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20 de dez. de 2011

A mudança / O Poeta e a Cega - Parte 19

Chegando em casa Anna tentou descansar, mais se levantava o tempo todo para conferir se Milla estava bem. Ela não reparou, mais perdia a fome, comia muito mal. Chegava a tomar apenas um copo de leite no dia. Milla precisava de se amamentar, mais ficava cada vez mais dificil, Anna mal reproduzia leite e se recusava em deixar Milla beber o leite de uma mulher desconhecida.
- Anna, por favor, seja racional. Você não está em condições de amamentar a Milla. - Dizia seu pai enquanto Mathew a examinava.
- Não estou em condições de ouvir vocês, me deixem sozinha. - Ela dizia.
- Não. Já pedi para Alfred ir buscar algumas vitaminas para você. - Disse Mathew. Anna achou mais divertido revirar os olhos e tentar se lembrar quem era Alfred.
As vitaminas chegaram, e como Mathew era medico ele cuidava dela com toda atenção. Passou a comer reguladamente, de três em três horas e a caminhar nas horas vagas.
Se sentindo muito cansada em uma dessas caminhadas, Anna resolveu voltar para casa mais cedo. Chegou e foi direto tomar um banho. Percebeu que ninguém havia notado sua chegada ali, então foi trocar de roupa antes de descer para comer alguma coisa.
O quarto de seu pai estava todo desarrumado. Algumas roupas estavam dobradas encima da cama e outras espalhadas com gosto no chão.
Procurou pelo seu pai no andar de baixo e o encontrou no jardim falando ao telefone, ela não se aproximou muito, mais pode ouvir ele dizendo sobre Peter. Seu pai estava soando e ria sem graça, algo de bom com certeza não era. Anna se aproximou mais um pouco e congelou. A mãe de Peter, a tia Clara havia falecido hoje de manhã. Voltariam o mais rápido possivel, e isso já estava sendo organizado.
Anna sentiu falta de Mathew, na verdade sentiu falta de um abraço amigo, e ela tinha isso com Mathew. Então foi procurar por ele, e o encontrou no quarto de Milla.
Os dois estavam dormindo. Milla estava deitada no peito de Mathew, que estava com a cabeça encostada desconfortavelmente no berço.
Anna pegou Milla e a colocou no berço com cuidado. Depois sentou no colo de Mathew e o abraçou. Ele acordou assustado por não saber o que estava acontecendo, e se acalmou por completo ao ver que quem estava ali era Anna.
Ela não sentia o que ele sentia por ela. Isso era obvio. Mais eles eram tão compatíveis, quase como almas gemias. Mais as coisas não são faceis como parece. Quero dizer que... As coisas nunca são faceis. Pode ser que aconteça com você de ser completamente apaixonado por alguém que ama outra pessoa. Ou que apenas te considera como amigo. Essas coisas acontecem... E quando acontecer, espero que você esteja preparado. Espero que você seja forte. Porque amor não correspondido machuca muito, toma muito do seu tempo. Toma muito de quem você é.
 * No outro dia viajaram de volta a Europa. Mathew sentiu medo a viagem inteira, não pelo voo, ou pela altura. Sentiu medo de voltar e perder Anna. Sentiu um medo tão imenso e devastador que sentiu seu coração inchar. Sentiu sua boca ficar seca e suas mãos tremulas. Ele sentia medo de perde-la, mais ao mesmo tempo ele se perguntava:"Como posso perder algo que nunca me pertenceu?"
Fingiu estar bem o tempo todo. Fingiu ser apenas o medico contratado para cuidar da saúde de Anna, e antes fosse só isso. Antes fosse tudo isso um sonho. Mais não era, era o pior tipo de realidade... E ela precisava ser encarada.

Continua...

13 de out. de 2011

Anjo / O Poeta e a Cega - Parte 18



Já eram quase três da tarde e Anna ainda estava deitada. Estava meio chateada por ninguém tê-la procurado, mais isso também não a tirava da cama.
Ela havia terminado o terceiro livro daquela semana.
-Final feliz... Sei. Pura ilusão. Pura tendência. -Arfou. Decidiu que ficar ali deitada só a deixaria mais nervosa. Sua filha a chutava e Anna quase não aguentava algumas vezes.
Se sentou na sacada do hotel com o laptop de Mathew e começou a fazer algumas pesquisar bobas. Decidiu procurar por livros novos em algum site interessante. Acabou dando de cara com uma propaganda ótima.
"Será o amor mais puro aquele que não enxerga?"
Aquilo tomou sua atenção, então ela continuou.
"Quando se deve escolher entre seu amor e o seu sonho. Quando a sua escolha já foi tomada, mais o seu amor  decide que não pode ser assim.
O que fazer? Ir atrás do seu sonho e deixar seu amor, ou ir atrás de seu amor e abdicar do seu sonho?"
Sentiu seu coração rasgar. Quis parar de ler naquele exato momento, mais desceu a pagina e acabou lendo o que não queria.
"O Poeta e a Cega de Peter Wright."
- Droga! - Ela xingou. - Será possível que isso não vai acabar? Sempre que eu tento esquecer... Eu acabo me lembrando. - Afastou o laptop do colo e se levantou. Frustrada, nervosa e com fome. Procurou na gaveta do seu quarto o telefone de alguma comida chinesa mais não encontrou.
Mila chutava com força e Anna passava a mão com delicadeza tentando acalmar sua filha, mais nada a parava. Anna começou a soar e a ficar fria. Tentou ir se deitar, mais a cada passo que dava parecia que algo a rasgava por dentro.
Procurou o telefone com as mãos tremulas e tentou digitar o numero de seu pai, mais caiu na caixa de recados. Depois tentou Mathew, chamou, chamou e ninguém atendeu.
Sentiu seu corpo ficando mole. Sentia o chão indo e vindo. E antes de cair viu sangue no chão.
[...]
- Anna... Por favor, acorde. - Ela ouvia. Não conseguia abrir os olhos. Mais ainda podia ouvir as vozes.
- Fique comigo Anna.
- Anna.
- Por favor, mantenha a calma senhor. Precisamos que saiam agora. - E as vozes pararam. Mais agora ouvia respirações ofegantes. Ouvia alguns sussurros. Ouvia bipes. Até que ouviu um choro.
Aquele choro fez ela se arrepiar. Mesmo não conseguindo se mexer, podia sentir seu corpo todo arrepiado.  O choro continuava. E o bipe entrou em alerta. E então ele não acompanhava mais o sons do coração... Porque não havia nenhum som. Apenas o barulho dos medicos dizendo "Vamos! Temos que reaviva-la." "Não desista Anna. Fique conosco." Depois disso só havia escuridão.
Sentia um calor horrivel. E aquele lençol incomodava, aquele mormaço incomodava. Deus! O Brasil era tão quente.
Se virou de todos os lados. Tentou tirar o lençol, mais nada a deixava confortavel. Então decidiu acordar.
Os olhos estavam pesados. E o corpo meio dolorido, mais não havia mais barriga. Olhou para os lados e não encontrou ninguém. Arfou. Havia tempo que ela não se sentia tão entediada.
- Anna! Que bom te ver acordava. - Disse uma enfermeira.
- Quanto tempo eu dormi?
- Uns dois dias. - Ela sorriu. Tentou não ser inconveniente. E não desagradar, como acontecia com a maioria, quando um ou outro tentava demonstrar falsa preocupação.
"Talvez seja parte do trabalho dela, Anna. Não seja tão cauculista." Ela mesma pensou. Então sorriu de volta para mulher, que ajeitou seu travesseiro.
- Está com fome? - Ela perguntou.
- Sim. Muita.
- Ok. Vou pedir para que preparem um almoço caprichado para você e anunciarei ao seu pai e ao seu marido que você acordou.
- Obrigada. - Anna disse a mulher saiu.
Não demorou muito e Seu pai e Mathew estavam em seu quarto com sorrisos que iam de orelha a orelha. Não se importou muito. Queria mesmo era ver sua filha.
- Onde Mila está? - Anna perguntou.
- A enfermeira foi busca-la.
- Que dia eu recebo alta? - Os dois riram da pressa que ela tinha de sair dali.
- Hoje mesmo. - Disse Mathew.
Logo em seguida o almoço de Anna chegou. A comida era sem sal, muito bem cozida, porém... Sem sal. A fome era tanta, que por mais que Anna detestasse coisas do tipo "Mais ou menos" comeu tudo. E logo em seguida sua filha apareceu.
Mila estava enrolada em uma manta cor de rosa. Sua pele era branca e as bochechas perfeitamente rosadas. Tinha o cabelo preto e os olhos bem grandes e acinzentados.
Anna sentiu seu peito queimar, quase como se fosse explodir. Mais só chorou.

Continua...

19 de set. de 2011

Que seja simples / O Poeta e a Cega - Parte 17



Anna se revirou na cama. Ela tentou esticar os braços mais eles estavam doloridos, então ela riu. Mathew dormia de forma escandalosa. Um braço para um lado, as pernas para outro. Sua sorte era que ele não roncava.
Ela se levantou e puxou o lençol para cobrir seu corpo. O cabelo estava horrivel. Todo bagunçado. Mais ela se sentia bem. Soltou o lençol e deu uma olhada no corpo. A barriga dela estava tão grande. Parecia já não ter mais para onde crescer. Os cabelos também... Eles cobriam seus seios e chegaram a bater na cintura. No seu braço direito havia uma mancha roxa. Ela se virou para poder ver direito. Era exatamente a forma de um dedo.   Ela riu. E decidiu tomar um banho. Lavou seus cabelos com delicadeza e logo se sentia nova em folha.
Escolheu um vestido azul claro que era longo. Secou seus cabelos e fez uma longa trança. Perfeita. Intacta. Assim como sua mãe a ensinava quando era pequena. Colocou brincos e aneis e de repente, encarnou o papel que seu pai tanto queria. A querida da sociedade.
É claro que ela sabia se vestir. Depois de tantas aulas de moda que ela teve. Podia com certeza acertar algumas combinações.
Se lembrou do kit de maquiagem completissimo que seu pai havia lhe dado e resolveu "tentar" usar. Sempre quis usar aquelas maquiagens perfeitas, embora soubesse passar e tudo mais. Sentia receio de "manchar" a pele.
Usou um brilho básico nos olhos. Contornou os olhos com lapis marrom e chamou atenção para os cilhos que ficaram perfeitos. Na boca foi apenas um gloss. E completou o novo look, ou melhor, a nova Anna, com um perfume comprado ali mesmo no Brasil.
Quando ela terminou Mathew estava encostado na porta. Também com o cabelo bagunçado, mais molhado. Nem havia percebido que ele tinha saido.
- Uau. Você esta linda.
- Obrigada. E desde quando você aderiu a moda rock n roll?
- Camufladamente... Ela sempre esteve aqui. - Mathew usava calça jeans surrada. Uma camiseta do Led Zeppelin e o cabelo loira bagunçado.
- É sexy! - Ela disse.
- Obrigada. - Ele se aproximou dela e o cheiro de colonia pós-barba a atraiu.
- Te ver sem a pose de bom moço chega a ser assustador.
- Quer que eu a assuma de volta?
- Não... Eu gosto assim. - Ele sorriu e a beijou. Pegaram o elevador e se encontraram com Victor num restaurante. Ele estava lendo um jornal. Assim que ele ouviu passos se aproximando, ele abaixou o jornal lentamente e deu uma olhada por cima.
Assim que os viram chegando de mãos dadas, ele dobrou o jornal e pôs sobre a mesa. Anna riu.
- O que houve pai?
- O que significa isso? - Ele perguntou apontando com a cabeça para as mãos entrelaçada dos dois.
- Somos casados. - Ela disse.
- De mentirinha. - Por algum motivo ele sussurrou e os dois riram.
- ... Talvez. - Ela respondeu com outro sussurro. Victor não pareceu ter gostado de ver Anna e Mathew juntos. Mais não falou nada depois disso.
Elogiou sua filha e perguntou qual era a do estilo "garoto de rua" de Mathew. Depois disso todos eles foram ao cinema.
Anna comprou um celular e algumas roupinhas para sua filha.
- Mila. - Ela disse por fim.
- Mila? - Exclamou Victor.
- Mais Mila? - Insistiu Mathew. Anna riu. Por Deus. O nome era tão lindo.
- Siiiiim. Mila. Minha Mila. E aceite de vez pai e a aceite de vez Mathew. Esse é o nome da nova mulher da vida de vocês. - Com um suspiro os dois cederam.
Anna tomou três taças de sorvete enquanto Victor e Mathew faziam aposta sobre o quanto ela comeria.
Victor fora embora mais cedo. E já a noite Anna e Mathew decidiram ir embora.
- Mais antes... - Ele disse. - E tirou de dentro no bolso uma caixinha. E dentro dela havia um colar escrito em ouro "Anna" e um pequeno coração vermelho. Ele era lindo. Ele era tão lindo.
- Mathew... Eu... Eu... Eu não sei o que dizer. - Ele sorriu e tirou o colar da caixa e com delicadeza colocou em Anna.
- Não precisa dizer nada. - Então ele a  beijou. - Eu te amo, Anna. Eu te amo tanto. E ontém foi o melhor dia da minha vida. - Cansada dos circulos que fazia na sua vida. Já havia algum tempo que ela já estava com  Mathew. Ele fazia bem e ela e ela... Ela o amava. Da forma que fosse. Meio maluca, meio torta, assim mesmo... Mais o que importava era que ela o amava.
- Eu também te amo. - Ela disse. - Muito.

Continua...

Acomode-se / O Poeta e a Cega - Parte 16



Se era pra se preocupar ou não, Anna deixou simplesmente que as coisas acontecessem. Juntou o util ao agradavel e simplesmente viveu. Vezes ou outra quando se sentir fragil e insegura tinha Mathew e seu pai ao seu lado.
Ela já não estudava tanto porque havia aprendido a maioria. E o tempo... Só passava. Mais dois meses e sua filha nasceria. Ela passava a noite com Mathew tentando decidirem um nome para ela.
Era encantador o modo em que Mathew ficava fazendo delicados círculos em volta do seu umbigo. Ele era tão maduro e estava ocupando grande espaço no seu coração, na sua vida. Ele devia ser só o seu medico e no final das contas acabou sendo medico, marido, melhor amigo, conselheiro... E tudo mais que vinha no pacote Mathew.
- Qualquer um faria isso. - Ele dizia.
- Não... Isso vem só de você. Essa luz só pertence a você. - Não era mais um falso casamento. Era um casamento de verdade. E ela teve muita sorte ao escolher o marido.
- ... Que tal Julia? - Ele perguntou.
- Argh. Julia? Não, eu não gostei.
- Luna? Hum... Kate?
- Gostei de Kate. Mais não vai ser esse.
- Luisie? Sophia?
- Não, não, não, não. - Ela o calava com alguns beijos e depois ficavam olhando enquanto a criança vazia grandes voltas na barriga de Anna. Era tão diferente.
Anna gostava de conversar com a criança enquanto tomava banho. A bebê respondia com alguns chutes e depois elas ficavam quietas no silencio do quarto delas.
- Dorme bem minha... Minha Mila. - E assim foi que surgiu o nome dela. Mila. Não sabia porque daquele nome, mais de repente seria ele. No outro dia procuraria o significado em algum livro. Mais agora ela iria dormir.
No dia seguinte ela se deparou com os olhos claros de Mathew, o sorriso dele estava meio torto. Um sorriso do tipo que todo cara errado tem.
Ele a beijou na testa, no nariz e em seguida na boca. Assim que ele se afastou Anna tampou o rosto com uma almofada. Ele gargalhou.
- O que foi Anna?
- Eu estou feia e nem escovei os dentes. - Ele riu e puxou a almofada do rosto dela.
- Você é linda. Sempre foi e sempre será.
- Você não precisa mentir só porque é casado comigo. Não vou pedir divorcio por você ser sincero. - Dessa vez os dois riram.
- Um dia eu te empresto os meus olhos, para que você possa ver como alguém de fora como você é linda.
- Tudo bem... - Ela se sentou. - O que você quer? - O sorriso torto dele voltou. Exatamente como estava quando ela acordou. Lindo, atraente. Quase irresistível. Ou talvez irresistível.
- Por que você acha que eu quero alguma coisa? - Ela não conseguia parar de olhar para ele. Ele era tão... Lindo! Ela tentou engolir, sua garganta estava seca e então percebeu que estava nervosa.
- Acordei com um sorriso seu que ia de orelha a orelha. Depois começou a dizer que eu sou linda. Com certeza deve ter algum motivo.
- Sim. Tem... Tem algo que eu quero.- O rosto dele se desviou do rosto dela e a respiração dele cada vez mais ficava perto do seu pescoço. Ela sentiu um errepio que começou no braço e terminou nas coxas. Ela não disse nada, mais a respiração pesada a entregou.
- Você. - Ele disse. - Eu quero você. - Ela queria dizer "Eu também quero você." Mais a pose de bom moço e medico diplomado veio na sua cabeça e sentiu algum certo receio de dizer.
Ele se aproximou e a beijou no pescoço. O arrepio que já havia passado voltou rapidamente e com mais força. Ela se deitou e ele a beijou. Tão intensamente e de repente ele estava soltando a alça de seu vestido. Ele tomava tanto cuidado ao mesmo tempo era tudo tão quente.
Ele foi tirando seu vestido com cuidado e a barriga ficou a mostra. Pensou que deveria se sentir envergonhada. Mais logo o pensamento se desfez. Num rodopio, Anna já estava sentada e seus cabelos longos grudavam na pele soada. Tanto na dela, quanto na dele. Ele tirou a camisa com rapidez e depois a calça.
O corpo dele era lindo. Definido. Ele malhava? Ela se perguntou. Nunca havia percebido como o corpo dele era tão bonito. Levando em consideração quantas vezes ele já havia trocado de roupa na sua frente. De repente ela sentiu o peito queimar. O calor do corpo dele. A firmeza com que ele a tocava se juntou em seu peito e se desfez com um gemido.
Ele beijava cada parte do seu corpo. Entrelaçava seus dedos nos cabelos dela e os seguravam com força para o lado. Outro rodopio e ela estava encima dele. Ele sorriu e ela o beijou e se entregou. Mais uma vez não teve certeza do que estava fazendo... Mais deixou acontecer.

Continua...

6 de set. de 2011

Engano seu. / O Poeta e a Cega - Parte 15



Era de se esperar toda aquela motivação de Anna. Ela estudava o tempo todo. Parecia nunca perder a empolgação. Para ela o mais dificil de se aprender foi equilibrar-se encima do salto alto.
Passara duas horas todos os dias com sua professora. Três livros na cabeça e com sapatos de salto de dez centímetros... Para variar.
Quando tirava os sapatos se sentia nas nuvens, não era preciso muito. Apenas descansar os pés na agua quente. Não tinha mais tanto tempo livre. Alguns domingos, talvez. Mais nada como antes. O professor de matematica era um velho quase careca, que vezes ou outra não tinha certeza das contas que passava e dormia se deixasse ele sentado mais de cinco minutos sem dizer nada para ele.
Anna ria sozinha e resolvia as contas e deixava do lado dele. Não dizia nada, saia de fininho. Seu pai havia contratado uma nutricionista para cuidar de Anna e da sua filha, que não faltava muito tempo para chegar. Os tempos passavam rapidamente e era incrivel como a barriga dela crescia rápido.
As aulas de português e literatura eram as preferidas de Anna. Ainda mais quando o professor levava poemas para que ela treinasse sua leitura.
Ela se aconchegava no sofá e se pudesse, não sairia dali enquanto não estivesse lendo e escrevendo muito bem. Com toda essa dedicação fora de se esperar a aprendizagem rápida de Anna. Ela conseguia escrever muito bem, lia maravilhosamente. E recitava poemas com toda a performance possível. Mathew assistia de perto. Ria, se divertia. E as vezes Anna pedia para que ele a ajudasse em algumas falas de poemas. As romanticas eram as melhores. Ele podia se aproximar de Anna. Sabia que estava conseguindo um espaço grande no coração dela. Com todo cuidado que ele tinha com ela, com toda calma.
Mesmo que estivesse demorando para que Anna esquecesse Peter de uma vez, ele esperaria. Valeria apena.
Numa segunda-feira depois que Anna havia chegado de uma pequena caminhada, resolveu pegar as cartas que haviam chegado.
Algumas contas, cartão de credito, informações e... Um convite;
"Caros Victor W. Moore e Anna Moore Green..." - Ela se arrepiou com o começo do convite. Havia se esquecido que o nome havia mudado depois do casamento.
"Vocês foram convidados para a Publicação do livro O Poeta e a Cega de Peter Wright no dia 21 (Vinte e um) de Agosto de 2002 (Dois mil e dois). Em Liverpool - Inglaterra no Castle Street; as 06:00 pm (Seis horas).
Esperamos pela presença de vocês.
Atenciosamente.
Editora Other Papers."
"Ele sabe." Ela pensou. "Ele sabe que eu estou casada, meu Deus. Será que sabe que ele vai ser pai? Será que sabe que voltei a enxergar?"
"Com certeza ele sabe que eu me casei." "Mais não deve saber os motivos." A idéia a deixou triste. Não teve animo para estudar e dispensou os professores que teria  hoje e convidou Mathew para sair. Ela precisava conversar com alguém.
Foram ao shopping, foram ao um restaurante. Anna comeu muito. Fugiu da dieta, fez Mathew prometer sob tortura que não contaria para a nutricionista.
- O que houve? - Ele perguntou enquanto ficava a observando comer. Parecia que haviam amarrado ela numa arvore e só a soltaram três dias depois.
- Eu... Eu encontrei um convite para a puplicação do livro de Peter no Castle Street. Ano que vem. - Peter não gostou nada que Anna tivesse encontrado esse convite. Sentiu um certo ciúme mais se manteve.
- Anna... Você quer ir? - Ele perguntou com calma.
- Sim... Não... Si... Eu não sei! Ta legal? Eu sempre quis que ele conseguisse tudo isso, sabe? Ser escritor, um poeta. Desde pequeno ele sempre amava poemas. Eu fico feliz por ele. Mais e se ele estiver com outra mulher? E se ele não entender o nosso casamento? - Ela não havia medido as palavras até ver a cara de Mathew. Ele estava bastante chateado.
- Mathew eu... - Ela tentou se desculpar.
- Anna isso é mesmo tudo uma brincadeira para você?
- Mathew eu não quis dizer isso. Eu tenho um carinho muito grande por você. Me desculpe, eu não queria ter...
- Olha só Anna. Eu aceitei fazer isso tudo por você. A algum tempo eu me apaixonei por você e o pior de tudo é que você sabe.
- Você sabe que eu ainda amo o Peter.
- Então me deixa te fazer esquecer ele. - Nessa altura eles estavam andando no shopping e Mathew a segurou pelo braço.
- Eu já tentei esquecer, Mathew. Vai por mim. Mais quem quer isso é a minha cabeça e não meu coração.
- Eu estou aqui, Anna. Nós estamos. É por você tudo que eu faço. Me deixa pelo menos tentar te fazer esquecer ele. - Anna ficou calada. Afinal de contas não tinha muito o que falar.
Ele se aproximou dela e ela permitiu. Ele a tocou no rosto e ela fechou os olhos. E um beijo...Verdadeiro aconteceu.

Continua...

2 de set. de 2011

Uma nova chance / O Poeta e a Cega - Parte 14




Anna tentou abrir seus olhos mais não conseguiu. Os tocou com cuidado e sentiu ataduras. Foi se sentando e respirou fundo, estava tão ansiosa que queria tirar aquelas ataduras e ver como ficou, saber se a operação foi bem sucedida ou não. Respirou fundo. E sentiu um certo pessimismo. Ao seu ver... As coisas ruins sempre foram mais faceis de acontecer que as coisas boas. Em com toda a sua experiência no azar, ela já estava acostumada.
Sentiu alguém apertando sua mão.
- Quem está ai? - Ela perguntou.
- Sou eu... Mathew. - Ele estava com uma voz tão chateada, que ela já soube o que esperar.
- Olá Mathew.
- Vou colocar uma bandeja aqui na sua frente com comida e algumas vitaminas pro bebê, tudo bem?
- Ok. - Mathew colocou a bandeja de comida na frente de Anna e foi lhe entregando as coisas mais faceis de comer, como gelatina, frutas, sucos. E depois ela tomou as vitaminas.
Os dois ficaram em silencio por um bom tempo. Ela não perguntou pra ele sobre a cirurgia porque pensou que se ele não havia dito nada até agora era porque alguma coisa havia dado errado.
- Quando vou poder tirar isso dos meus olhos? - Ela perguntou.
- Quando seus olhos estiverem melhor.
- E isso vai demorar quanto tempo?
- Alguns meses.
- Esperar alguns meses para continuar cega é ridiculo. - Ela o ouviu sorrindo e ficou nervosa. - Qual é a graça?
- Como assim "Esperar alguns meses para continuar cega?"
- Ué... Eu ainda não estou cega?
- Tecnicamente... Mais só porque as ataduras estão tampando os seus olhos.
- O que? Eu vou enxergar? A operação... Ela... Ela deu certo? - Ele gargalhou.
- Certissimo. - De repente ela sentiu o sangue ferver e uma vontade enorme de pular da cama e dançar.
- E por que você não disse nada? Achei que tinha dado algo errado... Eu não sei.
- Acabei de acordar. Quando eu vi você se mexendo fui buscar seu café da manhã.
- Eu não acredito! Meu Deus!
- Acho que amanhã você recebe alta. E voltaremos para o hotel.
- Ótimo, comida de hospital é horrivel. - Ele riu outra vez. Logo depois Victor bateu na porta e entrou para ver sua filha, então Mathew saiu.
- Que bom saber que está tudo bem com você, eu estava tão... Tão... Hã...
- Preocupado? - Ela sugeriu.
- Hum... Sim. Com medo, assustado... Preocupado!
- Eu também fiquei, pai!
- Pensei muito em você. Na minha netinha. - Ele disse e passou a mão sobre a barriga de Anna. Desde que ela havia contado a ele que estava gravida, fora a primeira vez que ele chamada sua neta, por neta. E não "Coisa", "Bebê", "Ela" e etc.
No dia seguinte Anna recebeu alta. Eles voltaram para o hotel e Anna recebia os mínimos cuidados. Sentia de desejo de comer as coisas mais absurdas. Sentiu até uma vontade louca de comer comida japonesa. Os tempos foram se passando. Toda semana Anna ia até o oftomologista para consultar. Saia de lá se sentindo muito bem. O medico dizia que a recuperação de Anna estava sendo rápida e muito boa. E cada vez mais rapido o tempo se passava.
Sentiu sua filha chutando sua barriga quando Mathew a tocou. Victor ficava maravilhado e dava a Anna varias opções para nomes, mais Anna ainda não tinha certeza de qual seria.
Passado dois meses e quatro dias, numa quinta-feira. Anna se dirigiu ao hospital para tirar as ataduras. As mãos suavam mais do que nunca. O coração parecia levar um minuto para cada batida. Sentia os pés gelados e a ponta do nariz que não parava de soar.
O estomago estava embrulhado e a cabeça dela martelava. Não demorou muito. Ela se sentou em uma cadeira e o medico foi tirando as ataduras cuidadosamente.
- Pode ser que sua cabeça doa um pouco. Você pode ficar tonta e os olhos arderem, mais isso é normal. Até você se acostumar. Sugiro que não tome nenhum medicamento para dor de cabeça. Tome algum chá, é melhor. - Ele disse e tirou a ultima atadura...
Anna sentiu medo de abrir os olhos. Mais a euforia era tanta que ela não pode evitar. Os olhos estavam pesados e ela os abriu bem devagar, sentiu um pouco de dor. Mais considerou aquilo como recompensa. Ela viu uma maca, meio embaçada, mais pode ver. Piscou algumas vezes e cada vez mais sua visão foi melhorando. A maca estava um metro de distancia dela.
Ela estava sentada numa cadeira preta e atraz dela havia um espelho. Sentiu a dor de cabeça que o medico havia falado e sorriu. Se levantou. Sem precisar apalpar nada. Sem precisar da ajuda de ninguém. Lá estava ela. De pé, e enxergando outra vez.
Ela se virou para olhar no espelho. Os cabelos estavam grande, iam até sua cintura com grandes cachos nas  pontas. Vestia um vestido branco, que ia pouco acima do joelho com detalhes de rosa claro e sua barriga que agora era visível.
Viu o medico pelo espelho que estava sorrindo para ela. Então ela quis chorar. Assim que as lagrimas foram se acumulando em seus olhos ela os sentiu arder.
- Sr. Meus olhos ardem.
- Isso também é normal. Mais vai passar, espere um pouco, evite chorar... Se conseguir. - Ela sorriu e depois gargalhou. Estava tão feliz. Agradeceu a Deus mentalmente e perguntou ao medico:
- Eu já posso ir?
- Sim. Mais esteja aqui semana que vem.
- Tudo bem. Onde meu pai e Mathew estão?
- Na sala de espera. Te acompanharei até lá. - E seguiram até a sala de espera. Mathew parecia apreensivo. Ele era alto, um pouco mais alto que Victor. Era louro e forte. Anna sentiu seu coração bater mais forte e achou engraçado. Era como ela o imaginava, louro... Forte.
Victor vestia uma roupa social. O cabelo estava perfeitamente em ordem e andava de um lado para o outro. Ao verem Anna chegando os dois ficaram lado a lado.
- Olá. - Ela disse com um sorriso que ia praticamente de orelha a orelha.
- Filha... Você esta me vendo? - Anna gargalhou e correu até seu pai e o abraçou. Depois abraçou Mathew, que parecia ter sido um abraço mais longo. Depois comprimentou o medico e lhe agradeceu. O resto do dia foi maravilhoso. Anna devia descansar, mais não foi o que fez. Ela estava no Brasil, queria conhecer aquele lugar.
Foram ao zoológico. Mathew contava algumas historias sobre o que conhecia ali. Foram ao parque. Ao shopping e Anna comprou algumas coisas que gostara. Victor os seguia o tempo sem fazer nada. Anna se aproximou dele e lhe tirou a gravata, sentindo que não era o suficiente bagunçou o cabelo do seu pai. Que se assustou com a reação da filha.
- Anna, pare. - Disse ele tentando arrumar o cabelo.
- Não, pai. Deixe isso de lado, ninguém conhece você aqui. Vamos... Aquilo parece divertido. - Ela disse apontando para uma pista de gelo que tinha no shopping. Algumas pessoas patinavam ali.
- Anna... Para você dessa vez não. - Disse Mathew.
- Por que?
- Por causa da Aninha, ai dentro. - Ela riu do apelido fofo que sua filha havia ganhado e deixou de lado. No fim da tarde, quando se sentia literalmente cansada, tomou um banho e foi dormir, mais com um unico medo... De tudo aquilo ser um sonho.

Continua...

31 de ago. de 2011

Abra os seus olhos. / O Poeta e a Cega - Parte 13


A manhã foi fria na Europa. Era certo que o inverno havia chegado.
-Eu estou tão ansiosa, Mathew. Eu não acredito que estou indo fazer uma cirurgia. Todos os medicos disseram que eu tinha chance de voltar a enxergar. - Anna estava euforica, pulava, sorria, dançava o tempo todo. Mas Mathew estava calado. Algumas vezes concordava com o que Anna dizia, mas sem prestar muita atenção.
- Anna... Vai ser uma transfusão. De uma pessoa que não precisa mais dos olhos. Não quero que você fique chateada caso algo dê errado. - Ele disse.
- Não vou ficar chateada. Quer dizer... Vou, mais vai passar. Não quero ter pensamentos negativos agora Mathew... Está tudo indo tão bem, por favor, não me tire isso. - "Ela tem razão." Ele pensou. Não sabia porque havia acordado com todo aquele mal humor. Fora ele que encorajou Anna a ter fé de que voltaria a enxergar a qualquer circunstancia.
- Você está certa. Me desculpe. - Ele tentou a beija-la, mais assim que ela sentiu a aproximação dele, ela desviou o rosto. Tentou sorrir como desculpas e segurou Mathew pela mão direita.
- Vamos. - Ela disse. E ele apertou a mão dela como "Sim" e "Boa sorte."
Eles entraram no carro e no caminho receberam a ligação de Victor. Ele já estava no aeroporto esperando pelos dois. Iriam comprar algumas roupas para Anna ali mesmo e viajariam.
Foi o que fizeram. Marrie os acompanhou até o fim das compras de Anna e depois voltou para casa. A viajem foi bastante longa. Anna dormiu por um longo tempo. Quem não conseguia dormir nem por um minuto era Mathew.
Ele revirava seus pensamentos. Pensou melhor sobre o casamento. Pensou melhor sobre assumir uma criança que não era sua e pensou muito sobre essa paixão repentina por Anna. Se condenou milhares de vezes. Sabia que era arriscado. Ele já ouvira Anna contando para Marrie alguns dias que passara ao lado de Peter e  quão perfeito fora esses dias. Pensou em Peter, em como ele seria. E por um instante pode jurar sentir ódio dele. "Ou seria inveja." Ele pensou. "De qualquer jeito... Eu não me importo." "Não me importo. Não me importo. E não me importo." Ele pensava, insistia que não se importava até olhar para o lado e ver Anna dormindo. Como se a vida não tivesse problemas. Como se ela mesma não tivesse que se importar com nada. Como se uma criança não fosse muito a se pensar. Sua cirurgia... E se não fosse bem sucedida? Mais nada daquilo importava. Ela simplesmente não ligava.
"Se ela soubesse..." Ele pensou. "Quão sincero é o mundo que ela enxerga. Jamais pensaria em ver outra vez."
Ele se aconchegou na cadeira ao lado de Anna para poder assistir enquanto ela dormia e acabou adormecendo também. Assim o dia se fora e chegaram no Brasil a noite. Se hospedaram num dos melhores hoteis de São Paulo e mais tarde sairam para jantar. Victor anunciou que eles passariam um ano no Brasil. Anna teria professores particulares para aprender a ler e escrever e algumas outras coisas. Aprenderia a se portar á mesa, a se vestir e coisas em geral.
A cirurgia estava marcada para a manhã seguinte. E assim que terminaram de jantar cada um foi para o seu quarto.Victor não deixou que Anna e Mathew dormissem no mesmo quarto. Aliás... O casamento era uma mentira. Então não tinha motivo.
Antes de dormir Anna pensou em Peter. Pensou em sua filha. E caso voltasse a enxergar, pensou em como seria. A criança estaria com seis meses quando voltassem para a Europa. E como estaria Peter durante esse tempo? Teria ele conseguido realizar os seus sonhos? Estaria ainda batalhando? Seria errado perguntar para ao seu pai? Pensou em milhares de coisas e das milhares de coisas desistiu.
Como havia dormido muito na viagem, ficou acordava até tarde ouvindo o som da televisão e imaginando o que deveria estar mostrando ali. Algumas vezes ria. Era inacreditavel. Amanhã ela teria a chance de voltar a enxergar outra vez. Se lembrou de Rain. "Rain. Rain. Que falta eu sinto de você... Como você deve ser linda." Ela brincou com os pensamentos até que dormisse.
Eram dez horas da manhã quando seu pai foi ate seu quarto para acorda-la.
- Hora do café da manhã. - Ele disse. - Tome um banho rápido e em cerca de trinta minutos eu volto para buscar você. - Ela assentiu e tomou um banho. Marrie havia comprado muitos vestidos de cores claras, que serviriam para qualquer ocasião, então não importava qual ela pegava. Secou seus cabelos com a toalha, os penteou e logo seu pai voltou para busca-la.
- Você está lindissima. - Ela riu. Era como se fosse brincadeira quando alguém a elogiava. Victor entendeu que o sorriso fora uma forma de agradecimento e a guiou até o restaurante do hotel. Mathew foi dizendo tudo que havia ali. E no prato foi algumas frutas com mel, panquecas e suco. Depois sentiu uma vontade gigantesca de comer uma torta de chocolate, e então Mathew foi buscar.
- Você não tem fundo? - Ele perguntou rindo.
- O que você quer dizer com isso? - Anna estava com a boca toda suja de bolo e isso o divertia bastante. Victor os observava com cautela mais não dizia nada.
- Que você comeu dois mamões com mel. Comeu também banana e uma tigela de salada de fruta. Comeu quatro panquecas com calda de caramelo e um pedaço grande de torta e chocolate.  Sem contar com o suco... Que foi quase um litro.
- E aonde está o problema? - Ela perguntou.
- Não sei... Acho que você comeu ele também. - Os dois riam muito. Anna mostrava lingua para Mathew, e eles agiam feito criança.
No almoço foram para um restaurante japonês, Anna odiou a comida. Quis vomitar, então foram para outro restaurante. De comida indiana e adorou. Amanhã havia sido ótima. Todos riram muito.
- Hora de irmos. - Disse Victor olhando o relógio. Anna sentiu o peito arder e o coração gelar. Pode sentir a ponta do nariz começando a soar e as mãos ficarem frias. Mathew se aproximou e a segurou pela mão.
- Vai ficar tudo bem. - Ele disse. E ela sentiu o coração se aliviando.
Seguiram rumo ao hospital. Anna foi atendida imediatamente. E já podia se dirigir para a sala de cirurgia.
- Anna... Fico por aqui. Infelizmente não posso te acompanhar, mais Mathew estará lá como medico, para te ajudar no que for preciso. - A voz de Victor parecia triste. Estaria com medo? Anna estendeu os braços e assim e Victor os tocou ela o puxou para um abraço apertado.
- Obrigada por tudo. - Ela sussurrou. Victor pousou as mãos sob os ombros dela e saiu.
- Ele está quase chorando. - Disse Mathew. - Não queria que você percebesse isso. Ele se preocupa muito com você.
- Eu estou com medo, Mathew. - Ela disse.
- Não precisa. Confia em mim, vai dar tudo certo. E quando você sair eu estarei te esperando para cuidarmos da nossa filha. - Ele disse sorrindo. Ela também sorriu. Mais a palavra "Nossa" não se encaixou na cabeça dela.
Logo o nome dela foi chamada e ela teve que entrar para a sala de cirurgia. Mathew a beijou na testa antes que ela deitasse na maca. Anna adormeceu. Sabia que estava sonhando porque estava flutuando sob o mar. De repente estava em um quarto escuro o chão estava molhado e o cheiro não era agradável. Ouvia alguém bater na porta mais não conseguia a encontrar. Tentava apalpar qualquer coisa, mais não encontrava nada e aquilo a assustou. Sentou naquele chão molhado e chorou e só parou quando viu uma luz entrar por uma janela. A luz lá fora era tão forte que ela teve que fechar os olhos por algum tempo. Assim que seus olhos se acostumaram com a luz ela os abriu e viu um jardim lindo. Seria seu jardim? Sim! Era seu jardim. Descobriu assim que viu a toalha no chão debaixo da arvore. A toalha estava cheia de folhas secas por cima e o lugar estava lindo, incrivel. Queria ficar ali o dia todo. Mais alguém bateu na porta outra vez e uma mão se estendeu. Não conseguiu ver o rosto. Mais a levou para uma casa grande. Cheia de escadas. Por algum motivo soube que devia esperar. Subiu as escadas e se deitou numa cama grande, num quarto cor de rosa. Logo sentiu alguém pulando na cama e acordou. Era uma garotinha, com pouco menos que cinco anos. Ela perguntava:
- Por que você está dormindo no meu quarto, mamãe? - Então Anna se levantou e sorriu. A garotinha tinha cabelos longos e escuros, tinha pele clara e olhos azuis.
- Filha. - Anna a chamou enquanto a pegava em seu colo. Mais logo as cores foram desaparecendo. Logo tudo foi sumindo. Ela estava acordando, e sentiu medo por isso.

