Páginas

5 de ago. de 2011

Decepção O1 - O Poeta e a Cega / Parte O4



- Tia? Tia... Por Deus... Responda! - Peter ficou desesperado, tomou Judite nos braços e a colocou na cama. Ele a chamava mais sabia que ela não responderia. Judite estava morta.
Peter pensou em tudo, principalmente em Anna. "Meu Deus, qual será a reação dela?" Ele pensou... Se sentiu tão desamparado e assustado que começou a chorar. Se sentou no chão ao lado da cama com as duas mãos no rosto e abafou o choro "Não pode ser" ele repetia baixo, inúmeras vezes.
Se levantou e correu até a cidade, levou quase meia hora para chegar lá. Passou pelo vale e não deixou de pensar em Anna assim que ele viu aqueles alecrins. Chegou até a cidade e foi a Igreja, conversou com o Padre que mandaria alguns homens buscar o corpo de sua tia logo em seguida.
Peter não podia ficar muito tempo na cidade... Ele havia deixado Anna dormindo no jardim e se ela acordasse e procurasse sua mãe? Ou se procurasse por ele. Se despediu do Padre e correu de volta para a casa da Anna. Aquela casa... Aquela casa era afastada de tudo, era calma e a área era tão verde. Havia alguns pinheiros tão altos atrás da casa, que pareciam não ter fim.
Algo naquela casa fazia ser aconchegante. Era como passar um tempo fora de casa e voltar no natal, teria biscoitos e leite quente encima da mesa. Sua mãe te entregaria um cachecol e você ficaria sentado no tapete em frente a lareira tomando seu leite.
Entrou na casa de Anna e foi direto para o jardim. Debaixo do pé de laranja estava uma figura de pele branca, cabelos castanhos e olhos pretos. O vestido era rosa claro, o que parecia a deixar ainda mais branca e destacava seu cabelo.
Ele sentiu vontade de desenhar... Embora não soubesse. Mais queria trazer a mesma tranquilidade que aquele sono estava trazendo para Anna.
Se sentou perto dela e a observou por quase oito minutos. Anna foi abrindo seus olhos lentamente e olhou na direção de Peter. "Ela estaria me enxergando?" Ele pensou. Mais se considerou estúpido. É claro que ela não estava o enxergando... Mais era tão confuso ela olhar na direção em que ele estava, como se soubesse que quando acordasse ele estaria ali para cuidar dela. Ela sorriu, mais não por muito tempo. Desfez seu sorriso em questão de segundos e se sentou.
- O que aconteceu? - Ela perguntou. A sua voz estava carregada de medo. - Por favor, não me diga que... - Antes que ele contasse, antes dele siquer ter insinuado, ela soube. Se levantou desesperadamente e começou a correr. Tropeçou em uma pedra que estava perto dos alecrins e caiu. Peter correu até ela para ajudar e ela o empurrou. Chorou tão dolorosamente que o feriu por dentro. O magoava a ver daquele jeito, sentada no chão, com os cabelos cheios de folhas e o vestido que havia se sujado com a terra.
Ele sabia que ela não iria querer ajuda, e ela sabia que ele sabia. Anna se levantou em silencio, bateu as mãos no vestido na tentativa de o limpar e entrou em sua casa. Foi direto para o seu quarto, subindo as escadas como quem não carregava só o seu peso, mais também o peso do mundo.
Depois de alguns minutos os homens que o Padre mandara haviam chegado. Peter os atendeu os levou até o quarto de Judite que ficava no andar debaixo. Eles a enrolaram em um lençol branco e a colocaram dentro de uma carroça, puxada por um cavalo.
- O Padre pediu para dizer que a missa será amanhã de manhã. As nove horas. - Disse um dos homens.
- Tudo bem. Obrigada. - Agradeceu Peter.
Assim que entrou em casa encontrou Anna sentada nos degraus da escada, com o rosto molhado de lágrimas. Ele  a observou por algum tempo e se sentou ao seu lado, ele queria a distrair, mais como?
- Você está bem? - Ele perguntou. Anna deu um sorriso cínico e respondeu.
- E por que não estaria? Foi só a minha mãe que morreu... E o que tem demais? Ela só era a unica pessoa que eu tinha, a unica pessoa que eu amava, a unica pessoa que me importava... - Já não aguentando mais ela desabou  e voltou a chorar. - Então, por que eu não estaria bem Peter? - Ele a abraçou e mesmo ela resistindo, tentando o afastar, ele a abraçou com força. "Eu não vou te deixar" Ele sussurrou para ela e ela cedeu. Deitou a cabeça no ombro de Peter e chorou. Jogou para fora tudo que a sufocava e que não estava a deixando em paz.
Anna respirou fundo e deixou as coisas se acalmarem. Deixou que Peter cuidasse dela naquele momento...
Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada!