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10 de jan. de 2012

Lidando com a realidade / O Poeta e a Cega - Parte 23


Anna foi saindo com toda pressa daquele lugar. “Como ele ousa dizer aquelas coisas?” Perdida em seus pensamentos, cega de raiva, nem viu que Mathew vinha e sua direção e esbarrou em seu ombro, Anna reprimiu o palavrão.
- Ei, sou eu. Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou. Anna nunca percebera o quanto era egoísta com Mathew. Estava sempre descontando suas frustrações nele, e ele nem siquer a destratava. Ela pensou em fazer o mesmo das outras vezes, pensou em dizer que estava nervosa sim, mas que isso não era da conta dele. Mas ao invés disso, ela suspirou e disse.
- Não, não aconteceu nada. – Fingiu estar bem e sorriu. – Obrigada por perguntar. – Ela foi saindo mais ele a seguiu e disse:
- Me deixe ficar um pouco com Mila, aqui fora. É um lindo dia. – Anna assentiu e entregou Mila a Mathew, depois beijou a testa de Mila e selou os lábios de Mathew e se foi.
Se conseguisse, ela tomaria um banho gelado, mas estava muito frio, então o banho seria no mínimo morno. Resolveu que ficaria ali até que os dedos ficassem enrugados. Então se sentou na banheira e deixou que ela enchesse.
Ela não costumava pensar na vida, nunca havia gostado daquela sensação de nostalgia. Mas dessa vez, era quase inevitável.
- O que poderia ter mudado tanto? O que é tão difícil de entender? – Ela se perguntava em voz baixa. Desde que chegara ali, ás coisas haviam simplesmente desandado. Ela passara grande parte do tempo nervosa, ansiosa. O que nunca fora antes, estava se tornando agora.
- Droga! Eu sempre fui tão inde... – Ela iria dizer independente, mas a verdade é que ela sempre fora dependente. Dependente de ajuda, mesmo que fossem simples, como para ir ao quarto ou encontrar o guarda-roupa. Ela precisava de ajuda para encontrar certas coisas, tudo bem que isso aconteceu quando ela ainda era cega, mas ela precisava se lembrar dessas coisas. De repente ela se sentia sem alma, sem nenhum motivo ou para estar ali.
Era cansativo tudo aquilo. Ela que sempre quis voltar a enxergar notara que não era lá grande coisa. Era mais fácil viver “De olhos fechados”. Agora ela ria e se lembrava de como as pessoas a avisaram sobre aquilo.
Depois que Anna conseguiu o que queria, seus dedos enrugados, ela saiu da banheira. Sem animo algum. Vestiu –se com uma jaqueta de couro e botas estilo ugg boots, fez um coque mal feito e pensou em deixar a maquiagem de lado, mais sua pele na Europa parecia mais pálida do que o normal, então não dispensou tudo.
Mathew estava sentado em sua cama fazendo cócegas em Mila que não dava tanta atenção. Ela olhava para sua mãe, quase hipnotizada, ela a amava muito. E era tão lindo poder ver de perto um amor tão sincero.
-Achei que você me contaria. – Ele disse depois de um longo período de silencio. Anna limpou a garganta e perguntou:
- Contar o que?
-Sobre o Peter. Olha, eu não...
- Math, eu não quero falar sobre isso.
-Você não quer falar, mas eu quero. – Ele respirou fundo antes de continuar. – Eu sei que você ficou com medo de voltar para cá. Não sei. Talvez fosse medo de me magoar, ou se magoar... As vezes até magoar o Peter. Sei que você ainda esta com medo, ainda mais depois do que Peter disse a você, eu...
- Você ouviu? – Ela o interrompeu.
- Sim, mas eu juro que foi sem querer. Eu havia perguntado a Annabelle sobre Mila e ela disse que você estava no jardim com um rapaz, e que ela acabara de deixar Mila com você. Eu quis ir, pegar Mila e voltar, mas cheguei quando ele estava gritando com você. E ouvi você dizer que me preferia como pai de Mila... Isso é verdade? – Anna sentiu seu rosto corar. Não se lembrava desde á ultima vez que sentiu vergonha.
-Peter agiu feito um louco, eu não sei o que deu nele. Ele gritou comigo. – Ela estava ficando nervosa novamente.
-Anna você não esta sendo julgada. Você não está errada, foi sincera o tempo todo.
-Mas não para ele.
-E qual é o nível de importância que você dá ao que ele pensa? – Na voz dele havia certa amargura. Então ela se sentiu mal, outra vez. Ela estava o magoando outra vez. Não sabia como evitar aquilo.
-Eu não queria que fosse assim, mas ele é o pai da minha filha.
- Eu não me importo se ele é o pai da sua filha, agora você está enxergando literalmente o mundo como ele é. Então se decida. – Mathew entregou Mila para Anna e foi saindo.
Ela se sentiu pequena naquele quarto gigante. Não queria ficar sozinha, muito menos sozinha sabendo que Peter e Mathew a odiavam. De certo modo ela entendia aquela reação de Mathew, entendia o porquê dele estar tão chateado com ela. E mesmo assim ela sabia que se ela o abraçasse, ele retribuiria, talvez com o dobro de afeto. Então antes dele sair, ela se lembrou que não havia respondido uma das perguntas que ele havia feito.
- Mathew. – Ela o chamou e ele se virou. – Eu prefiro você como o pai de Mila. – Ele sorriu, mais tentou não sorrir demais, para não parecer fácil aos encantos de Anna. Olhou para Mila que começara a adormecer nos braços da mãe e saiu.

Continua...