Continua...



30 de ago. de 2011

Aprenda a respirar O2 / O Poeta e a Cega - Parte 12



- Isso é... - Ela iria dizer impossível, se realmente fosse. Se lembrou de tudo que acontecera com Peter... Aquele dia. Suas lembranças voltaram átona. A deixaram tão tonta que foi preciso beber agua.
- Isso é possível. - Foi o que ela disse. Meio chateada, meio assustada.
- Como?
- Antes de vir para a Europa eu tive um caso com... Com alguém, sabe. - A palavra alguém ficou martelando na cabeça dela. Desde quando Peter havia se tornado tão insignificante ao ponto de se tornar simplesmente "Alguém." - Eu não sabia que... Eu não esperava por isso. - Ela quis chorar. Mais se conteve.
- Você tem uma saída.
- Qual?
- Você pode... Tirar o bebê.- A cena do bebê sendo tirado do seu corpo antes de si quer ter se formado. Antes de ter mãozinhas, pezinhos, antes de si quer ter um coração a deixou terrivelmente assustada. Jamais, ela pensou.
- Não. Nunca farei isso. Seja o que for. É o meu filho, Mathew. Eu jamais faria isso com ele. - Mathew havia começado a soar. Estava nervoso, muito nervoso. Como explicariam tudo aquilo para Victor?
- Calma. Eu resolvo com o meu pai.
- Anna... Você não entende. Esse bebê vai complicar tudo. Pode ser que estrague tudo. - Anna sorriu sacarticamente.
- Então que se complique tudo e que estrague tudo. Porque veja só que engraçado... Não faz nem 10 minutos que eu descobri que eu estou grávida e já estou apaixonada pelo meu filho.
- É filha. - Anna sorriu. Depois gargalhou. - Filha? - Ela repetiu e colocou a mão sobre sua barriga. Sentiu que não conseguiria conter o choro e então chorou. Mais suas lágrimas nunca haviam caido por motivos bons. E aquilo trouxe a ela uma sensação de paz tremenda.
- Vamos para casa. - Ela disse. - Temos muito o que contar. - Mathew engoliu a seco e deu sinal para o motorista seguir em frente.
Quando chegaram em casa Anna procurou Victor mais não o encontrou. Perguntou para Marrie e soube que ele logo voltaria. Então decidiu tomar um banho. Pediu ajuda a Marrie que preparou tudo e logo Victor havia chegado para jantar. O sorriso de Anna ainda estava marcado em seu rosto. Aquilo até assustava Victor.
- O que houve? - Ele perguntou forçando um riso.
- Pai... Preciso que preste bastante atenção no que eu vou te contar. - Victor se ajeitou na cadeira e disse:
- Então conte.
- Se lembra de Peter? - Ela sabia que sim. Então não esperou que seu pai respondesse. - Antes de você voltar nós tivemos um caso. E agora... Digo... Hoje quando eu fui buscar os meus exames eu descobri que estou gravida.
- O que? - Victor se levantou de uma vez. Fazendo um som terrivel. Anna se assustou com o barulho, e com a reação do pai.
- Não pensei que você fosse reagir assim.
- Como não Anna? Por Deus. Diga que isso é uma brincadeira! Como pode me contar isso com tanta tranquilidade? - Victor estava indignado. Os empregados haviam saido de perto e somente Mathew estava na sala de jantar.
- Não é uma brincadeira. - Disse Anna entre dentes. - Eu estou grávida e você querendo ou não vai ser avô de uma linda menininha.
- Anna você não pode ser vista como mãe solteira e cega pela sociedade. Vamos ter que fazer um casamento arranjado... E rapido.
- Um casamento arranjado? - Perguntou Anna sendo cínica.
- Sim. Ser mãe solteira é vergonhoso, Anna.
- E ter um casamento arranjado não?
- Ninguém irá saber que é arranjado. Só precisa durar até a criança nascer. Eu te suplico. - Anna sentiu-se mal por ter deixado seu pai tão exaltado. A alguns dias atrás ouviu seus empregados comentando que Victor estivera muito doente. Que sua imunidade estava baixa e que poderia ter uma recaída. Não queria o prejudicar. Então concordou.
- Eu conheço um ótimo rapaz. Você irá gostar dele.
- Já que é um casamento arranjado, eu quero me casar com Mathew. - Disse Anna.
- Com Mathew? - Perguntou Victor.
- Comigo? - Perguntou Mathew engasgando.
- Sim. Não quero me casar com alguém que eu não conheço.
- Mais nós mal nos conhecemos.
- Se lembra do que você me disse quando eu cheguei aqui? Então... Eu mal te conheço... Mais gosto de você. - Ele sorriu. Victor suspirou e assentiu.
- Tudo bem. Mathew é um medico prestigiado. Formado e muito bom. Concordo com o casamento. Amanhã eu anunciarei.
- Já? Tão rápido.
- Se esperarmos mais... Nós só poderemos viajar para fazer sua operação depois que a criança nascer. O casamento vai ser muito bem arranjado. E vocês... Tratem de fingir bem. - E as coisas foram acontecendo. A noticia que foi espalhada fora que Anna e Mathew se conheceram no jantar no dia em que Anna chegou. Mathew achara Anna encantadora e que Anna ficara sobe os encantos de Mathew. Literalmente o conto de fadas que a sociedade queria ouvir.
Acharam lindo o fato de que Mathew iria pedir uma cega em casamento e por fim terem um bebê. Não ligaram muito por tudo ter acontecido tão rápido. Anna e Mathew se divertiam muito encenando tudo aquilo.
E no final de cada noite eles riam e brincavam com os fatos.
Acontece que nem sempre as coisas conseguem ser de brincadeira por muito tempo. No ultimo jantar cerimonial. Antes do casamento, na hora do beijo aconteceu algo além da brincadeira. Havia sido real. E aquilo havia mexido com os dois.
Não conversaram muito no dia do casamento. E a encenação foi muito mal ensaiada. O beijo foi sem graça e tiveram uma rápida viagem para uma cidade ao lado na suposição de uma lua de mel.
- Enfim... Marido e Mulher. - Ela sorriu e ele só percebeu que estava se apaixonando quando seu coração se acelerou ao vê-la ali linda como sempre e sendo sua esposa.
Ele se aproximou dela e a segurou pela cintura.
- Anna... Preciso te dizer uma coisa. - Ela sabia o que ele iria dizer, só não tinha certeza se queria ouvir. Então o puxou e o beijou. Sabia que o assunto morreria ali e quando voltasse a vida tentaria se desfazer outra vez.
Passaram o dia numa casa de praia e se encontraram com Victor no dia seguinte para irem de viagem ao Brasil a operação de Anna.

Continua...

