele desligou a televisão somente para ouvir a respiração dela e a deixou dormir ali por algum tempo. Depois a levou para o quarto.
Peter dormiu como a tempos não dormia, calmo, sereno. No dia seguinte quando Anna acordou sentiu o cheiro de chá, ao descer escutou Peter cantarolando e riu. "Que boba eu estou. Rindo porque ouvi meu primo fazer barulho com a garganta" Pensou.
- Ei... Você. Tome seu café da manhã para irmos a praia.
- Então você falava sério?
- Sim. E te levo nem que seja nos braços, então trate de comer logo. Antes que fique ainda mais frio. - Anna obedeceu, a idéia parecia ser tão agradável agora.
Logo eles estavam prontos. Anna pegou uma saia longa que a tempos não usava, e qualquer blusa. Encontrou Peter na cozinha.
- Você está linda. - Disse ele.
- É até estranho você dizer isso. Soa até como brincadeira.
- Por que?
- Eu não enxergo, me visto de qualquer jeito e você diz que eu estou linda.
- Sim... Eu disse que você é linda, não as roupas que você usa.
Chegaram a praia, perto das montanhas, o vento que batia era frio e machucava. Anna se sentou na areia e soltou os cabelos que estava preso na nuca. Tentou fazer uma trança mais o vento não deixou.
- Está frio. - Ela disse.
- Você... É muito exagerada, e não vai sair daqui sem entrar no mar.
- Ah... Eu acho que vou sim!
- Quer ver como você não vai? - Ser dar tempo para que Anna pensasse, Peter a pegou no colo e andou até o mar, enquanto Anna se contorcia e pedia para Peter parar ele gargalhava.
- Peter por favor, para! A agua deve estar um gelo. Peeeeeter. - Entraram na agua. Na verdade ele se jogou, para que ela pudesse se molhar por completa, queria que ela pudesse sentir qualquer coisa que não fosse solidão. Eles voltaram átona. E com um ar desesperado Anna começou a estapear Peter.
- Como você... Eu quase... Eu. - Peter a segurou pelos ombros e lutando muito pra não fazer, ele fez. A beijou, tão intensamente e com tanta vontade que já não sentia frio. Anna não sabia muito bem o que estava acontecendo, mais estava se sentindo tão bem que se entregou ao momento. Pousou as mãos no rosto de Peter e o acompanhou. As mãos que estavam nos ombros desceram até a cintura de Anna a arrepiando.
As ondas batiam delicadamente em suas pernas e o vento trazia os cabelos de Anna para o rosto. Peter abraçou Anna sem parar o beijo e sibilou "Me deixa cuidar de você".

Continua...

5 de ago. de 2011

Decepção O1 - O Poeta e a Cega / Parte O4



- Tia? Tia... Por Deus... Responda! - Peter ficou desesperado, tomou Judite nos braços e a colocou na cama. Ele a chamava mais sabia que ela não responderia. Judite estava morta.
Peter pensou em tudo, principalmente em Anna. "Meu Deus, qual será a reação dela?" Ele pensou... Se sentiu tão desamparado e assustado que começou a chorar. Se sentou no chão ao lado da cama com as duas mãos no rosto e abafou o choro "Não pode ser" ele repetia baixo, inúmeras vezes.
Se levantou e correu até a cidade, levou quase meia hora para chegar lá. Passou pelo vale e não deixou de pensar em Anna assim que ele viu aqueles alecrins. Chegou até a cidade e foi a Igreja, conversou com o Padre que mandaria alguns homens buscar o corpo de sua tia logo em seguida.
Peter não podia ficar muito tempo na cidade... Ele havia deixado Anna dormindo no jardim e se ela acordasse e procurasse sua mãe? Ou se procurasse por ele. Se despediu do Padre e correu de volta para a casa da Anna. Aquela casa... Aquela casa era afastada de tudo, era calma e a área era tão verde. Havia alguns pinheiros tão altos atrás da casa, que pareciam não ter fim.
Algo naquela casa fazia ser aconchegante. Era como passar um tempo fora de casa e voltar no natal, teria biscoitos e leite quente encima da mesa. Sua mãe te entregaria um cachecol e você ficaria sentado no tapete em frente a lareira tomando seu leite.
Entrou na casa de Anna e foi direto para o jardim. Debaixo do pé de laranja estava uma figura de pele branca, cabelos castanhos e olhos pretos. O vestido era rosa claro, o que parecia a deixar ainda mais branca e destacava seu cabelo.
Ele sentiu vontade de desenhar... Embora não soubesse. Mais queria trazer a mesma tranquilidade que aquele sono estava trazendo para Anna.
Se sentou perto dela e a observou por quase oito minutos. Anna foi abrindo seus olhos lentamente e olhou na direção de Peter. "Ela estaria me enxergando?" Ele pensou. Mais se considerou estúpido. É claro que ela não estava o enxergando... Mais era tão confuso ela olhar na direção em que ele estava, como se soubesse que quando acordasse ele estaria ali para cuidar dela. Ela sorriu, mais não por muito tempo. Desfez seu sorriso em questão de segundos e se sentou.
- O que aconteceu? - Ela perguntou. A sua voz estava carregada de medo. - Por favor, não me diga que... - Antes que ele contasse, antes dele siquer ter insinuado, ela soube. Se levantou desesperadamente e começou a correr. Tropeçou em uma pedra que estava perto dos alecrins e caiu. Peter correu até ela para ajudar e ela o empurrou. Chorou tão dolorosamente que o feriu por dentro. O magoava a ver daquele jeito, sentada no chão, com os cabelos cheios de folhas e o vestido que havia se sujado com a terra.
Ele sabia que ela não iria querer ajuda, e ela sabia que ele sabia. Anna se levantou em silencio, bateu as mãos no vestido na tentativa de o limpar e entrou em sua casa. Foi direto para o seu quarto, subindo as escadas como quem não carregava só o seu peso, mais também o peso do mundo.
Depois de alguns minutos os homens que o Padre mandara haviam chegado. Peter os atendeu os levou até o quarto de Judite que ficava no andar debaixo. Eles a enrolaram em um lençol branco e a colocaram dentro de uma carroça, puxada por um cavalo.
- O Padre pediu para dizer que a missa será amanhã de manhã. As nove horas. - Disse um dos homens.
- Tudo bem. Obrigada. - Agradeceu Peter.
Assim que entrou em casa encontrou Anna sentada nos degraus da escada, com o rosto molhado de lágrimas. Ele  a observou por algum tempo e se sentou ao seu lado, ele queria a distrair, mais como?
- Você está bem? - Ele perguntou. Anna deu um sorriso cínico e respondeu.
- E por que não estaria? Foi só a minha mãe que morreu... E o que tem demais? Ela só era a unica pessoa que eu tinha, a unica pessoa que eu amava, a unica pessoa que me importava... - Já não aguentando mais ela desabou  e voltou a chorar. - Então, por que eu não estaria bem Peter? - Ele a abraçou e mesmo ela resistindo, tentando o afastar, ele a abraçou com força. "Eu não vou te deixar" Ele sussurrou para ela e ela cedeu. Deitou a cabeça no ombro de Peter e chorou. Jogou para fora tudo que a sufocava e que não estava a deixando em paz.
Anna respirou fundo e deixou as coisas se acalmarem. Deixou que Peter cuidasse dela naquele momento...
Continua...

4 de ago. de 2011

Expectativas O2 - O Poeta e a Cega / Parte O3


- O chá estava ótimo. - Disse Peter para quebrar o silencio que tomara conta da pequena cozinha. Ele parou e observou o lugar... As paredes brancas, os pratos, xícaras e outras coisas de porcelana lembravam o século XVI. Algumas rosas haviam sido colidas e estavam dentro de um vaso com agua sobre a mesa. A casa tinha cheiro de alecrim, laranja e rosas. Era acolhedor.
Anna estava sentada com a mão direita apoiando o queixo. Suspirou. Devia estar cansada daquilo. Cansada de não ver o tal espetáculo do mundo que ela tanto imaginava. Peter afastou a cadeira lentamente na tentativa de não deixar Anna escutar que ele estava saindo, mais assim que jogou o peso pra sua perna esquerda o assoalho vez um rec que a despertou de qualquer coisa que estava pensando.
Ele imaginou que ela perguntaria onde ele iria, mais para sua surpresa não foi isso que ela disse:
- Vou me deitar. - Ele pensou em pedir pra ela ficar mais pensou "E se ela estiver cansada de ficar aqui comigo?" Então ficou calado. Ela se subiu as escadas e sumiu de vista.
Uma certa curiosidade sobre o jardim surgiu em Peter. Seguiu até o final da cozinha onde havia uma porta branca com a maçaneta suja de barro. Ele a abriu e se espantou com o jardim. Dá ultima vez que ele estivera ali o jardim não era muito grande, pra ser sincero não era nada grande. Tinha um pequeno roseiral vermelho e  pequenos pés de alecrim que nunca cresciam. Agora o jardim estava grande. O roseiral havia ganhado um tom mais forte de vermelho e o cheiro era incrivel. Havia também uma parte somente para alecrins e um pé de laranja que dava uma sombra maravilhosa... Ele notou que debaixo do pé de laranja havia uma toalha estendida no chão, provavelmente Anna deveria passar um tempo ali; ele pensou e continuou andando pelo jardim.
Mais e mais rosas só que não somente vermelhas, tinha também rosas, laranjas, brancas. Ele estava pasmo, encantado, surpreendido, tanto que nem percebeu que Anna estava ali, debaixo do pé de laranja. "Linda"  Ele pensou. Tentou espantar o pensamento, mais ele insistia "Como ela é linda." Sentiu seu coração bater mais forte quando o vento soprou com mais força e desfez a trança de seus cabelos. Ele sorriu, mais não o suficiente pra ela escutar. Sentiu o cheiro das rosas e teve a sensação de que aquele cheiro pertencia a Anna e a ninguém mais.
- Não vi você. - Ele disse. Ela tirou algumas mechas do seu cabelo que o vento tinha levado para seu rosto e deixou atrás da orelha e sorriu.
- Eu imaginei que você estaria aqui.
- É incrível o que você fez com esse lugar. Parece magia.
- Minha mãe me ajudou bastante... Eu amo esse lugar, conheço cada detalhe. É como... É como se eu pudesse enxergar aqui. - Peter sempre sabia tinha o que falar, mais nunca conseguia, por isso ele escrevia. E naquele momento ele queria escrever. Anna o inspirava. Ela carregava tanta mágica em si, tinha tanto pra contar. Ele pediu para que ela o esperasse ali. Entrou rápido e pegou sua pequena agenda. Cheio de idéias, sonhos, historias... Cheio de vida. A segurou pela mão e a levou até a toalha estendida debaixo do pé de laranja.
Ele espirou fundo; como um garoto que espera para ouvir as aventuras que seu avó já viveu. Eles se sentaram e ela o olhava, como se realmente pudesse enxergar. Como se pudesse ver a euforia de Peter e riu outra vez. Sempre que ela sorria os pensamentos dele fugiam, deixavam de pertencer a ele. Então ele engolia tudo aquilo, tanto que sentia seu peito arder.
Peter limpou sua garganta sabendo que se não fizesse sua voz sairia tremula.
- Então? Qual foi a sua idéia? - Ela perguntou.
- Hum... Escrever sobre você. - Ele respondeu cheio de entusiasmo. Anna ficou seria de repente e ele soube que ela iria reclamar.
- SOBRE MIM? Você está brincando comigo? O que você pode escrever sobre mim? "Era uma vez uma menina... Daí ela ficou cega e viveu infeliz para sempre" muito mais muito engraç...
- Tudo bem. - Ele disse colocando a mão sobre a boca dela. Ela se calou e ele continuou. - Vamos falar sobre historias, já ouviu a historia sobre a Iara? Uma sereia que enfeitiçava os homens com o seu canto para os levar para o fundo do mar? - Anna foi abaixando os ombros e voltou a expressão serena do seu rosto. Ela balançou a cabeça querendo dizer não e ele a contou tudo. Não só sobre Iara, mais também sobre Dragões e vampiros, contou sobre batalha de anjos e demônios e Anna estava muito concentrada. Ria, fazia perguntas, que muitas vezes Peter nem sabia responder. Mais não deixava o interesse de lado.
Depois de um tempo Anna adormeceu, ela parecia tão calma, tão serena. Ele se levantou devagar e foi até o quarto. Pensou que deveria dizer a sua tia Judite que Anna estava dormindo lá fora, para que ela não ficasse preocupada, ao chegar no quarto Judite estava caída no chão...
Continua...

3 de ago. de 2011

Expectativas O1 - O Poeta e a Cega. / Parte 2


Anna foi para a cozinha preparar chá e Peter a seguiu. Ela prestava bastante atenção no "toc toc" que a bota dele fazia no assoalho... Era engraçado.
Antes de preparar o chá ela sentiu cheiro de barro e alecrim, pensou ser o jardim da sua casa mais o cheiro estava por perto.
- Você veio pelo vale? - Ela perguntou.
- Sim. Como sabe?
- Por causa do cheiro de alecrim. Eu gosto. Mais só encontra no vale.
- Você me assusta sabia? - Anna riu e pensou "Até que tudo esta se saindo bem." Mais depois desejou não ter pensado por medo das coisas acontecerem ao contrario.
- Anna... - Chamou Peter e a esperou responder.
- Sim?
- Você se importa de me contar o que aconteceu que te deixou assim... Cega? - Sim, ela se importava... Porque lembrar a machucava. Depois do acontecido ela passou a achar que a culpa de tudo era de Peter... Mais depois dos anos foi deixando essa estúpida idéia de lado, não era certo o culpar.
Ficou em silencio enquanto esperava o chá ferver. O cheiro de canela bateu em seu rosto e a aqueceu por instantes. Peter se levantou e pegou duas xícaras que estavam no armário. Ele a segurou pela mão direita e a levou até a mesa. Ela os serviu e se sentou... Por algum motivo ela se sentiu no dever de contar pra ele e começou:
- Se lembra do seu ultimo aniversário aqui? - Ela o esperou assentir e continuou. - Eu ouvi nossas mães conversando. Sua mãe queria ir embora mais minha mãe achava melhor ela esperar você crescer o suficiente para cuidar dela... Mais ela não quis. Eu fiquei muito triste e fiquei no quarto esperando você acordar pra gente se esconder e não deixar você ir, mais você não acordou e eu dormi.
Quando eu acordei você já tinha ido embora, e tinha levado tudo... Menos seu livro preferido e havia deixado também uma rosa do pequeno jardim que eu cuidava. Havia sido a primeira vez que eu havia me sentindo tão impotente e fraca daquele jeito. Eu fiquei desesperada e corri pra ver se eu conseguia alcançar vocês, por algum motivo eu acreditei que vocês poderiam estar por perto ainda, eu escorreguei no chão porque a minha mãe havia acabado de o limpar e tentei me segurar em algo mais próximo possível... E dá pra ver que não deu muito certo. Eu acabei batendo a mão em uma panela com agua fervendo e por sorte não caiu toda a agua no meu rosto, mais o suficiente pra me ferir. Fiquei com o rosto enfaixado por dois meses e meus olhos ardiam muito. Eu pensei bastante nas chances de estar cega. Mais quando tive certeza eu não quis acreditar. Imagine só... Uma criança de nove anos ficando cega de uma hora pra outra, é... Desesperador. O que eu poderia fazer? Brincar? Correr? Com o tempo eu fui me tornando uma pessoa fria e sozinha. Culpei você e depois a vida. Mais acabei chegando a conclusão que não era culpa de ninguém. Me esforcei pra cuidar mais de mim mesma sem precisar tanto da minha mãe, principalmente agora que ela esta doente. E graças a Deus eu consegui. Tirando o fato de que é triste não poder fazer nada do que você queira, eu me conformei. E acredite... Eu vivo bem hoje em dia. Mais eu faria qualquer coisa pra poder enxergar outra vez... Mesmo que só por um dia. - Houve uma grande pausa, e o que quebrou o silencio o foi o suspiro de Peter.
- Então fique feliz... Você não perde lá muita coisa enxergando as coisas do mundo. Ele não é tão bom quanto você imagina. E você o imagina um mundo belo porque você vive no mundo em que você criou... É como viver de olhos fechados ou sonhando. Tem lá suas vantagens.
- Ninguém sonharia com um acidente que te deixaria cego.
- Mais veja o lado positivo... A tanta tristeza no mundo e você só enxerga a luz... Você pode imaginar o mundo quadrado e ter ele assim, porque... É o SEU mundo.
- Não, eu não enxergo a luz eu enxergo a escuridão.
- Quando você vai dormir... Assim que você fecha seus olhos você também só enxerga escuridão, e isso não impede ninguém de ter lindos sonhos.
- Nem de ter pesadelos.
- Ah, vamos lá Anna... Seja cínica e tão pessimista. Você só enxerga o lado ruim das coisas? - Anna sorriu.
- Eu sou cega, esqueceu? Eu não enxergo nada. - Dessa vez Peter também sorriu. Não que fosse engraçado que Anna estivesse cega, mais por ela não estar mais fazendo daquilo uma culpa, ou conspiração do mundo. Ela estava aceitando e rindo daquilo. E havia passado por cima de um grande obstáculo e Peter achou aquilo bonito de se ver.