Páginas

31 de ago. de 2011

Abra os seus olhos. / O Poeta e a Cega - Parte 13


A manhã foi fria na Europa. Era certo que o inverno havia chegado.
-Eu estou tão ansiosa, Mathew. Eu não acredito que estou indo fazer uma cirurgia. Todos os medicos disseram que eu tinha chance de voltar a enxergar. - Anna estava euforica, pulava, sorria, dançava o tempo todo. Mas Mathew estava calado. Algumas vezes concordava com o que Anna dizia, mas sem prestar muita atenção.
- Anna... Vai ser uma transfusão. De uma pessoa que não precisa mais dos olhos. Não quero que você fique chateada caso algo dê errado. - Ele disse.
- Não vou ficar chateada. Quer dizer... Vou, mais vai passar. Não quero ter pensamentos negativos agora Mathew... Está tudo indo tão bem, por favor, não me tire isso. - "Ela tem razão." Ele pensou. Não sabia porque havia acordado com todo aquele mal humor. Fora ele que encorajou Anna a ter fé de que voltaria a enxergar a qualquer circunstancia.
- Você está certa. Me desculpe. - Ele tentou a beija-la, mais assim que ela sentiu a aproximação dele, ela desviou o rosto. Tentou sorrir como desculpas e segurou Mathew pela mão direita.
- Vamos. - Ela disse. E ele apertou a mão dela como "Sim" e "Boa sorte."
Eles entraram no carro e no caminho receberam a ligação de Victor. Ele já estava no aeroporto esperando pelos dois. Iriam comprar algumas roupas para Anna ali mesmo e viajariam.
Foi o que fizeram. Marrie os acompanhou até o fim das compras de Anna e depois voltou para casa. A viajem foi bastante longa. Anna dormiu por um longo tempo. Quem não conseguia dormir nem por um minuto era Mathew.
Ele revirava seus pensamentos. Pensou melhor sobre o casamento. Pensou melhor sobre assumir uma criança que não era sua e pensou muito sobre essa paixão repentina por Anna. Se condenou milhares de vezes. Sabia que era arriscado. Ele já ouvira Anna contando para Marrie alguns dias que passara ao lado de Peter e  quão perfeito fora esses dias. Pensou em Peter, em como ele seria. E por um instante pode jurar sentir ódio dele. "Ou seria inveja." Ele pensou. "De qualquer jeito... Eu não me importo." "Não me importo. Não me importo. E não me importo." Ele pensava, insistia que não se importava até olhar para o lado e ver Anna dormindo. Como se a vida não tivesse problemas. Como se ela mesma não tivesse que se importar com nada. Como se uma criança não fosse muito a se pensar. Sua cirurgia... E se não fosse bem sucedida? Mais nada daquilo importava. Ela simplesmente não ligava.
"Se ela soubesse..." Ele pensou. "Quão sincero é o mundo que ela enxerga. Jamais pensaria em ver outra vez."
Ele se aconchegou na cadeira ao lado de Anna para poder assistir enquanto ela dormia e acabou adormecendo também. Assim o dia se fora e chegaram no Brasil a noite. Se hospedaram num dos melhores hoteis de São Paulo e mais tarde sairam para jantar. Victor anunciou que eles passariam um ano no Brasil. Anna teria professores particulares para aprender a ler e escrever e algumas outras coisas. Aprenderia a se portar á mesa, a se vestir e coisas em geral.
A cirurgia estava marcada para a manhã seguinte. E assim que terminaram de jantar cada um foi para o seu quarto.Victor não deixou que Anna e Mathew dormissem no mesmo quarto. Aliás... O casamento era uma mentira. Então não tinha motivo.
Antes de dormir Anna pensou em Peter. Pensou em sua filha. E caso voltasse a enxergar, pensou em como seria. A criança estaria com seis meses quando voltassem para a Europa. E como estaria Peter durante esse tempo? Teria ele conseguido realizar os seus sonhos? Estaria ainda batalhando? Seria errado perguntar para ao seu pai? Pensou em milhares de coisas e das milhares de coisas desistiu.
Como havia dormido muito na viagem, ficou acordava até tarde ouvindo o som da televisão e imaginando o que deveria estar mostrando ali. Algumas vezes ria. Era inacreditavel. Amanhã ela teria a chance de voltar a enxergar outra vez. Se lembrou de Rain. "Rain. Rain. Que falta eu sinto de você... Como você deve ser linda." Ela brincou com os pensamentos até que dormisse.
Eram dez horas da manhã quando seu pai foi ate seu quarto para acorda-la.
- Hora do café da manhã. - Ele disse. - Tome um banho rápido e em cerca de trinta minutos eu volto para buscar você. - Ela assentiu e tomou um banho. Marrie havia comprado muitos vestidos de cores claras, que serviriam para qualquer ocasião, então não importava qual ela pegava. Secou seus cabelos com a toalha, os penteou e logo seu pai voltou para busca-la.
- Você está lindissima. - Ela riu. Era como se fosse brincadeira quando alguém a elogiava. Victor entendeu que o sorriso fora uma forma de agradecimento e a guiou até o restaurante do hotel. Mathew foi dizendo tudo que havia ali. E no prato foi algumas frutas com mel, panquecas e suco. Depois sentiu uma vontade gigantesca de comer uma torta de chocolate, e então Mathew foi buscar.
- Você não tem fundo? - Ele perguntou rindo.
- O que você quer dizer com isso? - Anna estava com a boca toda suja de bolo e isso o divertia bastante. Victor os observava com cautela mais não dizia nada.
- Que você comeu dois mamões com mel. Comeu também banana e uma tigela de salada de fruta. Comeu quatro panquecas com calda de caramelo e um pedaço grande de torta e chocolate.  Sem contar com o suco... Que foi quase um litro.
- E aonde está o problema? - Ela perguntou.
- Não sei... Acho que você comeu ele também. - Os dois riam muito. Anna mostrava lingua para Mathew, e eles agiam feito criança.
No almoço foram para um restaurante japonês, Anna odiou a comida. Quis vomitar, então foram para outro restaurante. De comida indiana e adorou. Amanhã havia sido ótima. Todos riram muito.
- Hora de irmos. - Disse Victor olhando o relógio. Anna sentiu o peito arder e o coração gelar. Pode sentir a ponta do nariz começando a soar e as mãos ficarem frias. Mathew se aproximou e a segurou pela mão.
- Vai ficar tudo bem. - Ele disse. E ela sentiu o coração se aliviando.
Seguiram rumo ao hospital. Anna foi atendida imediatamente. E já podia se dirigir para a sala de cirurgia.
- Anna... Fico por aqui. Infelizmente não posso te acompanhar, mais Mathew estará lá como medico, para te ajudar no que for preciso. - A voz de Victor parecia triste. Estaria com medo? Anna estendeu os braços e assim e Victor os tocou ela o puxou para um abraço apertado.
- Obrigada por tudo. - Ela sussurrou. Victor pousou as mãos sob os ombros dela e saiu.
- Ele está quase chorando. - Disse Mathew. - Não queria que você percebesse isso. Ele se preocupa muito com você.
- Eu estou com medo, Mathew. - Ela disse.
- Não precisa. Confia em mim, vai dar tudo certo. E quando você sair eu estarei te esperando para cuidarmos da nossa filha. - Ele disse sorrindo. Ela também sorriu. Mais a palavra "Nossa" não se encaixou na cabeça dela.
Logo o nome dela foi chamada e ela teve que entrar para a sala de cirurgia. Mathew a beijou na testa antes que ela deitasse na maca. Anna adormeceu. Sabia que estava sonhando porque estava flutuando sob o mar. De repente estava em um quarto escuro o chão estava molhado e o cheiro não era agradável. Ouvia alguém bater na porta mais não conseguia a encontrar. Tentava apalpar qualquer coisa, mais não encontrava nada e aquilo a assustou. Sentou naquele chão molhado e chorou e só parou quando viu uma luz entrar por uma janela. A luz lá fora era tão forte que ela teve que fechar os olhos por algum tempo. Assim que seus olhos se acostumaram com a luz ela os abriu e viu um jardim lindo. Seria seu jardim? Sim! Era seu jardim. Descobriu assim que viu a toalha no chão debaixo da arvore. A toalha estava cheia de folhas secas por cima e o lugar estava lindo, incrivel. Queria ficar ali o dia todo. Mais alguém bateu na porta outra vez e uma mão se estendeu. Não conseguiu ver o rosto. Mais a levou para uma casa grande. Cheia de escadas. Por algum motivo soube que devia esperar. Subiu as escadas e se deitou numa cama grande, num quarto cor de rosa. Logo sentiu alguém pulando na cama e acordou. Era uma garotinha, com pouco menos que cinco anos. Ela perguntava:
- Por que você está dormindo no meu quarto, mamãe? - Então Anna se levantou e sorriu. A garotinha tinha cabelos longos e escuros, tinha pele clara e olhos azuis.
- Filha. - Anna a chamou enquanto a pegava em seu colo. Mais logo as cores foram desaparecendo. Logo tudo foi sumindo. Ela estava acordando, e sentiu medo por isso.

Continua...