Aprenda a respirar O1 / O Poeta e a Cega - Parte 11



Foram três dias de viagem. Anna se sentia fraca e desde ontém não conseguia se alimentar bem. Anna e Victor só conversarão o necessário. Mais não era isso que ele queria. Ele havia contratado um medico particular para cuidar de sua filha e acompanha-la aonde quer que ela fosse. Contratou um motorista e cozinheiros. Não queria que nada lhe faltasse. Ter a deixado quando ela mais precisou foi um dos seus piores erros. Ele se condenava por isso. Mais a vida o havia lhe ensinado a ser frio e guardar os seus sentimentos. A ser cauculista e acreditar que o dinheiro compraria vidas.
Faltando pouco tempo para chegarem em casa ele sorriu e disse.
- Fico feliz que você tenha vindo comigo.
- Não fique tão feliz assim... Voltei pelo bem de Peter. - Meio chateado ele concordou.
- Do que você vai sentir falta? - "Peter" ela pensou. Mais não foi o que ela disse.
- Do meu jardim. Vou sentir falta do cheiro das rosas... Do doce das laranjas e do alecrim. - Ela sorriu e a nostalgia a deixou meio tonta.
- Anna... - Ele foi falando baixo. - Espero que você não se sinta ofendida... Mas contratei um medico para ajudar na recuperação da sua visão.
- Como? Todos os medicos da minha cidade já tentaram me ajudar. - Ela tentou sorrir sem muito sucesso. - E como se pode ver... Não conseguiram. - Victor estava chateado. As palavras de Anna vinham como um agua fria. "Ela nunca entenderia."  Ele pensou. Também pensou em desistir de tentou a faze-la feliz, mais continuou.
- Por favor Anna. Nós iremos morar juntos. Preciso que você confie em mim. Me dê uma segunda chance.
- Eu não me lembro de ter lhe dado a primeira.- Respondeu Anna com toda frieza possível.
- Anna... Entendo todo o rancor que você sente por mim. Mais aceite que eu sou seu pai. Vamos morar por um tempo indeterminado juntos. Preciso que você confie em mim. Me dê uma unica chance... Para lhe provar que não te quero mal. Uma chance Anna... Não estou lhe pedindo demais. Quero lhe ajudar, lhe fazer feliz. Lhe dar o tempo que eu te fiz perder. Eu quero fazer o que for preciso para lhe trazer de volta a visão. Nem que tenhamos que ir para o Brasil. Entenda... Eu amo você.
- Me... Me ama?
- Com todas as minhas forças... Anna. Eu sinto muitissimo por ter lhe deixado. Por favor... Aceite os meus cuidados? - Ela não sabia se o que ele estava falando era verdade. Não sabia o que ele queria e muito menos as suas intenções. Mais ele havia pedido uma chance e mesmo que parecesse bobo da parte dela dar uma chance a ele, mesmo que depois ela fosse se culpar caso algo acontecesse. Ela lhe deu uma chance. E o pacto de paz foi selado com um beijo na testa.
Haviam chegado em casa. Anna procurou Rain pelo carro mais ela estava nos braços de seu pai. "Pai... Pai.. Victor. Vic. Hum... Pai é melhor." Ela pensou no melhor para o chamar. Foram recebidos pelos empregados que estavam divididos em duas fileiras, mulheres do lado direito e homem do lado esquerdo. Victor fez as apresentações. Anna não conseguiu gravar o nome de todos, mais logo o medico estava do seu lado descrevendo o que acontecia em sua volta. Ele também descreveu a casa e o andar de cima no qual encontrava seu quarto.
- Seu quarto... Ele foi pintado de branco para representar sua pureza.
- Acredite... Eu não sou pura.
- A pureza não está no corpo, Senhorita Anna. E sim no coração.
- E o que te leva a acreditar que o meu coração é puro?
- É como gostar de alguém que você não conhece, ou mal conhece. Eu não sei... Eu só... Sinto. - Anna ficou paralisada com a resposta. Havia sido tão ágil. Até parecia as respostas de... Peter. Ela o deixava escapar por entre os seus pensamentos. Queria evitar, mais ainda não sabia como.
Ouviu alguém bater na porta. Era uma das empregadas, seu nome era Marrie , na verdade Marrie era quase uma governanta. Ela anunciou que Victor esperava Anna para um jantar. O jantar havia sido anunciado também a alta sociedade para conhecerem Anna.
Marrie preparou o banho de Anna com óleo perfumado e hidratantes. Lhe penteou o cabelo, secou e escolheu sua roupa.
No jantar todos ofereceram ajuda a Anna. Caso ela precisasse. Os jovens rapazes haviam ficado fascinados em Anna, a acharam linda, radiante. Anna tentou fazer parte daquela sociedade desprezível e ignorante, mais caso seu pai perguntasse "Havia sido um ótimo jantar."
Os tempos foram passando. E as visitas aos oftalmologistas eram constantes. "Há Chances." Ela os ouvia dizer e sentia medo de se empolgar demais. Se passaram um mês... Dois meses. Teria que ir pra fora do país para fazer a operação. Antes disso teria que ir ao medico. Fazer exames. E foi o que fez.
No dia de ir buscar os exames o seu medico que agora intimos conversavam melhor. O medico desceu do carro e foi até o balcão buscar os exames de Anna.
Esperou para abrir ao entrar no carro. Foi dizendo:
- Está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem. - Até que ele ficou em silencio. E aquilo a preocupou muito.
- Por Deus Mathew. O que tem ai? Eu vou morrer?
- Anna você...
- Eu?
- Você está gravida.
- O que?


Continua...

19 de ago. de 2011

Sem que insista / O Poeta e a Cega - Parte 1O



- Anna, Anna, Anna. - Ela ouviu alguém insistir em chama-la. Não queria acordar, não queria ter que encarar aquela realidade. Qualquer outra realidade ela até encararia tranquilamente, mais aquilo? Parecia peça do destino.
Teve certeza de estar nos braços de alguém, pensou que seria Peter mais se enganou. "Eu nem sei o nome dele... Como posso o chamar de pai?" Ela pensou. E sentiu uma certa raiva. Afinal de contas... Tudo bem que ele era o pai dela, mais isso não o fez pensar antes de deixa-la, antes de deixar a sua mãe. Se ele tivesse ficado e ajudado a Judite talvez ela até estivesse viva.
Ele foi embora... Sem muitas delongas, sem mandar cartas pelo menos para dizer se estava bem ou não. Ele sempre fora ausente e de repente queria a levar embora. Ela não podia. É claro que não.
Anna resolveu acordar e resolver esse assunto. Resolveu que não iria embora e que seu pai ouviria umas poucas e boas. Se levantou lentamente, ainda estava um pouco tonta e se apoiou em Peter.
- Como você está bela, minha filha. - Disse seu pai.
- Por favor... Não me chame de minha filha. Eu nem siquer conheço você. - Ela disse cuspindo veneno. Victor sorriu e se aproximou de Anna.
- Isso não é tão difícil de resolver... Eu sou Victor, o seu pai. Vim busca-la para ir morar comigo na Europa e ter uma vida digna. Longe desse campo.
- Eu não quero ir... Quero dizer... Eu não vou!
- Você não decide. É menor de idade, então facilite as coisas para mim, Anna. Tenho certeza que você não é tão infantil quanto quer parecer ser.
- É claro que eu decido. Pelo que eu sei você deixou a mim e a minha mãe quando eu havia acabado de nascer. Nunca ligou para saber como eu estava e o que acontecia comigo. Muito menos com a minha mãe, que se você estivesse aqui talvez teria cuidado dela melhor do que eu... A propósito, eu sou cega. Você sabia?
- Eu sei de tudo que se passa por aqui Anna.
- Só não se importa.
- É claro que eu me importo... Veja só, convenci um grande amigo meu a encaminhar Peter para Los Angeles para publicar o seu livro. Peter será um grande poeta... Mais isso... Se você vier comigo. Se você não vier, claro, vou te levar a força e Peter não vai conseguir ser escritor nem de placa de banheiro.
- Anna... Não vá. - Peter pediu.
- Mais Peter você vai ter uma grande oportunidade, imagine. É o seu sonho.
- Anna, eu troco ele por você... Eu suplico... Não vá.
- Você é um poeta, Peter. E eu sou uma cega. Eu não tenho o que você quer.
- Você é o que eu quero. - Victor tomou a frente de Peter e tocou os ombros de Anna.
- Imagine só Anna. Peter teria tudo. Ele seria um prestigiado escritor. Um grande poeta. Ele realizaria o sonho dele. E aqui... Aqui não é lugar pra você. - Ele disse num tom meio enojado ao se referir do lugar.
- Você me promete? - Perguntou Anna para Victor.
- Anna por favor não... - Ele disse com a voz trêmula. Se não estava chorando, estava quase.
- Peter... Me desculpe. Não posso fazer isso com você. É o seu sonho. Entenda que também é importante para mim ver você bem.
- Então fica! Porque se você for eu não vou ficar bem. Longe disso. Eu adoeceria.
- Não posso... E por favor me entenda. - Anna estendeu os braços e Peter a seguro. Ela se aproximou dele e   o selou a boca. "Eu te amo." Ela sussurrou e ele sentiu seu corpo ficar gelado e seu coração palpitar. "Sempre amei... E sempre vou te amar." Ela sorriu e foi se afastando.
- Victor... Eu tenho uma gata... Eu quero leva-la.
- Uma gata sarnenta? Faça-me o favor Anna. Não a necessidade.
- Tem certeza? - Ela perguntou nervosa.
- Argh! Tudo bem...Pegue seu saco de pulgas. Não precisa fazer suas malas, você vai comprar roupas novas.
- Peter pode ir busca-la para mim?
- Claro. - Ele disse e se foi. Rain estava no quarto de Anna como sempre, ele a pegou e a colocou em seu colo.
- Rain... - As lágrimas se acumularam tão rapidamente em seus olhos que foi impossível conter. - Cuide dela por mim... Eu prometo que logo eu irei busca-la. Prometo ir buscar vocês. Cuide dela, ok? - Sem ter mais o que pedir a Rain ele desceu as escadas como quem carregava o dobro do peso do corpo, talvez até o triplo.
Ele entregou Rain para Anna que o abraçou forte e depois se foi. Victor a segurou pela mão e a levou até um carro preto.
Anna sorriu e acenou para Peter antes de entrar no carro e ele apenas acenou de volta. Não havia motivos para sorrir. Ele nem sabia se havia algum motivo.
Victor se aproximou de Peter e lhe entregou um cheque de novecentos mil dólares.
- Compre algumas roupas novas. Ajudarei no seu progresso o mais rápido possível. Obrigada por ter cuidado de Anna. - E assim ele se foi. Levando junto dele o que ele havia sido e o que ele tinha conquistado. Estava levando embora quem ele amava e isso doía demais.
Assim que Victor entrou no carro e bateu a porta Anna suspirou. Tão dolorosamente que não aguentou e chorou, chorou por um logo tempo que adormeceu. Rain estava aninhada em seu colo o tempo todo, ela era parte dele. Era parte de uma bela lembrança e aquilo seria para toda vida.

Continua...

17 de ago. de 2011

Falsos laços sentimentais / O Poeta e a Cega - Parte O9



Anna pensou em se levantar, mais se sentia muito mal. Estava fraca e meio tonta e podia sentir seu corpo ficando gelado.
- Anna o que está acontecendo? O que você comeu? - Perguntou Peter enquanto tirava os cabelos de Anna do rosto dela e os prendia na nuca. Ele pegava um pouco de agua e molhava a testa dela para limpar o suor que se acumulava rapidamente.
- Eu... Eu comi todo o bolo que você fez com calda de chocolate. Não me sinto bem. - Ela respondeu com a voz fraca, quase não dava pra ouvir.
- Você comeu todo bolo?
- Hã... Sim.
- Então é por isso que você esta passando mal. Venha... Saia dessa agua, ela já está fria. A quanto tempo você está ai? - Ele foi a questionando enquanto pegou uma toalha no armário do banheiro, a secou e a levou para cama.
Anna soltava alguns gemidos de dor e apertava sua barriga. Podia notar o quanto ela estava se sentindo mal. O contorno na sua boca estava ficando branco e ela soava frio sem parar.
- Peter... Eu... Ai! - Ela tentava falar em meio as pontadas que sentia na barriga. - Eu acho que...
- Psiu. Fique quieta! Tome, peguei uma roupa para você. - Ele a vestiu com cuidado, preparou um chá e logo ela dormiu. Peter não saiu nem por um minuto do lado de Anna. Ela parecia tão frágil... Tão fraca.
Quando ele observava Anna sempre sentia vontade de desistir de Los Angeles. "Ela nunca aceitaria" Ele pensou. "Se eu ficasse... Ela não aceitaria o fato e muito menos a mim." "E o que fazer quanto se deve escolher entre o seu amor e o seu sonho?" "Eu escolhi o meu amor e ele insiste para que eu vá sonhar..." "Eu jamais vou entender."
Ele pensou... Pensou tanto que sentiu a cabeça doer. Não queria ir para Los Angeles e era isso que ele faria. Não podia simplesmente deixar Anna ali. Ela não conseguiria se cuidar, e as pessoas eram muito más para ele confiar em alguém para cuidar de Anna enquanto ele estivesse fora. Mentiria para ela se fosse preciso. Ficaria fora por dois ou três dias e diria que ele poderia mandar seu trabalho por correio. A idéia era ótima, ele continuaria  planejando antes de dormir... Porque parecia que as idéias surgiam com mais facilidade.
- Peter... - Anna o chamou.
- Anna! Eu estou aqui. - Ele disse a segurando pela mão.
- Eu estou com fome. - Ele riu se sentindo aliviado por ela não estar mais se sentindo mal.
- Ok. Vou preparar algo para você comer, não saia da cama.
- Ok. Eu quero macarrão.
- Macarrão?
- Sim. Com muito molho.
- Você não gosta de muito molho.
- Mais eu quero muito molho.
- Tudo bem, volto já. - Peter foi para o segundo andar da casa e pegou os ingredientes para fazer o macarrão. A agua já estava fervendo e ele foi preparando tudo com muito carinho.
- O que falta? hã... Ah sim! O tempero. - Ele estava indo pegar o tempero quando alguém bateu na porta. Ele achou aquilo estranho. Ninguém ia ali, a não ser que fosse convidado ou algo assim. Esperou um pouco e bateram outra vez.
Ele não soube porque mais sentiu seu coração martelar, como se estivesse quase parando.
- Peter quem é? - Anna gritou do quarto de cima. Assim que ele abriu a porta ficou paralisado. Um homem que estava muito bem vestido. Com roupas finas e um sobretudo preto. Ele usava um chapéu que combinava com a cor da roupa e sorriu ao ver Peter.
- Olá Peter. Como você cresceu. - Disse o homem. Peter arqueou as sombrancelhas.
- Quem é você?
- Não se lembra de mim? - O sorriso do homem aumentou ainda mais. - Sou eu, Victor... O... O pai de Anna. - O silencio tomou conta do lugar. E Victor mantinha seu sorriso vivo e ardente. Peter não entendia o motivo dele estar ali. Ou então não queria entender.
- Não vai me convidar para entrar? - Perguntou Victor.
- Sim... Claro, en... Entre. - Victor entrou e observou a casa com cautela. E disse:
- Onde Anna está?
- O que você veio fazer aqui? Soube que a tia Judite morreu?
- Eu sei de tudo Peter. E se quer mesmo saber o que vim fazer aqui, vou te dizer... Vim buscar Anna, ela vai embora comigo para a Europa.
- Não, ela não vai.
- E quem é você para dizer o que ela vai e o que ela não vai fazer. - Peter ficou calado. E se fez a mesma pergunta, "Quem era ele para dizer o que Anna faria ou não?" Aquilo doeu. Tão profundamente que ficou sem reação.
Anna estava parada no primeiro andar e procurava o corrimão com a mão direita.
- O que está acontecendo? - Perguntou.
- Meu amor... Sou eu, seu pai.
- Pai? - Anna estava sem reação. Descia lentamente a escada e ao chegar onde seu pai estava ele a abraçou, Anna ficou tonta e então desmaiou.

Continua...

15 de ago. de 2011

O pior cego não é aquele que não enxerga é aquele que não quer ver. / O Poeta e a Cega - Parte O8



O mês foi chuvoso, os intervalos eram curtos e frios. Tudo estava bem entre Peter e Anna. Já não comentarão mais sobre a ida dele para Los Angeles, afinal de contas a decisão já havia sido tomada.
- Mais tarde eu vou na cidade. - Disse Peter sentado no chão enquanto observava Anna fazer uma trança em seus cabelos. Eram tão longos que no meio da trança Anna parava para descansar os braços. A alça do vestido dela estava caido deixando a mostra o seu ombro. Podia parecer bobeira, mais Peter conseguia ficar hipnotizado por Anna.
- Tudo bem. - Ela disse e isso o incomodou. O fato de parecer que Anna nunca se envolvia por completa ou de não se importar com quem e pra onde ele iria o incomodava. Ele suspirou fundo na intenção de chamar a atenção dela, mais não funcionou. Ela parecia estar... Cansada dele.
- Vou voltar tarde. - Ele tentou mais uma vez.
- Ok. - Ela respondeu friamente.
- Anna o que está acontecendo?
- Deveria estar acontecendo alguma coisa?
- Não sei, deveria?
- Peter... Olha só, eu não estou me sentindo bem. Não sei o que está acontecendo, estou morrendo de sono. Quando você chegar a gente conversa, pode ser? - "E tinha escolha?" Ele pensou. "Distúrbio de personalidade múltipla... Só pode ser", "Ainda bem que ela não lê pensamentos... Ou lê?" Ele a olhou pelo canto do olho como se houvesse mesmo a possibilidade dela ler pensamentos e saiu do quarto.
Não quis bater a porta para não parecer dramático demais e achou que o melhor seria esquecer. Fez um sanduiche de geleia e creme de amendoin e comeu, mais continuou sentindo fome e fez outro.
A chuva estava cessando vagarosamente e sem piedade assim que a chuva parava o frio vinha com toda a sua força.
Peter calçou suas botas e se agasalhou, saiu de casa sem se despedir de Anna, e pra ser sincero consigo mesmo... Ele até havia se esquecido. Ao ouvir a porta no andar de baixo batendo Anna sentiu vontade de chorar. Nos últimos dias ela andava abalada sentimentalmente. Com um certo tipo de medo ou até mesmo arrependimento.
- Eu mesmo não me entendo... - Disse para Rain. A gata estava deitada sob sua barriga e ronronava como resposta. - As vezes eu me sinto tão bem com ele, outras eu sei lá... Fico enjoada. Como se você passasse o dia todo comendo doce. - Anna suspirou. - E falando em doce... - Ela se levantou deixando a gata no chão e foi apalpando a parede até chegar na porta. Desceu as escadas direto para a cozinha.
- Eu sei que o Peter fez um bolo de chocolate ontém. - Ela disse para se mesma. - Deve estar na geladeira. Assim como a calda de chocolate. - Apalpou tudo na geladeira até encontrar o que queria. Primeiro deixou o bolo na mesa e depois a calda. Procurou alguma cadeira com as mãos e assim que encontrou se sentou.
Comeu, comeu todo o bolo, e depois que bebeu agua perecia ainda sentir fome mais não comeu. Continuou sentada ali na sala e de repente sentiu uma vontade imensa de chorar. Colocou as mãos na testa, como se sentisse que sua cabeça fosse explodir e chorou. Não sabia e nem imaginava o porquê, mais algo incomodava. De repente o choro virou raiva. Começou a despejar a calda de chocolate na boca mais parou assim que sentiu a saliva voltar quente da sua garganta para a boca. Ela queria vomitar.
- Peter. - Ela o gritou, mais não havia nada ali do que ela e o silencio. Ela tapou a boca tentando evitar que aquilo acontecesse ali e procurou num ato de desespero a escada.
Subiu rapidamente tropeçando algumas vezes e entrou no banheiro. "Aquela calda deve estar estragada. Estava mesmo com o gosto ruim." Pensou. Sentia o gosto ruim na lingua, se sentia incomodada e resolveu tomar um banho.
Fraca. Ela se sentia fraca. Se deitou na banheira como se seu corpo suplicasse por aquilo, suplicasse para que ele ficasse quieto. Colocou os braços sobre a beirada da banheira e ficou ali.
"Ondas..." Ela pensou. Pelo movimento em que a agua fazia na banheira fez com que ela se lembrasse da primeira vez que beijou Peter. Então Anna sorriu e adormeceu.
Anna estava com uma venda nos olhos. - O que é isso? - Ela perguntou. - Uma surpresa. - Pela voz, ela logo reconheceu que era Peter. Então ela sorriu, sem nenhum motivo, só pelo fato dele estar ali. 
Ele a segurava delicadamente pela mão e a levou para algum lugar com um cheiro bom. Cheiro de bolo de laranja. Um cheiro doce e agradável. 
- Preparada? - Ele perguntou. 
- Sim. - Ela sorriu e ele foi tirando a venda que lhe tampava os olhos. Um espelho. Espera. Ela estava enxergando. Perfeitamente. Estava vestida com vestido longo e azul claro. O cabelo esta cheio de cachos e os seus olhos tinham a cor de mel. Ela sorriu tão impressionada e maravilhada que queria gritar. 
De repente notou que estava no vale e o espelho já havia desaparecido. Peter estava atrás dela com um sorriso cheio de ternura. "Ele é lindo" Ela pensou. Estava vestido com roupa de gala e seus olhos eram de um azul celeste incrível. Anna se lembrou das historias sobre anjos que sua mãe contava para ela. 
- Obrigada. - Ela agradeceu sem mesmo saber se havia voltado a enxergar por causa dele.
- Eu não fiz nada. - Ele disse a beijou. Ela devolveu o beijo com a mesma intensidade, com o mesmo carinho e desejo. Assim que parou o beijo e dedicou um tempo para o observar ainda mais, notou que quem estava ali já não era Peter. Era outra pessoa. Alguém que ela não conhecia. Um homem louro dos olhos escuros. Sem expressão de sentimento. Sem nada.
- Aonde está Peter?
- Ele não faz mais parte da sua vida. - O homem louro respondeu.
- É claro que faz. Ele estava aqui... A pouco tempo. - Ela estava ficando desesperada.
- Foram apenas lembranças.
- Traga Peter agora mesmo.
- Não posso.
- É claro que pode. Traga Peter agora mesmo.
- Você pode escolher... Viver com Peter e ser cega. Ou poder enxergar e viver sem ele. 
- O que?
- Eu sei que você já escolheu. - O homem louro foi desaparecendo. Aliás... Tudo foi desaparecendo. A escuridão estava tomando conta do espaço e tudo que ela podia era ouvir alguém chamando seu nome. "Anna, Anna... Acorde por favor. Anna!" - Anna foi abrindo seus olhos devagar. A luz fez sua cabeça doer. Peter... Era Peter que estava chamando por ela. Ela podia o sentir, bem ali... Na sua frente.
Queria poder o abraçar, mais antes disso sentiu vontade de vomitar outra vez.

Continua...

10 de ago. de 2011

Em Você / O Poeta e a Cega - Parte O7


Os beijos foram se tornando algo mais intenso. As mãos de Peter dançavam embaixo da blusa da Anna. Ela pensou em se afastar mais logo mudou de idéia.
Peter se atrevia, puxava a blusa de Anna na intenção de tira-la, rasga-la, o que fosse. E Anna apenas o seguia.
O cabelo de Anna havia se soltado, grudava no corpo dela junto com o suor, junto com o desejo. A respiração descompassada de Anna arrancava alguns risos de Peter.
- Vamos subir? - Ele perguntou.
- Não Peter, acho melhor pararmos, isso já foi longe demais.
- Não... - Ele disse e a pegou no colo. - Não foi não. - Ele a levou para o quarto e a beijou. Tirou sua blusa e em seguida a de Anna.
O mundo lá fora já não importava, já não existia. Eles ficaram ali o dia todo. Dormiram juntos e fizeram tudo que podiam juntos. Anna não se sentia sozinha, sempre que Peter saia ela se divertia com Rain.
Peter havia deixado amostras de seu trabalho em muitas editoras e sempre antes de dormir ele recitava algum de seus poemas para Anna. "Você me inspira, Anna" Ele dizia. E sempre que ela se lembrava das palavras bem formuladas dele ela sorria.
Teve um dia que Anna estava tomando banho e Peter havia saido, assim que ela saiu do banho e se secou Peter chegou e a fez tomar banho outra vez com ele. Eles se davam bem, brigavam por besteira mais logo reconheciam isso e pediam desculpas. Enquanto estavam deitados na cama, no quarto de Anna, Peter disse:
- Uma editora resolveu publicar o meu livro de poemas.
- Isso é ótimo, Peter!
- É... Hum...
- O que foi? Você não parece ter gostado, não era tudo que você queria? - Ele sorriu.
- Digamos que meus planos mudaram.
- Por favor, Peter... Diga coisas desse tipo. Não se desiste de um sonho.
- Anna... Eles querem que eu vá para Los Angeles. - Anna engoliu a seco.
- Los... Mais... Por que?
- Querem publicar meu livro lá... Mais eu não vou.
- Não posso te pedir pra ficar, Peter.
- Nem me obrigar a ir. - Anna se virou e ficou deitada de costas para Peter. Ele tentou a abraçar, mais ela se afastava, sabia que se continuasse tentando ela sairia dali.
Os dois acabaram dormindo. Não conversaram até o jantar.
- Anna eu já disse que eu não vou.
- Você não está pensando no futuro.
- Eu estou pensando em você, Anna. Que droga! Isso não basta?- Peter havia perdido a paciência. Era tanta coisa pra pensar, era tanta coisa a fazer e ele não podia simplesmente a deixar sozinha. Mesmo que ela quisesse, mesmo que ele quisesse. Ele já estava tão envolvido com Anna, que doía pensar em deixa-la, era inevitável.
- Não, não basta. Você tem que viver, Peter. Vai se trancar aqui e viver cuidando de mim? Eu também não quero isso.
- As vezes parece que você não me quer com você.
- Eu te quero comigo, Peter. A tempos não me sinto tão feliz. Mais você não pode perder essa oportunidade. Por favor, diga que vai aceitar.
- Tudo bem, Anna. - Ele concordou não muito feliz, mais Anna também não ficou, depois de ter conseguido que Peter aceitasse ir para LA agora ela devia se preparar para o adeus. E muito mais doloroso que um adeus inesperado, é um adeus esperado. Porque ela acreditava que a dor do adeus inesperado ela sentiria depois.
- Vem cá. - Ele disse e a puxou para um beijo. - Você acha que é cedo para dizer que eu te amo?
- Acho.
- Ainda bem que eu não me importo. Anna, eu amo você.
- Psiiiu. - Ela sibilou e o beijou. Na verdade o que ela queria mesmo era fugir do assunto. Era certo que ela o amava, mais se ela dissesse talvez o fizesse desistir de Los Angeles. Então ela ficou em silencio.
"Eu também amo você, Peter. Inconseqüentemente" Ela pensou e o abraçou... Antes que ele pudesse ir.

Continua...

9 de ago. de 2011

Na verdade. / O Poeta e a Cega - Parte O6


Anna deixou os braços cair no mar, e foi parando o beijo lentamente. "Cuidar de mim? Eu preciso de cuidados?", ela pensou. Logo em seguida pensou em mais um milhão de coisas que não conseguiu separar e entender.
- Eu não preciso de cuidados Peter.
- Não é desse tipo de cuidado que eu estou falando, Anna. Sei que você pode se virar. Eu quero cuidar de você sentimentalmente... Sabe?
- Não, eu não sei. Peter nós somos primos.
- Anna não me venha com essa, você sabe que é de consideração. - Anna estava nervosa. Sentia o frio com mais intensidade e mesmo assim a ponta do nariz soava. Ela passava os dedos entre os cabelos para disfarçar o medo e a inquietação.
- Como você pretende ter um relacionamento comigo, Peter? Por Deus. Eu sou cega, eu não consigo ir muito longe sem que alguém pegue na minha mão, ou me leve até lá. Eu não quero que você viva preso a mim, tendo que cuidar de mim, porque eu sou incapaz de fazer muitas coisas sozinha. Você pode ter uma vida feliz, pode ter filhos lindos e uma ótimo esposa, que possa cuidar dos seus filhos e da sua casa quando você não estiver, mais eu não vou ser ela. Eu não posso.
- Você é cega, você não é um vegetal, nem nada disso. Você pode ter filhos e cuidar deles como você cuidou da sua mãe. Você pode ser feliz porque a cegueira não te roubou o sorriso, nem a vida. Roubou a sua visão. Mais se você quiser, se você me deixar... Eu posso enxergar por você. Eu posso ser os seus olhos. E jamais seria um fardo cuidar de você, Anna... Por favor... - Anna queria poder fugir dali, mais não sabia pra onde ir porque havia chegado ali carregada.
- Peter me leva embora. - Foi tudo que ela disse. Não deram uma só palavra em toda a volta. Poucos minutos depois que chegaram em casa uma ventania muito forte começou e trouxe com ela chuva e trovoadas.  Peter arriscou em fazer uma sopa de legumes. Anna jantou e logo voltou para o quarto. A chuva não cessou e no dia seguinte foi da mesma forma.
Anna resolveu sair do quarto sem muito entusiasmo, se sentou no chão da sala e ficou lá ouvindo o barulho da chuva. Ouvia algo bem baixinho, parecia um... Miado! Tinha um gato na chuva.
- Peter... Peter... Peter... Vem aqui, corre! - Ela o chamou desesperadamente. Peter apareceu na sala rapidamente de meias e quase escorregou.
- O que aconteceu? - Perguntou ele assustado.
- Tem um gato na chuva, ajuda ele.
- Como você sabe?
- Escuta só. - Peter ficou em silencio e depois de um tempo ouviu o gato miar.
- Esta chovendo, Anna. Deixa ele lá fora, deve estar fedendo. - Anna cruzou os braços e sem pedir outra vez disse:
- Então eu vou! - Peter riu e a puxou pelo braço.
- Não, deixa que eu vou. - Peter pegou a capa de chuva e saiu. Depois de quase dez minutos ele voltou.
- Esse seu gato é tão difícil quanto você! - Ele disse. Anna sorriu.
- Como ele é?
- Bem... Ele é preto e branco. E é ela. É femea.
- Que linda. Como vamos chamar-la?
- Anna II.
- Há! Engraçadinho... Que tal Rain?
- Rain? É... Gostei. Vou pegar um pano para secarmos ela.
- Tudo bem. - Peter saiu e logo estava de volta com um pano. Ele secava Rain com cuidado.
- Fique aqui a secando, vou pegar um pouco de leite para ela e procurar uma caixa para ela poder dormir. - Anna fez que sim com a cabeça e pegou Rain no colo, a secando carinhosamente.
Depois de seca, Rain tomou seu leite e dormiu em uma caixa improvisada por Peter. Anna havia amado a idéia de ter uma companhia. "Mais o Peter também é minha companhia" ela pensou. Mais sentiu raiva de si por ter pensado.
- Anna... - Peter chamou
- Hãm?
- Me desculpe por ontém... Não fique chateada comigo.
- Não estou chateada com você Peter... É que foi um susto pra mim.
- Ok, vamos esquecer isso.
- Esquecer? - Anna se sentiu mal. Por que ela iria querer esquecer? Ele não havia gostado? Anna pensou que Peter insistiria para que ela aceitasse o pedido dele, mais aconteceu o contrario, ele pediu desculpas e para esquecer?
- Sim, não quero que você fique chateada comigo.
- Mais...
- Quer pipoca?
- Hã... Sim. - O resto da semana foi sendo assim... Chuvoso e sem muito calor da parte de Peter. Se sentindo culpada demais, numa tarde quando Anna estava deitada no sofá ouviu Peter passando por ali.
- Peter fica aqui comigo. - Ela chamou. Peter se aproximou e Anna sentou no sofá para o dividi-lo, mais Peter sentou no chão.
Já nervosa, não acreditando que Peter era tão incapaz de ver que ela estava fazendo o possível para que ele podesse perceber que ela o queria. Ela se levantou.
- Você só pode estar brincando comigo. - Peter se levantou rindo e ao mesmo tempo assustado.
- Do que você está falando? - Ele perguntou reprimindo a gargalhada.
- Do quanto você é idiota. Você não percebe?
- O que eu deveria perceber?
- Que eu... - Anna tentou dizer "Que eu também quero você", mais era muito mais facil imaginar do que fazer. Então não conseguiu. - Argh! Esquece... Vou dormir. - Ela disse e saiu batendo os pés. Peter gargalhou quando pode a puxou pela blusa e disse:
- Eu também quero você. - E a beijou mais uma vez. Mais dessa vez sem pausas, sem a deixar escapar, sem deixar aparecer motivos para ela querer ir embora... Sem nenhum motivo além dos dois.


8 de ago. de 2011

Um adeus silencioso / O Poeta e a Cega - Parte O5


Havia se passado algumas semanas desde que Judite morrera. Os dias vinham se arrastando e eram pouco agradáveis.
Anna dificilmente saia de seu quarto... Algumas vezes descia para tomar chá e logo voltava. Peter se perguntava se ela voltava a dormir ou a pensar. Ela vivia... Se é que vivia, como quem estava muito doente. Mal comia, mal bebia... Por entre outros males.
O inverno se aproximava e a temperatura caia visivelmente. As seis da tarde o sol já havia se escondido e o frio chicoteava a pele de quem se arriscava a andar por ai sem casaco.
"Onde deve estar mais frio? Lá fora ou aqui dentro?" Pensou Anna pousando a mão no peito. "... Acho que aqui dentro... O frio que bate lá fora é o mesmo frio de todos os invernos... O que frio que está aqui dentro é o por..."
- Anna... - Chamou Peter em seguida três batidas na porta toc toc toc. Ainda com a mão no peito, Anna sentiu o ritimo do seu coração mudando... Ele estava... Acelerado.
- O que é isso? - Anna perguntou olhando para seu peito. - Como você se atreve a me trair desse jeito?
- Anna, está tudo bem? - Chamou Peter outra vez. Anna se levantou, ajeitou a roupa que estava e abriu a porta.
- Hã...  Oi. - Peter a observou da ponta dos pés até seu rosto.
- Anna...
- Peter? - Peter sacudiu a cabeça e voltou a falar.
- Como você está?
- Como quem perdeu a mãe a uma semana. - Peter respirou fundo.
- Sei que não é fácil Anna, mais entenda... Já se passaram uma semana, você não pode se trancar e viver a base de chá. As coisas não são fáceis, você mais do que ninguém sabe disso. Elas nunca foram e nunca vão ser... São coisas da vida... Eu ainda não entendi e vai por mim, eu tenho certeza que nem vale apena saber. - Anna ficou em silencio como resposta. Ela havia entendido, só não conseguia esquecer, e era isso que a torturava.
- Vou fazer o jantar, tudo bem? - Disse Peter. Anna sorriu... Quase gargalhou.
- Sei... E o que vamos ter para o jantar?
- Espaguete.
- Hum... Eu gosto de espaguete.
- É minha especialidade! Você vai lamber os dedos.
- Eu não como com os dedos.
- Ok. Os beiços. - Eles gargalharam e quando Peter ia saindo ele disse:
- Amanhã vamos a praia.
- Você ficou maluco? Está frio lá fora, vamos congelar, ficar doentes.
- Por Deus, Anna... Quando você vai se permitir viver? - Foi o suficiente para calar Anna. Peter sorriu ao perceber que tinha vencido e desceu para fazer o jantar.
Anna tomou um longo banho, até se sentiu mais leve. Quando terminou de se vestir sentiu o cheiro do espaguete e percebeu que estava com muita fome. Se vestiu e secou seus cabelos. Fez uma trança mal feita, e desceu para poder jantar.
- O cheiro está bom. - Ela disse.
- Não só o cheiro... Estou quase terminando.
- Tudo bem. - Anna desceu as escadas e procurou as cadeiras com as mãos e se sentou. Brincou com os talheres em cima da mesa.
- Pronto. Aqui está. - Disse ele e de repente Anna sentiu o vapor quente do macarrão em seu rosto. O cheiro era tão bom, que ela não pode evitar que seu estomago fizesse barulho.
Ela sabia que estava vermelha, então preferia ficar de cabeça baixa. Comeu tudo que conseguia, comeu tanto que sentia seu estomago dilatado.
- Ai... Fazia tempo que eu não comia tanto. - Peter riu.
- Verdade... Parecia que fazia anos que você não comia... Hã... Direito. - Anna gargalhou e mostrou lingua. Era absolutamente confortavel ficar com Peter e era da mesma forma para ele.
Eles foram para a sala e Anna deitou no ombro de Peter... Enquanto ele descrevia alguns filmes que ele dizia serem mal feitos, ou os comparava com os livros que havia lido, Anna ia adormecendo. Depois de algum tempo Anna dormiu. Bem ali, no ombro dele. Fazendo o coração dele derreter de calor, de medo, de proibição. Ele desligou a televisão somente para ouvir a respiração dela e a deixou dormir ali por algum tempo. Depois a levou para o quarto.
Peter dormiu como a tempos não dormia, calmo, sereno. No dia seguinte quando Anna acordou sentiu o cheiro de chá, ao descer escutou Peter cantarolando e riu. "Que boba eu estou. Rindo porque ouvi meu primo fazer barulho com a garganta" Pensou.
- Ei... Você. Tome seu café da manhã para irmos a praia.
- Então você falava sério?
- Sim. E te levo nem que seja nos braços, então trate de comer logo. Antes que fique ainda mais frio. - Anna obedeceu, a idéia parecia ser tão agradável agora.
Logo eles estavam prontos. Anna pegou uma saia longa que a tempos não usava, e qualquer blusa. Encontrou Peter na cozinha.
- Você está linda. - Disse ele.
- É até estranho você dizer isso. Soa até como brincadeira.
- Por que?
- Eu não enxergo, me visto de qualquer jeito e você diz que eu estou linda.
- Sim... Eu disse que você é linda, não as roupas que você usa.
Chegaram a praia, perto das montanhas, o vento que batia era frio e machucava. Anna se sentou na areia e soltou os cabelos que estava preso na nuca. Tentou fazer uma trança mais o vento não deixou.
- Está frio. - Ela disse.
- Você... É muito exagerada, e não vai sair daqui sem entrar no mar.
- Ah... Eu acho que vou sim!
- Quer ver como você não vai? - Ser dar tempo para que Anna pensasse, Peter a pegou no colo e andou até o mar, enquanto Anna se contorcia e pedia para Peter parar ele gargalhava.
- Peter por favor, para! A agua deve estar um gelo. Peeeeeter. - Entraram na agua. Na verdade ele se jogou, para que ela pudesse se molhar por completa, queria que ela pudesse sentir qualquer coisa que não fosse solidão. Eles voltaram átona. E com um ar desesperado Anna começou a estapear Peter.
- Como você... Eu quase... Eu. - Peter a segurou pelos ombros e lutando muito pra não fazer, ele fez. A beijou, tão intensamente e com tanta vontade que já não sentia frio. Anna não sabia muito bem o que estava acontecendo, mais estava se sentindo tão bem que se entregou ao momento. Pousou as mãos no rosto de Peter e o acompanhou. As mãos que estavam nos ombros desceram até a cintura de Anna a arrepiando.
As ondas batiam delicadamente em suas pernas e o vento trazia os cabelos de Anna para o rosto. Peter abraçou Anna sem parar o beijo e sibilou "Me deixa cuidar de você".

Continua...

5 de ago. de 2011

Decepção O1 - O Poeta e a Cega / Parte O4



- Tia? Tia... Por Deus... Responda! - Peter ficou desesperado, tomou Judite nos braços e a colocou na cama. Ele a chamava mais sabia que ela não responderia. Judite estava morta.
Peter pensou em tudo, principalmente em Anna. "Meu Deus, qual será a reação dela?" Ele pensou... Se sentiu tão desamparado e assustado que começou a chorar. Se sentou no chão ao lado da cama com as duas mãos no rosto e abafou o choro "Não pode ser" ele repetia baixo, inúmeras vezes.
Se levantou e correu até a cidade, levou quase meia hora para chegar lá. Passou pelo vale e não deixou de pensar em Anna assim que ele viu aqueles alecrins. Chegou até a cidade e foi a Igreja, conversou com o Padre que mandaria alguns homens buscar o corpo de sua tia logo em seguida.
Peter não podia ficar muito tempo na cidade... Ele havia deixado Anna dormindo no jardim e se ela acordasse e procurasse sua mãe? Ou se procurasse por ele. Se despediu do Padre e correu de volta para a casa da Anna. Aquela casa... Aquela casa era afastada de tudo, era calma e a área era tão verde. Havia alguns pinheiros tão altos atrás da casa, que pareciam não ter fim.
Algo naquela casa fazia ser aconchegante. Era como passar um tempo fora de casa e voltar no natal, teria biscoitos e leite quente encima da mesa. Sua mãe te entregaria um cachecol e você ficaria sentado no tapete em frente a lareira tomando seu leite.
Entrou na casa de Anna e foi direto para o jardim. Debaixo do pé de laranja estava uma figura de pele branca, cabelos castanhos e olhos pretos. O vestido era rosa claro, o que parecia a deixar ainda mais branca e destacava seu cabelo.
Ele sentiu vontade de desenhar... Embora não soubesse. Mais queria trazer a mesma tranquilidade que aquele sono estava trazendo para Anna.
Se sentou perto dela e a observou por quase oito minutos. Anna foi abrindo seus olhos lentamente e olhou na direção de Peter. "Ela estaria me enxergando?" Ele pensou. Mais se considerou estúpido. É claro que ela não estava o enxergando... Mais era tão confuso ela olhar na direção em que ele estava, como se soubesse que quando acordasse ele estaria ali para cuidar dela. Ela sorriu, mais não por muito tempo. Desfez seu sorriso em questão de segundos e se sentou.
- O que aconteceu? - Ela perguntou. A sua voz estava carregada de medo. - Por favor, não me diga que... - Antes que ele contasse, antes dele siquer ter insinuado, ela soube. Se levantou desesperadamente e começou a correr. Tropeçou em uma pedra que estava perto dos alecrins e caiu. Peter correu até ela para ajudar e ela o empurrou. Chorou tão dolorosamente que o feriu por dentro. O magoava a ver daquele jeito, sentada no chão, com os cabelos cheios de folhas e o vestido que havia se sujado com a terra.
Ele sabia que ela não iria querer ajuda, e ela sabia que ele sabia. Anna se levantou em silencio, bateu as mãos no vestido na tentativa de o limpar e entrou em sua casa. Foi direto para o seu quarto, subindo as escadas como quem não carregava só o seu peso, mais também o peso do mundo.
Depois de alguns minutos os homens que o Padre mandara haviam chegado. Peter os atendeu os levou até o quarto de Judite que ficava no andar debaixo. Eles a enrolaram em um lençol branco e a colocaram dentro de uma carroça, puxada por um cavalo.
- O Padre pediu para dizer que a missa será amanhã de manhã. As nove horas. - Disse um dos homens.
- Tudo bem. Obrigada. - Agradeceu Peter.
Assim que entrou em casa encontrou Anna sentada nos degraus da escada, com o rosto molhado de lágrimas. Ele  a observou por algum tempo e se sentou ao seu lado, ele queria a distrair, mais como?
- Você está bem? - Ele perguntou. Anna deu um sorriso cínico e respondeu.
- E por que não estaria? Foi só a minha mãe que morreu... E o que tem demais? Ela só era a unica pessoa que eu tinha, a unica pessoa que eu amava, a unica pessoa que me importava... - Já não aguentando mais ela desabou  e voltou a chorar. - Então, por que eu não estaria bem Peter? - Ele a abraçou e mesmo ela resistindo, tentando o afastar, ele a abraçou com força. "Eu não vou te deixar" Ele sussurrou para ela e ela cedeu. Deitou a cabeça no ombro de Peter e chorou. Jogou para fora tudo que a sufocava e que não estava a deixando em paz.
Anna respirou fundo e deixou as coisas se acalmarem. Deixou que Peter cuidasse dela naquele momento...
Continua...

4 de ago. de 2011

Expectativas O2 - O Poeta e a Cega / Parte O3


- O chá estava ótimo. - Disse Peter para quebrar o silencio que tomara conta da pequena cozinha. Ele parou e observou o lugar... As paredes brancas, os pratos, xícaras e outras coisas de porcelana lembravam o século XVI. Algumas rosas haviam sido colidas e estavam dentro de um vaso com agua sobre a mesa. A casa tinha cheiro de alecrim, laranja e rosas. Era acolhedor.
Anna estava sentada com a mão direita apoiando o queixo. Suspirou. Devia estar cansada daquilo. Cansada de não ver o tal espetáculo do mundo que ela tanto imaginava. Peter afastou a cadeira lentamente na tentativa de não deixar Anna escutar que ele estava saindo, mais assim que jogou o peso pra sua perna esquerda o assoalho vez um rec que a despertou de qualquer coisa que estava pensando.
Ele imaginou que ela perguntaria onde ele iria, mais para sua surpresa não foi isso que ela disse:
- Vou me deitar. - Ele pensou em pedir pra ela ficar mais pensou "E se ela estiver cansada de ficar aqui comigo?" Então ficou calado. Ela se subiu as escadas e sumiu de vista.
Uma certa curiosidade sobre o jardim surgiu em Peter. Seguiu até o final da cozinha onde havia uma porta branca com a maçaneta suja de barro. Ele a abriu e se espantou com o jardim. Dá ultima vez que ele estivera ali o jardim não era muito grande, pra ser sincero não era nada grande. Tinha um pequeno roseiral vermelho e  pequenos pés de alecrim que nunca cresciam. Agora o jardim estava grande. O roseiral havia ganhado um tom mais forte de vermelho e o cheiro era incrivel. Havia também uma parte somente para alecrins e um pé de laranja que dava uma sombra maravilhosa... Ele notou que debaixo do pé de laranja havia uma toalha estendida no chão, provavelmente Anna deveria passar um tempo ali; ele pensou e continuou andando pelo jardim.
Mais e mais rosas só que não somente vermelhas, tinha também rosas, laranjas, brancas. Ele estava pasmo, encantado, surpreendido, tanto que nem percebeu que Anna estava ali, debaixo do pé de laranja. "Linda"  Ele pensou. Tentou espantar o pensamento, mais ele insistia "Como ela é linda." Sentiu seu coração bater mais forte quando o vento soprou com mais força e desfez a trança de seus cabelos. Ele sorriu, mais não o suficiente pra ela escutar. Sentiu o cheiro das rosas e teve a sensação de que aquele cheiro pertencia a Anna e a ninguém mais.
- Não vi você. - Ele disse. Ela tirou algumas mechas do seu cabelo que o vento tinha levado para seu rosto e deixou atrás da orelha e sorriu.
- Eu imaginei que você estaria aqui.
- É incrível o que você fez com esse lugar. Parece magia.
- Minha mãe me ajudou bastante... Eu amo esse lugar, conheço cada detalhe. É como... É como se eu pudesse enxergar aqui. - Peter sempre sabia tinha o que falar, mais nunca conseguia, por isso ele escrevia. E naquele momento ele queria escrever. Anna o inspirava. Ela carregava tanta mágica em si, tinha tanto pra contar. Ele pediu para que ela o esperasse ali. Entrou rápido e pegou sua pequena agenda. Cheio de idéias, sonhos, historias... Cheio de vida. A segurou pela mão e a levou até a toalha estendida debaixo do pé de laranja.
Ele espirou fundo; como um garoto que espera para ouvir as aventuras que seu avó já viveu. Eles se sentaram e ela o olhava, como se realmente pudesse enxergar. Como se pudesse ver a euforia de Peter e riu outra vez. Sempre que ela sorria os pensamentos dele fugiam, deixavam de pertencer a ele. Então ele engolia tudo aquilo, tanto que sentia seu peito arder.
Peter limpou sua garganta sabendo que se não fizesse sua voz sairia tremula.
- Então? Qual foi a sua idéia? - Ela perguntou.
- Hum... Escrever sobre você. - Ele respondeu cheio de entusiasmo. Anna ficou seria de repente e ele soube que ela iria reclamar.
- SOBRE MIM? Você está brincando comigo? O que você pode escrever sobre mim? "Era uma vez uma menina... Daí ela ficou cega e viveu infeliz para sempre" muito mais muito engraç...
- Tudo bem. - Ele disse colocando a mão sobre a boca dela. Ela se calou e ele continuou. - Vamos falar sobre historias, já ouviu a historia sobre a Iara? Uma sereia que enfeitiçava os homens com o seu canto para os levar para o fundo do mar? - Anna foi abaixando os ombros e voltou a expressão serena do seu rosto. Ela balançou a cabeça querendo dizer não e ele a contou tudo. Não só sobre Iara, mais também sobre Dragões e vampiros, contou sobre batalha de anjos e demônios e Anna estava muito concentrada. Ria, fazia perguntas, que muitas vezes Peter nem sabia responder. Mais não deixava o interesse de lado.
Depois de um tempo Anna adormeceu, ela parecia tão calma, tão serena. Ele se levantou devagar e foi até o quarto. Pensou que deveria dizer a sua tia Judite que Anna estava dormindo lá fora, para que ela não ficasse preocupada, ao chegar no quarto Judite estava caída no chão...
Continua...